© monica march

[fazer o bem sem olhar a quem]

monica march
a panaceia
3 min readFeb 3, 2016

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Tempos atrás uma discussão enorme no Twitter chamou minha atenção: uma jornalista (sic) escreveu um artigo publicado em um blog de um grande portal indignada por existir pessoas que se preocupam em defender os direitos e ajudar animais abandonados ou que sofrem maus tratos em detrimento de auxiliar crianças ou pessoas necessitadas. Manifestações contrárias em resposta ao texto apareceram imediatamente — com as quais concordo de maneira integral.

Minhas perguntas depois de ler o texto, raso e sem argumentos válidos, são:

  • Desde quando devemos criticar o bem desinteressado que está sendo feito por alguém independentemente de qual causa ou de quem é o favorecido? Em palavras mais diretas e claras, se existe alguém fazendo o bem, porque reparar a quem ele é feito? Não seria correto admirar, aplaudir e se inspirar nessas ações para também ajudar — aí sim — a quem bem se entende?
  • O que as pessoas que criticam estão fazendo, na prática, ou seja, EFETIVAMENTE, para ajudar as entidades que defendem aquilo que elas acreditam importante? Estão colaborando para que crianças em orfanatos sejam bem criadas e adotadas, se acham que crianças são mais importantes do que gatos ou cachorros? Estão plantando árvores, venderam o carro e andam de bicicleta porque acreditam que a preservacão do meio ambiente importa mais?

A verdade é que, na maioria das vezes, quem gasta seu tempo criticando atitudes solidárias de outras pessoas, pouco faz pelas próprias ou pelas que ‘acredita’. Aliás, eu arriscaria — sem muito medo de errar — que não faz nada por ninguém.

Eu ajudo instituições que castram cachorros e gatos de rua, ajudo em campanhas de adoção de animais, mas isso não significa que eu deixe de ajudar ou que considere menor a importância das crianças que vivem em más condições. Ao contrário, passei vários meses de minha vida durante muitos anos tricotando gorros de lã que eram doados nos faróis nas épocas mais frias. Formas que encontrei para ajudar a melhorar um pouco o mundo onde eu vivo.

Nunca quis convencer pessoas sobre a nobreza — ou não — de minhas escolhas. Se via alguém ajudando um cego a atravessar a rua, admirava e torcia para que mais pessoas fizessem aquilo pelo mundo. O mesmo acontecia quando via alguém dar atenção a um idoso de rua, uma criança, um cachorro, um gato. Acredito que o valor está na intenção e no gesto, não na quantidade, não na frequência. Tem gente que não pode muito, tem gente que não pode sempre, mas admiro quem, em algum momento, com as suas possibilidades, faz o que dá, mas faz. Realiza. Transforma em ação.

Você lê para velhinhos solitários em asilos? Cuida de crianças que sofreram maus tratos? Abriga, trata e procura por lares para gatos e cachorros abandonados e de rua? Para mim, todas as atitudes tem valor e se cada um escolher a sua causa e fizer algo por ela, o mundo será — acreditem — um lugar muito melhor daqui algum tempo.

Acredito que o erro quando se fala nesse assunto (e talvez em qualquer outro) é se entender o dono da razão. Querer que a sua verdade seja melhor do que a verdade do outro. Criticar a atitude solidária de alguém, querendo que essa pessoa lute por causas que você acredita ser importantes.

O bem é magnânimo. Tenho absoluta certeza de que boas pessoas, se tivessem condições, não escolheriam: ajudariam a todos os seres — humanos ou não — a ter uma existência melhor ou, pelo menos, digna. Mas todos temos nossos limites (de dinheiro ou de tempo) e precisamos fazer escolhas. Focar em um objetivo para realizá-lo de maneira eficaz, eficiente, para fazer a diferença — sem que importe o tamanho desta última. Porque, se existe uma ‘verdade’ em tudo isso, é que cada pequeno gesto de solidariedade, quando somado a todos os outros pequenos gestos, faz diferença.

Escolha suas causas, lute por elas, admire quem faz o que você não pode fazer por outros seres e invista seu tempo com sabedoria. Mas, se você não faz nada disso, por favor, poupe as outras pessoas de argumentos e retóricas hipócritas e cuide bem da sua vida. Isso já dá um trabalho enorme para ser bem feito.

O mundo — melhor — agradece.

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monica march
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ando descalça pela vida • editora do a panaceia ••• i walk barefoot through life • editor of her view