Meu primeiro amor: o que tenho a ver?

João Luiz
Motriz
4 min readJul 9, 2018

--

“Primeiros amores são muito difíceis.”

Alguém me disse uma vez ao tentar explicar todo o conflito do seu primeiro relacionamento. Essa frase sempre ficou na minha cabeça porque, de fato, meus primeiros amores foram todos difíceis. Digo no plural, pois a multiplicidade do verbo amar e todas as suas variações, fizeram com que eu tivesse diversos primeiros amores ao longo da vida. O ponto é que, não somente o primeiro amor, mas todos os outros que vieram subsequentes foram difíceis. A minha coragem de amar nunca foi o suficiente para evitar o meu sofrer e adivinha? Foda-se. A gente continua amando e sofrendo.

¯\_(ツ)_/¯

Eu me lembro de uma tarde na escola, um amigo cabisbaixo passando sem rumo e a sua (ex) namorada sentada no ponto de ônibus fingindo nada ver. Eles terminaram, eu pensei. Sempre me orgulhei (e ainda me orgulho) da minha capacidade de observar a vida do outro e todo tipo de situação alheia. Observar o modus operandi de seres humanos quaisquer em situações comportamentais dramáticas é um dos meus hobbies favoritos. Mas eu ainda fico bravo comigo mesmo, por não conseguir observar meus próprios atos quando estou em situações parecidas. Principalmente quando amo.

Um dia, às 04h da madrugada, com bastante álcool no sangue circulando pelo meu coração recém-partido (spoiler: não foi o primeiro e nem o segundo) e um tecno latino zumbindo no meu ouvido, fiz uma tatuagem no lado esquerdo do peito. Sim, a parte do corpo humano mais clichê dentre todas as partes do corpo humano. Um olho aberto, uma íris em formato de coração e ao redor, escrito em uma caligrafia fofa e torta, blinded of love. É a minha tatuagem de vadia, brinquei. Na verdade ela é o meu xodó.

Aqueles 3 centímetros eternos na minha pele representam toda a minha incapacidade de racionalizar o que eu sinto. I get so emotional, baby, everytime I think of you. E por you, entenda-se vários. Ou melhor, todos. Sem vergonha. Eu já tive o primeiro. O segundo. O terceiro. Não vou contar todos, mas já estou à espera dos próximos.

Bem Sasha Velour

“Ele (a) foi meu primeiro e único amor.” Fora da ficção, eu ouvi essa frase um total de zero vezes e me arrisco a dizer que 9 entre 10 primeiros amores estão fadados ao fracasso. É aquele vestibular que você faz como treineiro para aprender como as coisas funcionam de verdade antes do momento real/oficial. Para uns poderá ser um total desperdício enquanto para outros um verdadeiro encontro consigo mesmo, mas sempre será um aprendizado.

Primeiros amores são tão difíceis porque ninguém nunca te ensinou antes como amar um ser humano de carne, osso, ações e opiniões. Não é um filme do Nicholas Sparks, não é um avatar do The Sims. Se você nunca colocou em prática, não há como antever o pior. A pergunta que eu lanço é: por que nos torturamos tanto com as memórias de um primeiro amor?

Primeiros amores podem ser inesquecíveis, mas não necessariamente serão os melhores. Logo, não vale a pena colocar num pedestal quem desvirginou o seu coração apenas porque ele foi o primeiro. Afinal, se deu certo, bem. Se não deu certo, ótimo. Próximo, próximo.

As donas já cantaram essa pedra hein, mores

Veja bem, eu não odeio primeiros amores. Eu odeio como constantemente os romantizamos e nos apegamos à eles apenas por serem os primeiros. Como se isso os classificassem em uma categoria eternamente vip em nossas histórias de vida. Eu aprendi pra caralho nos meus primeiros amores, mas não vejo sentido algum remoer ou glorificar algo que simplesmente não existe mais. E isso serve para todos os outros que vieram depois. Let it go, bebê.

Depois que eu comecei a enxergar meus primeiros amores dessa forma, um tanto mais racional e menos passional, e retirei todo o peso e importância que apenas eu delegava a eles, o que sobrou foi um enorme alívio. Eles foram só mais um, outros melhores vieram, outros melhores partiram e outros melhores virão.

Uma coisa que eu aprendi amando e, principalmente, desamando, é que eu preciso de um tempo entre um amor e outro, para digerir os aprendizados, recompor o exército e cuidar dos feridos. É um tipo de respeito que devo a mim mesmo. Depois que esse tempo passa, a natureza sempre se encarrega de trazer pra minha vida algo novo e bom. Eu (e tudo que me compõe) sei que esse algo não será o primeiro, mas também sei que, nem por isso, ele deixará de ser a minha prioridade número 1. Ainda que a minha lista de prioridades comece no zero.

Nesse caso, o zero sou eu mesmo rs.

--

--

João Luiz
Motriz
Editor for

É aqui que eu guardo um pouquinho de todas as coisas que eu não sei.