Monstros SA

Renata Kotscho
Mortas Vivas
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5 min readJul 3, 2020

Acabou o primeiro semestre de 2020 e Jair resolveu fazer uma espécie de festa da firma na live de hoje. Eu tomei um susto quando começou, pensei que ou tinha dado um bug com várias lives sobrepostas ou que eu tinha bebido demais e estava vendo dobrado.

Foi uma verdadeira aglomeração. Além de vossa excremência e da intrépida de libras Elisângela, Jair ainda convidou outros 5 parças, os funcionários do mês. Vamos a escalação: à esquerda do presidente, o tucano Rogério Marinho, Ministro do Desenvolvimento Regional. Á direita o Pedro Guimarães e seu indefectível crachá da CAIXA. A turma do fundão era ainda melhor: O sanfoneiro presidente da Embratur, o homem do fundo do mar, o secretário da pesca Jorge Seif e um médico cirurgião plástico num rolê aleatório chamado Régis Ramos.

Casa cheia, time completo, bola rolando.

Primeiramente o sanfoneiro faz uma paródia e assassina a música Riacho do Navio de Dominguinhos com os versinhos “que o presidente Bolsonaro levou rio ao Ceará”, numa tentativa de homenagear a obra mais reinaugurada da história deste país: a transposição do rio São Francisco.

Gilson também estava lá para falar “de um plano muito ousado que está sendo posto em prática” e é um dos xodós presidenciais: afundamento de navios em frente a complexos hoteleiros para prática de mergulho de esplendor, caça submarina e outros sonhos másculos (que eu nem gosto de lembrar pois me veem à cabeça a imagem da ppk presidencial em roupa de mergulho).

Passa então a palavra ao Pedrão Guimarães da CAIXA que aborda um dos meus temas preferidos: o mundo maravilhoso do cheque especial no governo Bolsonaro: 1.8% ao mês. U-lá-lá. Uma pechincha! “Era para vir dos bancos privados, debocha Jair, mas está vindo de um banco público, nunca vi nada parecido”. (né?)

Mas quem tem boas novas mesmo é o nosso Netuno da Pesca. Ele está fazendo uma revolução digital silenciosa no setor com o mapa de bordo digital, a carteira de pesca amadora e a carteira de motonáutica para prática de jet-ski. Tudo des-bu-ro-cra-ti-za-do, sem complicação.

Jair, claro, não perde a oportunidade de falar do seu sonho de desenvolver o turismo de Jet Ski no Vale do Ribeira.

Em seguida emenda com um conto da Cloroquina, sobre a médica Raissa Soares. A dôtora cloroquiner ganhou notoriedade após enviar um vídeo ao presidente reclamando da falta de hidroxicloroquina em Porto Seguro. Esse vídeo viralizou e foi seguido de uma fakenews que dizia que o governador do PT teria demitido a médica que fez a denúncia. Balela. Mas Jair “conversou com o general Pazuello que prometeu enviar 40.000 doses de hidroxicloroquina que vão chegar lá em Porto Seguro, e eu espero que a dôtora Raissa possa ir até o aeroporto para receber”

E mudam de assunto para o ciclone-bomba o qual o presidente confessa que “nunca tinha ouvido falar”…”mas o Dr Régis, um amigo nosso médico vai estar conosco nessa missão de sobrevoar Santa Catarina” (como um cirurgião plástico em um helicóptero poderá ser útil às vítimas de um ciclone, não me perguntem.).

O sanfoneiro conta então a notícia mais relevante da morta, uma doação de 20 cavalos mangalarga marchador mansos para a primeira dama Micheque. O presidente agradece mas diz que “a princípios esses cavalos devem ir para a Polícia Militar” (Ui*)

E voltamos a falar do epicentro da política nacional, novamente do grande Vale do Ribeira, agora para dizer que o presidente irá visitar a pedra fundamental da construção de uma ponte na região. (sim, em plena pandemia, Bolsonaro irá se deslocar para São Paulo para visitar a pedra fundamental de uma ponte, entre outras aventuras). Mas o presidente reclama que nem dá gosto ir visitar os lugares “porque toda vez que juntam umas pessoas e eu estou sem máscara eu sou massacrado por uma tal rede de TV”

Vossa excremência fala então do PL das fakenews e do peso da sua caneta bic “cabe a mim sempre a possibilidade de veto. Sou extremamente favorável a liberdade de mídia, mesmo essas tradicionais que vivem dando pancada em mim o tempo todo.” e tenta jogar um beijinho no ombro pras inimigas “tão batendo tanto, mas eu só tô crescendo, então podem continuar batendo, sem problema nenhum”. (talkei?)

