Selva!

Renata Kotscho
Mortas Vivas
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11 min readMay 28, 2021

Enquanto eu estou aqui tentando manter o decoro nas redes sociais, num processo de elevação espiritual que me permitirá voltar como monge budista (ou o próprio Jó), na próxima encarnação, Bozocida veio para a live de hoje como full macho-man orgulhoso de si mesmo.

Teve de tudo o que você pode imaginar: nióbio, grafeno, fosfoetanolamina, motominions, raiz de saracura, viagra, chupar picolé e até soldadinho baby beef, como prefere a Capitã Cloroquina (essas dotôras…).

Livre, leve e solto, Bozocida conduziu solo a live de hoje…Então segura na mão de Deux e vamos lá, por que como bem disse o Papa “esse país não tem salvação, sobra cachaça e falta oração”. (ou seria o contrário?).

A morta de hoje foi transmitida direto do 5° Pelotão Especial de Fronteira Maturacá, no Amazonas, próximo a São Gabriel da Cachoeira e da Reserva Ianomami. Havia dúvidas se o sinal iria funcionar, mas para sorte de vocês, e meu azar, a transmissão não caiu (só ficou bem lenta, como mostra a foto).

Verdade seja dita, fazia tempo que o capita estava querendo <3 pernoitar <3 na selva como nos velhos tempos e finalmente descolou um mata-burro ou, vá lá, uma pinguela de 18 metros para inaugurar na região. Detalhe: a grande obra já tinha sido inaugurada em março…(É como diz o ditado né amore? Quem quer arruma um jeito, quem não quer, arruma uma desculpa).

Feliz da vida, o presida já abre a morta exaltando os bozoindios emos bombados (perdón, Dios) que conheceu na viagem “Na comunidade dos Balaios o covid chegou? Sim, chegou. Mas morreu alguém? Não, não morreu ninguém”.

E ele explica: “E isso foi antes da vacina…eu perguntei para os índios se eles tomaram alguma coisa, e eles contaram que tomaram chá de carapanaúba, de saracura e de jambu.” e Bozo argumenta ”tem comprovação científica? Não tem, mas os índios tomaram isso daê”.

E dá outro exemplo: “Entre os Ianomâmis o covid também chegou e lá morreram 3"…mas minimiza “com certeza eram bem idosos e com alguma comorbidade”.

Bozocida então desafia: “A CPI deveria chamar os índios para ouví-los, afinal também tomaram algo sem comprovação científica.” (é isso mesmo, ele comparou a política de saúde pública do governo federal que produziu, distribuiu e incentivou a prescrição de medicamentos sem eficácia comprovada, com indígenas isolados tomando seus chazinhos de plantas medicinais.)

Passa então a defender o seu santo remédio sem dizer o nome do dito cujo, com medo que o Facebook ou o Youtube derrubem sua transmissão: “tomei aquilo e ponto final”…”o remédio que eu ofereci para a ema”…”deixar bem claro que o que eu tomei o pessoal aqui toma direto, sem receita médica, para combater malária”…e conclui “não mata pessoal”…”eu tomei e no dia seguinte estava bom”

Em seguida parte para cima do Senador Omar Aziz, presidente da CPI da covid (e meu futuro vizinho no céu dos mais pacientes)…”ele apresentou um projeto de lei, o PL 1912/21 que tipificava como crime a prescrição médica sem comprovação científica”…”Prescrever aquilo que eu tomei e fiquei bom, segundo o senhor Omar Aziz, seria crime”…”Parabéns, Omar Aziz, que vergonha, hein?”

E apela para o corporativismo médico: “são 500 mil médicos no Brasil e esse é o presidente da CPI? Essa é a nossa CPI do Covid? Querem criminalizar a medicina? O médico prescrever um alento, uma esperança para o seu paciente, é crime?” (não seria melhor um padre se o objetivo é dar um alento?)

