Vivendo nos Estados Unidos: sonho americano?
Para nós brasileiros, ir para os Estados Unidos é o sucesso máximo, mas viver ali pode não ser uma decisão tão óbvia assim.
Depois de um mês e meio no México, que apesar da influência do país vizinho é um lugar onde você é muito bem recebido se for estrangeiro, mudar para os Estados Unidos foi uma experiência quase que oposta — não muito diferente de outros países desenvolvidos. As pessoas estão muito focadas em si mesmas, o que ajuda a entender como algumas coisas funcionam por aqui.
🇺🇸 Estados Unidos, América do Norte, meu 28º país
- Língua: Inglês
- Cidades onde estive: Miami (Florida), Nova Iorque, Chicago (Illinois), Austin (Texas), San Diego (Califórnia), Seattle (Washington)
- Tempo total: 1 mês e 1 semana
Viver é competir
O clima é de competição — e isso é o tipo de coisa que não se vê por fotos — mas em alguns lugares como Nova Iorque, as pessoas estão a um fio de cabelo de começar uma briga, algo que foi intensificado com a polarização política no país, parecido com o que acontece hoje no Brasil.
Até mesmo os imigrantes que aqui vivem começam a adotar essa mentalidade e se tornam mais fechados — ainda que os afroamericanos, latinos, e asiáticos que aqui vivem sejam mais receptivos que os americanos. Com eles, é mais difícil: precisam de um tempo para pegar confiança e fazer amizade, e até que isso aconteça, não são as pessoas mais simpáticas que você vai conhecer.
O fenômeno das "car cities"
Depois de dezenas de países, os Estados Unidos foram o primeiro que eu vi claramente um novo tipo de configuração de cidades, pensadas para carros. Nelas, com exceção dos centros e zonas turísticas, as cidades americanas costumam ter ruas largas e desertas, sem comércio para pedestres, estacionamentos enormes por todos os lados, e restaurantes fast food que depois das 22h só atendem a carros pelo drive-thru. Simplesmente não te atendem se não estiver num veículo. Por causa disso, algumas cidades tem um sistema de transporte público ruim, que por sinal nunca estão cheios.
As zonas residenciais não são comunidades, é cada um no seu quadrado. Quando os americanos querem se divertir, eles vão para o centro com seus carro e o mesmo grupo de amigos que tem desde o colégio para passar a noite em algum bar conversando e bebendo. Mas existe outra maneira de se integrar, que também é uma obsessão nacional: o trabalho. Se você se mudar para os EUA e trabalhar localmente, vai ter a oportunidade de começar um networking e isso realmente funciona aqui.
Lugar pra fazer dinheiro
Além de permitir socializar, trabalho é o principal motivo para morar nos EUA. É o país onde você pode encontrar os melhores salários e acumular dinheiro mais rapidamente. Mas pode não ser fácil conseguir uma vaga, e mesmo nesses casos, as restrições de imigração dificilmente vão te permitir ficar em definitivo. O que não é ruim, os Estados Unidos não são um lugar para se aposentar.
Isso porque diferente do Brasil e de países da Europa, há pouca assistência do governo. Você não vai ter atendimento gratuito (nem barato) em hospitais — até mesmo as vacinas são pagas. Nem educação gratuita. Nem aposentadoria pública. A não ser que você já seja rico, é um país para morar enquanto se está jovem e saudável, fazer muito dinheiro, e depois se mandar para um país com custo de vida baixo ou que ofereça mais segurança social. É isso que os americanos fazem. México, Colômbia, Costa Rica, Canadá, e o sudeste asiático já tem uma grande população de americanos aposentados.
Diferenças regionais
Eu decidi conhecer algumas das cidades preferidas de imigrantes em diferentes regiões dos Estados Unidos. Algumas impressões de cada uma:
- Miami e o estado da Florida é dominado por imigrantes latinos, dá até pra viver falando só espanhol. Por estar mais ao sul, faz mais calor.
- Nova Iorque é sem dúvidas a cidade mais interessante dos EUA. Fugindo do padrão, tem um amplo sistema de transporte público e muita coisa pra fazer e visitar. Um dos custos de vida mais altos do mundo.
- Chicago também conta com um bom sistema de transporte público, e é uma cidade com arquitetura muito charmosa, mas faz um frio terrível.
- Austin é um dos maiores exemplos de "car city" que eu vi, não tem tanta coisa pra fazer, mas está crescendo muito — e o estado do Texas tem muitas oportunidades de trabalho na área de tecnologia.
- San Diego é mais tranquila, muito turística, e tem aquele clima litorâneo da Califórnia, mas também é uma cidade que requer carro.
- Seattle é um polos tecnológicos dos Estados Unidos, onde ficam os escritórios da Microsoft, Amazon, Nintendo e outras. Tem custo e qualidade de vida elevados.
Comida e turismo
Nós brasileiros já estamos bastante familiarizados com a comida americana — é o país do McDonald's, Burger King, Starbucks, KFC, Pizza Hut, Subway. E os fast foods acabam sendo uma das opções mais baratas para comer. Mas dependendo da cidade que você escolher ficar, não vai ser difícil encontrar comida brasileira. Difícil e caro vai ser se você quiser comer comida saudável e não estiver disposto a cozinhar você mesmo.
Morar nos EUA também é ter oportunidade de conhecer um país com muita variedade de turismo: a arquitetura de metrópoles modernas como Nova Iorque, as apresentações da Broadway, as praias da California, os casinos de Las Vegas, os parques temáticos na Flórida, e muito mais.
- 👍 Morar nos EUA é para quem gosta de: andar de carro, viver em função do trabalho (e ganhar muito dinheiro com isso), praticar inglês, fazer compras, ter muitas opções de culinária e turismo.
- 👎 Não recomendo morar nos EUA para quem: gosta fazer tudo andando ou de transporte público, não gosta de frio, não sabe falar inglês, precisa de cuidados médicos, prefere ter equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Pretendo voltar aos EUA no futuro para conhecer cidades como Washington, Los Angeles e San Francisco, e definitivamente visitaria Nova Iorque outra vez, de preferência no verão. Agora sigo viagem para o Canadá 🇨🇦.