Falou-se também de outros assuntos de extrema relevância que nenhum brasileiro pode deixar de saber: “do empréstimo dos pátios da nossas bases aéreas, para que os aviões das companhias aéreas possam ficar lá parados sem custo.”, “da venda direta de combustíveis das usinas de etanol para os postos de gasolina” e da volta às aulas em julho nos colégios militares.

Passa-se então para o assunto que impedirá que machões batam na patroa e nos filhos durante a pandemia: o futebol.

O presidente pede perdão ao seu ídolo Felipe Melo, o bad boy do Palmeiras por estar vestindo a camisa do Flamengo, e confessa estar empolgado com a sua mini revolução pessoal no esporte através da MP do Futebol “isso é concorrência, isso é mercado, isso é maravilhoso” (acorda, Alice).

Abre-se então novamente para perguntas dos “jornalistas” do programa pingos nos iis da Jovem Pan. Augusto Nunes (todo empolgadinho já que o seu nome foi escolhido como homenagem ao cachorro branco que a familícia afanou esta semana) pergunta ao Rogério Marinho qual das reformas ele acha a mais prioritária no momento?

Jair sopra que é a tributária e conta uma história de superação pessoal “quando eu participei de um salvamento por acaso, sempre acontece comigo essas coisas, eu vi aquelas duas japonesinhas de 15, 16 anos entrando no mar e pensei vão se afundar. E nós tiramos as duas meninas de dentro da água. Foi então que eu tive a ideia de fabricar um cubo. Um retângulo de neoprene para salvar vidas. Eu já era deputado federal, mas era só arranjar a minha esposa ou alguém (de laranja vossa excremência entende, podia ser o Queiroz), mas a carga tributária é tanta que eu desisti, esse é o grande problema do Brasil” .(é ou não é um Messias?)

Chega então a vez do Fiuza fazer uma pergunta sobre o PL das fakenews

Para o presidente todo o problema é o “politicamente correto” (ó grande mal que assola a humanidade) “não podemos nos render ao politicamente correto, outro dia falaram em racismo reverso, nem sei o que é isso. Falaram assim, que quando o cara fala que não é racista é porque ele é racista, confesso que está difícil viver no país assim” (é vitimização que fala?).

E ele continua “Quem não gosta de uma boa piada? Eu gosto de brincar com nordestino aqui, com gaúuucho, com goiano que forma dupla sertaneja. Você não pode mais fazer essas piadas”…e do racismo pulamos para a homofobia.

“Agora estão me processando porque me perguntaram por que eu não iria à parada do orgulho gay e eu respondi que era porque eu acredito em Deus, na família e nos bons costumes”. (filho meu participar de rachadinha tudo bem, mas namorar barbudo nem pensar).

Pra encerrar Jair comemora a audiência, 80.000 nos seus canais e 90.000 na Jovem Pan “obrigado a todos que abrilhantam a nossa humilde live, vão agora assistir o final dos pingos nos iis. Assistam porque é um programa com isenção absoluta e eu fico muito orgulhoso que exista um programa assim (jornalismo chapa branca raiz mesmo, com isenção absoluta).

“Pessoal, obrigada pela oportunidade. No sábado estaremos sobrevoando Santa Catarina e na semana que vem teremos o Tarcísio aqui falando sobre Ferrovias (Piuîiiiiii! Glória a Deux! Seja pangaré ou mangalarga marchador, costume bão é levar o pibão).

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Renata Kotscho
Mortas Vivas

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine