Como podemos operar na mentalidade da abundância em um mundo programado para a escassez?

Raoni Henrique
Movimento Ímpar
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4 min readAug 8, 2019

Poucas vezes paramos para questionar o sistema que estamos envolvido e as bases nas quais ele foi fundado. Por que fazemos o que fazemos? O que influencia nossas escolhas? Quais as nossas verdades sobre trabalho, dinheiro e estilo de vida? O psicólogo Barry Schwartz em seu TED “A maneira que pensamos sobre o trabalho está falida” utiliza o conceito de tecnologia das ideias para explicar como nós cultivamos crenças que não são necessariamente verdades, e como elas perpetuam um sistema que muita das vezes não nos serve mais.

“A tecnologia da ideia tem algo especial, que a torna diferente da tecnologia das coisas. Com as coisas, se a tecnologia falha, ela simplesmente desaparece, certo? A má tecnologia desaparece. Com as ideias, as ideias falsas sobre os seres humanos não deixam de existir, se as pessoas acreditarem que elas são verdadeiras. Por que, se as pessoas acreditarem que são verdadeiras, elas criam formas de viver e instituições consistentes com essas ideias falsas.” Barry Schwartz

A forma como as empresas são geridas e a base do capitalismo como ele é hoje se ancora muito no modo da escassez. Para Adam Smith, considerado um dos pais do liberalismo econômico, o Homem Econômico é um sujeito egoísta que tomará decisões com base apenas no seu próprio interesse. Nossa economia liberal foi fundada nesses preceitos e estamos sempre correndo atrás de mais produção para satisfazer os interesses pessoais do ser humano puramente racional e egoísta.

A mentalidade da abundância

Mas será que essa lógica ainda faz sentido? O crescimento acelerado da tecnologia, aliado a novas formas de produção, vem provando que a escassez pode ser uma crença que apenas perpetua uma economia que vem produzindo abismos, e repensar o capitalismo sob novas óticas pode ser um passo na redução das desigualdades e dos problemas sociais.

Um terço dos alimentos do mundo são desperdiçados, logo, será que falta alimento ou os alimentos não estão chegando nas pessoas? Em SP, 70% dos imóveis no centro estão desocupados. Falta moradia ou o problema é a especulação imobiliária?

“A escassez começa em nossa própria ontologia, nossa autoconcepção e nossa cosmologia. A partir daí, infiltra-se em nossas instituições sociais, sistemas e experiência de vida. Uma cultura de escassez nos imersa tão completamente que o confundimos com a realidade.” Charles Eisenstein

Economia do criar

Hoje ouvimos muitos sobre novos modelos de negócio, startups e organizações exponenciais. Para mim, modelos de negócios baseados em tecnologia e em escala podem ter grande impacto, se trouxerem consigo uma nova lógica de se criar e de se comportar neste mundo em transição cheio de possibilidades.

A futurista Lala Deheinzelin desenhou um framework que nos auxilia a pensar na economia não mais de maneira escassa e linear, e sim de modo abundante e exponencial. Olhando a economia pela lente criativa somos capazes de trabalhar com recursos abundantes por si só, que não se consomem, mas se multiplicam com o uso, como cultura, conhecimento, criatividade e comunidade.

A partir do compartilhamento de espaços, equipamentos, materiais, trabalhamos de maneira mais racional os recursos, permitindo que a economia do compartilhar impulsione a energia criativa. Da mesma forma podemos também encontrar formas de colaboração, entre pessoas e empresas que podem trabalhar com mais eficiência ao compartilhar recursos, sejam eles tangíveis ou intangíveis.

Ao tangibilizar os aspectos invisíveis da economia, retirando a lente da escassez, conseguimos vislumbrar uma economia mais viva e pujante, que respeita o ritmo da natureza gerando felicidade e bem estar e não posse e frustração.

Eu acredito que dar visibilidade a projetos e iniciativas que estão rompendo com paradigmas antigos e que nos mostram novos caminhos é uma forma de permitir uma nova economia nascer. Entender, criar e prototipar um capitalismo por meio de iniciativas e empresas mais criativas e humanas é caminhar para um futuro de abundância, inclusão e harmonia que quero ajudar a construir.

Agradecimento especial à Marcelle Xavier por me ajudar a chegar nesses insights e pelas referências.

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Raoni Henrique
Movimento Ímpar

Consumer Insights e especialista em Ux e Design no Grupo Consumoteca. Fundador do @movimento ímpar. Autoridade em memes e polêmicas.