Episódio I: Introdução à Bitcoin

Parte 1 — A tecnologia chamada dinheiro.

Pedro Febrero (@febrocas)
Mr. Bitcoines Apresenta
13 min readSep 11, 2019

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Será a moeda fiduciária o pinácolo da tecnologia do dinheiro?

Depois da magnífica nota introdutória e do epílogo que nos leva por mares nunca dantes navegados, onde discutimos o porquê da deterioração económica que sentimos nos dias de hoje, qual o papel do estado nesse processo e como poderá a Bitcoin ser um novo standard de combate às loucuras humanas — refiro-me claro, ao excesso de dívida oriundo de uma criação “à bruta” de moeda — chegámos agora ao primeiro episódio de sete, que irá ter duas partes distintas.

Na primeira parte irei analisar a tecnologia do dinheiro, as suas propriedades e características, bem como o seu passado, presente e futuro.

Na segunda parte vou detalhar o que é a Bitcoin, a blockchain e como funciona esta tecnologia apelidada de “dinheiro da internet”.

Bitcoin, o “texugo” das moedas. Nada a pode parar. Não tem medo de ninguém.

Na opinião do Mr. Bitcoines, é absolutamente crucial entendermos o porquê da criação de uma moeda descentralizada e que não depende de nenhum governo ou banco central (até porque a Bitcoin é o seu próprio banco central. Parece confuso? Daqui a uns minutos deixa de ser).

Se, por um lado, a Bitcoin é um conjunto de tecnologias, ao mesmo tempo, é uma moeda digital que depende da rede de utilizadores, como é o caso de qualquer rede descentralizada.

Como iremos ver mais adiante, a Bitcoin é um bem cuja ligação ao mundo real é feita através da energia. Isto é, apenas é possível garantir a segurança da rede Bitcoin e da sua base-de-dados, conhecida como blockchain (cadeia-de-blocos), devido à obrigatoriedade de gastar electricidade para criar Bitcoin.

Prontos para entrar num novo mundo, cheio de perigos e gente que vos quer roubar à força? Prontos para começar uma nova etapa das vossas vidas onde, finalmente, entendem o quão obsoletos ainda somos na nossa compreensão das tecnologias dinheiro e moeda?

Nesta primeira parte do episódio I conto responder às seguintes questões:

  • Como funciona a tecnologia do dinheiro?
  • Como funciona a tecnologia da moeda?
  • Quais os antecessores da Bitcoin?
  • Porque falharam as primeiras moedas digitais?

Vamos lá a isso, então.

Dinheiro # moeda

De modo a conseguir transmitir a palavra do Senhor, é preciso que entrem no mindset correcto.

Não, não necessitam de ajoelhar. E muito menos de rezar.

Apenas vos peço que, por momentos, esqueçam tudo o que já ouviram sobre Bitcoin, blockchain, criptomoedas e até mesmo, dinheiro ou moeda. Peguem em todo esse conhecimento (ou pseudo-conhecimento, seus convencidos) e guardam-no bem numa caixinha lá no fundo da vossa memória.

Já está? Fantástico. Agora pegem fogo a essa merda.

“o melhor professor, o falhanço é”

Para entender o que é Bitcoin, primeiramente, temos de esquecer tudo o que aprendemos sobre Bitcoin, dinheiro e moeda.

“Epá, lá vem o gajo com aquelas manias. Que chatisse, porra, pá. Tava a ir tão bem e já começa. Que grande estúpido” — não desmoralizem já. Estas parábolas, à lá Master Yoda, são essenciais. Para mim.

❤️

Antes de olharmos para a Bitcoin como uma moeda, devemos ter em conta que, tal como o dinheiro, essa mesma Bitcoin é primeiramente uma tecnologia. É código aberto (open-source), que permite a qualquer ser inteligente copiar o programa e correr na sua máquina. É um ser-vivo, um organismo multi-complexo, que vive na Internet e que não depende de nenhuma entidade em particular para existir.

Dito de outra forma, qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, com uma ligação básica à Internet, pode ser o seu próprio banco central e participar na criação, validação, verificação, armazenamento e transmissão de moeda.

