o momento psicanalítico
alguma noite da semana passada
tive um sonho e era você
outro dia cochilei a tarde e tive outro sonho
era você novamente
se eu disser que o tal psicanalista explica?
éramos nós dois sentados na lotação que se movimentava e pulávamos junto às lombadas e eu tentava o tocar ali mesmo atrás dos senhores que vestiam camiseta de time e falavam alto quando olhavam pra trás me interrompiam e você tinha olhos amedrontados tinha medo de alguém nos pegar ali
saindo da perua nos separamos você tinha que encontrar alguém que não podia me ver
o movimento, o psicanalista [talvez] diria:
é o ato sexual propriamente dito o resto é experiência é significador de figuras que passaram pela vida
figuras importantíssimas que terão sua identidade resguardada por essas palavras soltas sorrateiras somadas à enorme sensação de tédio que tem causado desespero-medo nas convicções que eram quase seguras mas hoje se dispersam junto aos ventos que entram na janela do quarto, ventos que passam pelos pés descalços soltos sorrateiros que acomodam a enorme sensação de tédio que tem causado dores de cabeça dores na vista tomando conta de um corpo em fuga e trêmulo que perdeu o próprio nome nas tardes infinitas desgastadas por pensamentos aleatórios, desde um imóvel pra morar até a viagem pra Roma que nunca jamais acontecerão, já que o corpo em fuga se estende no chão gelado e pegará uma gripe assim uma gripezinha pra tomar um cimegripe e dormir descansar mas ao dormir sonhar novamente
com a lotação o movimento
e o psicanalista entra[ria] de novo