Os patriotas ou os cavaleiros do apocalipse
Os patriotas não se importam com as vidas dos brasileiros: o que é a vida diante dos prejuízos financeiros? Os patriotas desprezam a vida dos mais velhos: por que temos que perder lucros, quando os ameaçados são um monte de gente velha que já não rende força de trabalho para máquina do capital? Os patriotas não andam de ônibus, tampouco a pé: eles buzinam seus jipes importados, fechados no ar condicionado e com máscaras azuis, vendidas nas farmácias que lucram com a morte em massa, por R$10,00 cada. Os patriotas são quase todos brancos. Os patriotas pardos são muito poucos, mas quase brancos de tão alvos em suas Hi-Lux. Os patriotas pretos são apenas uma família descendentes de capitães do mato, retintos pardos de tão embranquecidos pelo carro 4x4 e as alegres estrelas do céu anil de nossa bandeira. Os patriotas não temem a morte do outro: os patriotas são patriotas porque querem os trabalhadores na rua. E por isso eles convocam as massas trabalhadoras no bairro classe média, dentro dos seus carros fechados. Os patriotas não temem os vírus: eles descendem daqueles que para cá vieram e mataram os nativos no primeiro contato, só de espirro e sífilis. Os patriotas não temem a morte afinal, em sua genética, em sua história, seus acúmulos sempre se deram a partir da vida moida dos não patriotas. Daquela gente ignóbil que vive para gerar riqueza para a nação do patriotas. Essa gente estrangeira cujo o sobrenome é o do senhor de quatro séculos atrás. A gente patriota quer os filhos nas escolas, a empregada lavando os pratos e o idoso trancado no quarto. A gente patriota nega tudo. A gente patriota apenas diz sim para a morte, enquanto deita no colo da ignorância e aspira o ar menos pela doença e mais pelo hálito de carniça que há tanto tempo cultivam, sem medo, nem piedade. A gente patriota caminha em seu cavalo sobre os corpos e não teme que os céus logo desabem sobre sua cabeça e a morte visite também suas casas. O Brasil não pode parar.