“Ok, certíssimo. Mas então explica lá como funciona a tecnologia do dinheiro, champ. Se é uma tecnologia quais as suas propriedades? Não me parece dinheiro = tecnologia. Dinheiro é moeda ou ouro, por exemplo”

Para ajudar o caro leitor a olhar para o touro de frente, convido-o a espreitar a imagem em baixo que explica quais as funcionalidades da tecnologia chamada dinheiro, cuja a principal aplicação hoje em dia é a moeda. Vai rapidamente perceber que o dinheiro é uma mera tecnologia e que podemos abstraír as suas propriedades muito facilmente. Assim, para um bem ser considerado dinheiro tem de ter, pelo menos, as seguintes caracteristicas:

  • Servir como mecanismo para guardar valor ao longo do tempo (ouro),
  • Servir como mecanismo para medir valor ao longo do tempo (contabilidade),
  • Servir como mecanismo para trocar valor ao longo do tempo (moeda).
Quais as funcionalidades da tecnologia “dinheiro”? A moeda fiduciária, por exemplo, permite trocar valor e medir valor, mas não permite guardar valor (inflação).

Se reparar na legenda, a moeda permite que consigamos usar 2/3 das propriedades do dinheiro, visto que conseguimos trocar e medir valor. Mesmo assim, no longo-prazo, a moeda torna-se um mecanismo pouco eficiente para guardar valor visto que a quantidade de moeda tem a tendência a aumentar, levando sempre ao aumento generalizado do valor dos bens e de perda de poder de compra (como vimos no epílogo).

No fundo, desde que trocámos o standard ouro pelo standard fiduciário, o valor real da moeda desvinculou-se do valor real do dinheiro. Em boa verdade, o mundo deixou de ter um standard pois é necessário um limite máximo espectável na quantidade de unidades existentes, de qualquer unidade monetária, para que consigamos guardar, trocar e medir valor no longo-prazo.

Se o caro leitor tem algumas dúvidas relativamente à afirmação anterior pense no que era possível acontecer quando a moeda estava ligada ao ouro:

i) os governos e países poderiam ir à falência quando diminuiam em excesso as suas reservas de ouro — quer para incentivar a produção económica, quer para aumentar o consumo presente.

ii) a quantidade de moeda em circulação era definida pela quantidade de ouro disponível. Caso contrário, poderia haver uma corrida aos bancos que geralmente acaba com eventos hiperinflaccionários, onde o valor da moeda corrente em circulação cái a pique versus o valor do ouro.

Desta forma, era mais fácil para os indivíduos guardar valor no longo-prazo pois existia um bem cuja criação não era definida por nenhuma entidade em particular e, em média, manteria ou aumentaria o seu valor ao longo do tempo devido à quantidade ser limitada.

E a Bitcoin, onde encaixa?

Olhando para o diagrama em cima, a Bitcoin é a primeira moeda digital que contém as três propriedades descritas. É uma forma de guardar, transferir e medir valor num formato digital.

Qual o valor da primeira pizza paga em Bitcoin? 10,000 BTC!

Talvez a melhor descrição da Bitcoin deva ser um mix de moeda e tecnologia, ou seja, uma abstracção tecnológica que representa dinheiro digital e que pode ser copiada e usada em qualquer parte do globo, sem nenhum tipo de restrições. Isto também significa, que caso algum entendido não concorde com o rumo da Bitcoin, pode sempre copiar o seu código e começar uma nova “bitcoin”. É como começar uma nova moeda, literalmente.

O que importa é a ligação que a Bitcoin tem ao bem mais essencial para a humanidade: a energia. No caso da nossa querida Bitcoin, é necessária electricidade para correr o protocolo bitcoin, de modo a sustentar as transações que ocorrem na rede de um formato descentralizado (como iremos ver na segunda parte).

No fundo, a Bitcoin é o culminar de tentativas para criarmos o primeiro formato digital de transmissão de valor que não depende de nenhuma instituição, como governo, banco central ou empresa.

A Bitcoin é o dinheiro da internet. Capisce?

“Percebo e está a fazer sentido. Mas como me garantes que é segura? A Bitcoin nem 10 anos tem, pá! Não, desculpa lá mas não faz sentido apostarmos tudo numa tecnologia que pode desaparecer amanhã. Tu és doente da cabeça”

Porém, como poderá o caro leitor confiar numa tecnologia que existe, à data, há menos de dez anos?