E desafia “não quero nem discutir como era a saúde aqui no seu estado na época que o senhor Omar Aziz era governador”…e cuestiona “será que o senador não tem uma assessoria para alertar que não pode dar três anos de cadeia para um médico que está buscando minimizar a dor do seu paciente?”…e tenta lacrar “pelamordedeus Omar Aziz, encerra logo essa CPI e vem aqui para o seu estado,… vem sentir o cheiro do povo como eu sinto”. (uLula, você criou um monstro…)

Continua desafiando a CPI: “Por que vocês não convocam o Malafaia?”…”não querem tanto saber quem é que me aconselha? Eu falo como o Malafaia quase todos os dias”…”Estão com medo do Malafaia ou estão com medo dos evangélicos?” (sim, “cristofobia” is the new ~não gosta de pobre em avião~)…e encerra “Convoca o Malafaia, CPI, é um pedido meu!” (é tudo tão bizarro que a gente não tem nem o que falar…)

Mas chega de bad vibes, Bozocida muda de assunto e volta a falar das maravilhas na floresta e do batalhão onde irá pernoitar, e ele já escolheu o seu preferido:

“O tenente-chefe aqui é da turma de 2017…tô ficando velho, pô, 40 anos depois da minha turma”…(ah, o amor não tem idade)…Bozocida então se declara “meu coração bateu aqui como se eu fosse de novo um jovem como você”…tem mais…”E ele ainda é solteiro, imagina você, solteiro aqui na selva. Ou imagina você, recém-casado vindo morar aqui” (rs)…”mas o amor supera tudo, especialmente o amor pela pátria” (Ownnnn, chéri)

Bozo fala então, rapidamente, das grandes boas novas da semana “o país está na zona livre de febre aftosa, sem vacina”…”a posse estendida de arma ajudou a diminuir o roubo no campo”…e por fim, fala do seu xodó, o rolê com os motominions: “Não sei quantas motos tinha no Rio de Janeiro, falam, em 20 mil, 30 mil, não sei, mas foi uma coisa excepcional”

Segue a narrativa que o Palhazuello pretende usar para tentar livrar sua cara de pau-brasil por ter praticado crime militar: “Foi um encontro que não teve nenhum viés político…até porque eu não sou filiado a nenhum partido político…foi uma manifestação espontânea de apoio ao Presidente do Brasil.”…”não tinha bandeira de partido e não tinha bandeira vermelha com a foice e o martelo”…”só tinha gente patriota de verde e amarelo com as cores do país” (talkei?).

Mas é claro que sempre há uma ~mortandela~ para cada manifestação espontânea e Bozo dá a boa notícia: “em todas as novas concessões, ou durante os períodos de renegociação de novas concessões como no caso da Dutra, teremos pedágio zero para os motociclistas”…”Para as outras estradas eu já pedi para o Tarcísio, aquele feio que estava na minha garupa, e ele vai tentar negociar pedágio zero em cada estrada”. (bem feito pra você, Tarcísio)

Sobre novos encontrinhos, Bozo anda com seu planner 2021 debaixo do braço. Nada confirmado ainda, mas as cidades mais prováveis para receber os próximos rolês motominion são: Porto Alegre, Belo Horizonte e se não der certo nas capitais, Chapecó.

Volta então a se defender das acusações que recebeu na CPI: “Curiosidade aqui, essa semana a Índia bateu de frente com a Pfizer, porque a Pfizer tem um contrato meio pesado, eles não querem se responsabilizar por efeitos colaterais”…”Eu não poderia ter comprado antes, obviamente”…”imagina se a Anvisa não aprova, eu compro a vacina e começa a dar problema, aí iam me criticar porque eu comprei, paguei e joguei dinheiro fora”.

(Aqui acho que é importante detalhar um ponto: Os fabricantes de vacinas começaram a procurar os governos quando os estudos clínicos de fase 3 estavam demonstrando resultados promissores e a aprovação pelas agências era uma hipótese bastante provável. Outro dado é que a vacina da Pfizer, a mais cara de todas, foi oferecida ao governo brasileiro por 10 dólares a dose. Quanto você pagaria? O governo acabou pagando 12 dólares porque demorou para fechar o acordo, mas ainda assim é uma pechincha, não acham?. Para comparar, uma diária de UTI não custa menos de 2 mil reais, já o preço médio de um enterro fica em cerca de 3 mil em São Paulo. Sem falar que teve brasileiro que gastou meio milhão de bidens para trazer a família para virar jacaré nos EUA).

Passa então a falar de economia, mais especificamente de inflação: “o preço da carne está caro? Está. A gente sabe que está caro, mas eu não vou fazer igual a Argentina que proibiu exportações. Aqui não vai ter proibição de nada, aqui é livre mercado” (ueba!)

