O Caminho da Cruz

Testemunho Mosaico

Thiago Morais
Movimento Mosaico

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Lembro de discutir bastante com o Pijama sobre as definições de riquezas e pobrezas enquanto tudo ainda estava em estado embrionário. Mas concordei plenamente em que devemos ampliar nossos conceitos de riquezas e pobrezas para um amadurecimento, um crescimento de um corpo que a muito só vem envelhecendo e deixando para trás questões que nos impedem de tratar uns aos outros e também nos ajudar a saber quem somos, desenhando nossa identidade e andar de modo digno de nossa vocação.

Quando em uma reunião com a equipe de culto para definir o que fazer durante a páscoa estávamos todos de certa forma angustiados em como poderíamos fazer algo para igreja que trouxesse o real sentido do natal. Cremos que a páscoa é a data mais importante do calendário cristão por tudo que representa e por isso queríamos fazer algo profundo e impactante, sem glamour ou estrutura de não condizem com nossa realidade, queríamos algo singelo, palpável e tocante. Foi ai que em meio a um brainstorm lembrei de uma riqueza artística que o Carlão tem.

Carlão é um amigo de longa data que já morou no quarto que hoje dormem meus filhos, por isso minha sensibilidade a sua arte é enraizada. Sua riqueza nesse contexto é uma caligrafia expressiva e emocionante, uma riqueza adquirida a custo de muito estudo e esforço, conheço todo seu desenvolvimento pois vi com os próprios olhos seus primeiros exercícios.

Conhecendo seu testemunho de conversão que começou com a contemplação da via cruz da igreja católica no interior do estado de Goiás liguei as 2 pontas. Vamos fazer uma exposição de arte onde o Carlão faria quadros tipográficos da via cruz. Todos na sala ficaram excitados e concordaram.

Ao sair da reunião liguei para o Carlão para intimá-lo para tal desafio. Porém enfrentamos um problema, o Carlão rico em atributos artísticos de caligrafia e bíblico/teológico para fazer quadros que representam o caminho que o Jesus fez desde sua prisão até sua ressurreição, estava pobre em recursos técnicos (computador no caso) e em produção gráfica. Pobreza essa que minha riqueza corresponderia, pois tinha vários recursos técnicos e conhecimento de design e produção gráfica que o Carlão não tinha e ai sim, começa o fluxo de riquezas que qualquer pobreza deixou de existir.

Desenvolvemos juntos 8 quadros que contam o caminho da cruz e criamos um ambiente de reflexão, meditação e oração para que as pessoas pudessem contemplar os quadros e se permitir imergir naqueles momentos tão importantes da história. Vimos pessoas realmente quebrantadas e isso alegrou nosso coração.

A exposição foi muito boa, tivemos presença de muitos amigos, deixando o ambiente assustadoramente acolhedor. Mas o que ninguém viu foi o processo rico que tivemos na sala onde criamos tudo. Um ambiente onde não houve pobreza, onde a riqueza de cada abastecia a miséria do outro, eu abençoei o Carlão e o Carlão me abençoou. Esse momento em si já valeu todo o esforço.

Durante a exposição ainda vivemos mais desse fluxo de riquezas. Havíamos colocado no som uma playlist do Bach, mas com uma pobreza de conhecimento colocamos a primeira sugestão que havia no Spotify nos deu, mas assim que o Carlão terminou a palavra introdutória. O Daniel, que é outro amigo querido em nosso meio e rico em conhecimento artístico, com uma abrangência de pintura à concertos me chamou e logo sugeriu a composição Matthäus-Passion que é o relato musical do Bach do sofrimento de Cristo segundo o evangelho de Mateus.

Presenciamos nesse dia que, quando nossas riquezas, dispostas, repartidas entram em ação, não há miséria!

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