Para os muitos Eus que andam por aí

sabi
a panaceia
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2 min readDec 5, 2018

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Como posso me sentir eu quando tantos outros são eu, quando tantas outras existem e vivem da mesma forma e com as mesmas ideias que aqui nascem e morrem? Nada é real. Tudo são caixas dentro de caixas dentro de caixas. Mentes dentro de mentes dentro de mentes. Não existe passado ou futuro, apenas o presente que se desenrola eternamente, simultâneo e semelhante, totalmente diferente em sua igualdade, mas igualmente diferente em seus ciclos e repetições, e narrativas, e personagens.

Eu olho para fora da janela e tudo acontece da mesma forma desde que estamos aqui, não importa o quanto mudemos. Nosso interior parece todo o interior, e por mais que as histórias não sejam as mesmas, as pessoas são. E por mais que as pessoas não sejam as mesmas, as histórias são. Não sei mais onde começo e onde termino, onde estão minhas delimitações ou onde me diferencio do outro. Parecemos a mesma pessoa, ainda que minha mente se negue a aceitar isso. São milhares de eus andando do lado de fora de minha casa e em cada um deles encontro algo que também existe em mim. E em cada um deles descubro algo novo sobre eu mesma.

E já não sei quem sou. Pareço andar à procura de novas colagens, mas são as mesmas colagens utilizadas por todos. E se tento utilizar uma nova cola, logo ela se dissemina por meus poros, por minhas veias, chega até minhas mãos e é doada ao outro. E novamente me vejo feita imagem no espelho, andando a ver meus reflexos por todo os cantos. E se não sou igual a todos, sou ao menos igual a todos os eus que andam por aí, a todos os eus que também se creem únicos. Não somos únicos. Somos uma grande paisagem, e assim como as flores se repetem na natureza, nós nos repetimos entre nós. E ainda não sei o quanto aceito isso. Ou o quanto não aceito. O quanto me traz calma ou o quanto me deixa sem energias para fazer qualquer coisa.

Se todos são eu, se todos vivem minha história, para que fazer qualquer coisa? Para que atingir um ponto que precisará ser atingido outra vez anos depois? Por que precisamos viver a mesma coisa repetidamente? O que nos prende aqui? O que me prende aqui? E por que me sinto presa…

algo perto de 19/11/2018

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sabi
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o Tempo me esculpe. instagram: @brunacason e @sestraherbalismo. youtube: Papo Pagão