O esquema aqui é no subsídio: “Estamos vendo um novo problema para o produtor de ovos, porque subiu o preço do milho, logo vai subir o preço do ovo porque a galinha come o milho e depois vai subir o preço da galinha”…”o que nós estamos fazendo? Nunca a CAIXA emprestou tanto dinheiro para o produtor agrícola quanto agora com o Pedro Guimarães”…”antes era só o Banco do Brasil que emprestava, mas agora a CAIXA empresta também”. (vai que é sua, Pedrão, que ómí.).

Já os invisíveis…”o vendedor de biscoito Globo na praia, o pipoqueiro do estádio de futebol, o vendedor de água no sinal” e o sorveteiro com QR code no isopor (esse não, rs)…todos foram socorridos pelo auxílio emergencial, mas Bozo adverte “a nossa capacidade de endividamento está chegando ao fim”.

E compara a dificuldade do governo federal em conseguir empréstimos com a do cidadão comum “se você acha que tem que se endividar, pega dinheiro no banco, pega com agiota, pega emprestado de algum parente” (oxe)

Parte então para cima duLula “eu estou vendo aqui um candidato ladrão falando que vai dar 600 reais quando for presidente” (e imita a voz duLula)…”então por que não deu lá atrás? Por que não deu quando era presidente?”…”mas aquele cara se não mentir vai falar o quê? Se quebraram o Brasil praticamente?” (e eu que jurava que o FHC que tinha quebrado o Brasil várias vezes, hehe).

E se entrega “A gente vai para o nordeste e só falam que é obra do Lula…ops, falei o nome dele aqui”…”mas ele não fez a transposição das águas o que ele fez foi a transposição da grana”.

Fala então das suas grandes obras: as pontes de Madison, ou melhor, do Tarcísio…”Tinha balsa que cobrava 2.80 reais para você atravessar a pé”…”pelamordedeus, se fosse eu, iria nadando”…(ui*) e comenta “não tem preço ser recebido pela população como eu sou recebido”…em seguida alfineta “recomendo aos senhores governadores que visitem de vez em quando algum município do seu Estado, porque eu sempre estive no meio do povo”.

Volta então a sua narrativa “porque ninguém aguenta mais os loquidauns e essas coisas de isolamento”…afinal, “todos vamos morrer, lamentamos todas as mortes, mas quem morre não vai sentir”… dá o seu testemunho: “Quando eu sofri a facada do Adélio e quase morri, eu não sabia o que estava acontecendo comigo”…e arremata: “eu já falei que eu sou imorrível e só Deus tem o poder de tirar a minha vida”.

(No fundo o argumento do Bolsonarismo é esse mesmo: enfrente o covid com coragem e de peito aberto, porque quem decide a sua hora de morrer é Deus, talkei?)

Vem então a parte que eu acho mais perigosa da morta, sobre as suspeitas que ele coloca a respeito da urna eletrônica e a sementinha de golpe que planta caso perca as eleições:

“Nas últimas eleições eu tenho certeza que eu tive muito mais votos”…”eu não acredito que os outros tenham chegado a 45% dos votos”…e finaliza “Bia Kicis, contamos com você para a aprovação do voto auditável”

(Bia, para quem não conhece, é a deputada bozonarista-tia-do-zap que hoje controla a presidência da mais importante comissão da Câmara, a CCJ, de Constituição e Justiça.)

Em seguida, o jornalismo isento da Jovem Pan, representado por Augusto Nunes, pergunta se a pinguela inaugurada no Amazonas teria relação com uma das maiores reservas de nióbio presente na região. (imaginem se fosse jogo combinado?).

Jair responde a ~pergunta surpresa~ de maneira pseudo-humilde: “sobre o nióbio, caberia um debate com o ministro Marcos Pontes”…”mas quando eu estive no Japão, comprei umas bijuterias de nióbio e paguei mais de 2 mil dólares, com os impostos”…”esses 2 mil dólares saíram do meu bolso, doeu”…e mostra como é comedido:

“Não usei meu cartão de crédito particular até hoje, eu posso gastar até 24 mil reais por mês sem ninguém perguntar nada, posso comprar dólar para guardar em casa, posso comprar tubaína..posso comprar até picolé”…

E parte para o ataque para cima do intérprete de libras: “você chupa picolé?”…“você gosta de picolé?”…o moço fica sem graça e Bozo argumenta: ”é uma pergunta apenas aê, nada demais” (como é grosseiro, credo).

