Otomano

Mauro Sérgio Lima
Motriz
Published in
2 min readJul 9, 2018
Sobre o primeiro amor. Texto para o Motriz.

Não tem como: o primeiro amor é cruel. Ele vem com expectativas inalcançáveis para um coração que sempre é jovem demais para sentir aquilo tudo pela primeira vez. Não importa se é balzaquiano, menos 10 ou mais 15, o músculo distende. E existe tanta névoa em volta que fica difícil acreditar na visão que alguém pode te amar e você precisa tentar lidar com os outros sentidos, negligenciados por toda uma vida.

A imaginação tão fértil que inventa coisas, toca no sensível, na pele, no gozo preso e liberto e faz sonhar sonhos que precisam ser retomados. Sonhos que urgem se tornar matriz do real. Um carinho na têmpora, na nuca, uma música de espantar demônios para bem longe, a pulsação da carne que se tese entre os dedos ao estar presa num escuro profundo.

Amar foi incerto como uma meteorologia fraca, sem condições de prever com mais segurança a condensação da umidade do ar. A certeza foi quando choveu no travesseiro do meu quarto.

Uma desconfiança de que haviam esquecido de passar a camada de prata no espelho e que ele não refletiria a imagem esperada. Alguma coisa distorcida no meio da mensagem, tentando ser matematicamente construída, para descobrir que o texto tinha muito mais independência do que eu pensei.

O pacote completo de ascensão e queda, do Romano ao Bizantino.

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