#4: o fim de mais uma coisa sem começo
Assim que eu me acostumei com os fins eles me são mais confortáveis que os começos. O cheiro de lugar conhecido e o alento de quem sabe não ter mais nada pra passar. É aquilo. Fim e ponto. Após o fim posso começar a viver. É o vício da pessoa de recomeços. O tipo de gente que eu sempre fui. Terminar as coisas só pelo gosto de recomeçar.
A estrondosa confiança, a força no corpo, a coragem restabelecida. A vontade de estar sempre se conhecendo. O alívio de quem atravessou muros, pulou alguns degraus, gozou a adrenalina na barriga, não temeu os ventos arbóreos, queimou com a luz solar, ouviu o murmúrio dos lobos, caiu em terras inférteis, conheceu os horários do porto, navegou e navegará lugares desconhecidos, sobrepujando as espadas da língua dos que falam demais. Apreende para si o silêncio. No meio de uma encosta, teme a fúnebre solidão mas ama-a, aprende a amá-la, seu rosto, a caricatura suave, o modo como se aproxima, o deslizar do corpo, pedindo espaço na cama, vem, aconchega-se, abraça o corpo solitário, emudece a cabeça agitada, e dorme em paz.
Após a viagem exaurida entre começo e fim, nos ombros do recomeço há descanso. Lugar onde a cabeça jaz sadia, a reclinação suave aconchega a respiração do alívio. Um, dois, três, inspira, devagar, conta, mais uma vez, três, dois, um, expira…
Adeus. De novo.