Volta a falar então da super bateria de nióbio e grafeno, que nos seus sonhos dourados farão o Brasil e os nossos irmãos caminhoneiros auto suficientes para viajar pela Banania.

Mas enquanto isso não acontece, o micto promete ir até o SFT para que os governadores definam um preço fixo de ICMS sobre os combustíveis. Ele quer mostrar quanto ozinimigos cobram em cima do preço na bomba…e complementa “tem que quebrar o monopólio das refinarias também, mas cada vez que eu falo disso vem artilharia pesada para cima de mim”.

Em seguida, manda um ~tratamento precoce~ contra uma treta que ainda nem foi publicada: “A revista Veja parece que fez uma matéria sobre um primo falecido meu, estão mexendo até com a honra dele, tem que respeitar os mortos, pô!” (pensa num grupa da família animado no Zap)

Para encerrar fala do Palmeiras, esse time que só me traz alegrias: “O Palmeiras está ganhando de 2 a zero agora do Universitário, vamos assistir e ver como fica o segundo tempo”…”eu já reclamei com o Felipe Melo porque fomos tri vice, que até parece o Vasco” (rs)…”Mas agora vamos ser campeões do Brasileiro, da Libertadores e da Copa do Brasil” (Sen-or…fizemos mais 4 no segundo tempo e o jogo acabou 6x0, placar do tamanho do meu azar no amor)

Já Bozo garante que, apesar dos pesares e das pressões ambientais, “mais cedo ou mais tarde vamos conseguir também explorar a floresta agregando valor” (vai ter até champanhe que pisca…).

Afinal, segundo o micto: “tem países fazendo reservas estratégicas de nióbio”…por isso, o importante é “tirar esse projeto da prancheta e botar nas prateleiras produtos que podem render mais de 1 trilhão” (hahahaha bozinaristas contam de trilhão em trilhão, né? Delícia*)

Mas a cereja do bolo foi mesmo a raiz de saracura, também conhecida como o viagra da Amazônia. E como o micto não é dado a sutilezas, lá vai:

“Vocês sabem como o viagra foi descoberto? Foi por acaso também, sem querer”…”se bem que disfunção erétil não é doença”…”Ou você acha que é doença hein, Augusto Nunes? Zé Maria? Fiuza? Isso é uma coisa que ninguém assume, né?

E com uma raiz de saracura na mão, daquelas de arrepiar quem vê “tênis” em tudo (né Mayra com Y?), Bozo passa a defender a Fosfoetanolamina sintética (isso mesmo coleguinhas médicos):

“Não vou entrar em detalhes se dá certo ou não dá, mas foi aprovado meu projeto no parlamento…negar uma fosfoetanolamina para uma pessoa que está com câncer em estado terminal é uma desumanidade”…”Deixa o cara tomar, que seja um placebo, pelo menos dá uma esperança na cabeça dele para segurar. Alguém sabe o que é ver a morte do lado como eu vi?”

(hein? Por que então não aprovar a maconha medicinal que comprovadamente aumenta o apetite de pacientes terminais de câncer que sofrem de desnutrição?)…

Mas ele encerra: “os Ianomâmis, assim como os Balaios, tomaram chá de raiz de saracura aqui e eu não sei se foi uma coincidência ou não, mas eles escaparam do covid”…e vamos para um ditado popular:

“Pior do que uma decisão mal tomada é uma indecisão”…(humm)

”Você pode muito bem tomar um chá disso aqui e curar, ou não curar. Se não curar? Vai para o beleléu” …”mas também se você for seguir aê o protocolo Mandetta do fica em casa e depois vai para o hospital, pelamordedeus, para ser intubado”…”então intuba logo e fica num canto aê”

Enfim, encerra: “Muito obrigado pessoal, estou aqui com o privilégio de estar dormindo no coração da amazônia, até quinta feira que vem, se Deus quiser”

(Levou o travesseiro da nasa para o acampamento? Glória a Deux! Lavem o pibão, tomem cachaça e façam uma oração)

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Renata Kotscho
Mortas Vivas

Médica formada pela UNICAMP, especializada em Medicina Estética pela American Board of Aesthetic Medicine