Será que a BTC é uma invenção assim tão recente, ou será que os nossos antepassados tentaram criar, eles também, uma abstracção do conceito do dinheiro através da conversão da produção de trabalho (ou energia) em moeda?

Quero portanto dizer, será que o caro leitor acredita que o problema da transmissão e armazenamento de valor, longe das garras do estado e de poderes centrais, já era um problema debatido antes do aparecimento das criptomoedas?

Bitcoin, uma abstração com mais de 100 anos

“Ford substituiria ouro por moeda-energética e acabava com as guerras”

Peço-lhe que coloque o seu chapéu de marujo novamente, porque vamos navegar até aos princípios do século XX, altura em que saiu uma notícia, no mínimo curiosa, e que mostra que a Bitcoin afinal não é um conceito assim tão avanguard.

Em 1921, Henry Ford, que ficou conhecido como o pai da massificação do automóvel com a introdução de novas técnicas de montagem, como linhas de montagem mecanizadas, admitiu durante uma entrevista que a produção de dinheiro estar centralizada, em bancos centrais e/ou em governos, contribuía em grande escala para a possibilidade de continuação de conflitos e guerras.

Aliado a Thomas Edison, um dos pioneiros na área da electricidade e massificação de produtos eléctricos para cidades, ambos acreditavam que o formato mais justo para a produção de moeda, seria através da produção de electricidade, o bem que seria essencial (e ainda o é) durante século XX.

Contudo, esta proposta não foi aceite e a primeira tentativa para distribuir o poder de criação de moeda por mais agentes, morreu na praia.

Mas o ser humano é realmente um bicho que não fica satisfeito com o que tem e, depois da invenção do computador moderno, voltou a carregar sobre o mesmo assunto.

Encriptação descentralizada (peer-to-peer)

Avançando uns anitos mais para a frente, deparamo-nos com duas invenções-chave, que permitiram mais tarde em 2008 a elaboração do protocolo bitcoin por parte de uma entidade anónima, de nome Satoshi Nakamoto.

Digicash, a primeira moeda digital corporativa

A primeira foi a invenção de um formato de encriptar informação de uma forma descentralizada. Isto é, apenas quando PGP, ou pretty good privacy , foi criado é que nasceu o primeiro mecanismo que permite fazer a encriptação de dados — um mecanismo com o nome de hashing — de forma a que os mesmos fiquem seguros na posse do seu proprietário. PGP liga dois ou mais usuários através das suas chaves públicas, nunca partilhando a chave-privada da qual deriva cada chave-pública. A segunda invenção crítica que antecedeu a Bitcoin, foi a criação do Hashcash, um algoritmo que defende redes públicas de ataques de spam. Dito de outra forma, esta tecnologia obriga os participantes a gastar energia de modo a enviar pacotes de dados para outros usuários. Esse gasto é exponencial, consoante o número de pedidos feitos à rede, ou seja, quanto mais envios de dados ou pedidos de transmissão de pacotes de dados forem feitos, mais energia é gasta pela máquina para participar na rede. Isto garante que um ataque à rede tem sempre um custo energético associado, obrigando os atacantes a gastar cada vez mais energia, quanto mais comunicações são feitas com os outros participantes.

A versão generalizada do mecanismo anti-spam Hashcah ficou conhecido como Proof-of-Work (prova-de-trabalho), que acaba por ser uma peça essencial no funcionamento da Bitcoin, como veremos na segunda parte.

Os primeiros “dinheiros” digitais

Com o desenvolvimento destas duas técnicas, PGP e Proof-of-Work (ou Hashcash), aliadas ao melhoramento de redes públicas em termos de escalabilidade e da capacidade de transmissão de dados através da internet, foram feitas as primeiras tentativas de criação de uma moeda digital.

Em 1983, David Chaum, um criptógrafo, matemático e programador génio, desenvolve o conceito de Ecash, uma moeda electrónica puramente digital, associada a bancos e serviços, que mais tarde em 1989 se torna a Digicash, o produto oficial do “protocólo” Ecash. O projecto faliu em 2002 for falta de uso e financiamento, visto que não foi apoiado pelas instituições bancárias da altura, na medida do esperado pelo fundador.

E-gold, a segunda tentativa em criar uma moeda livre de bancos centrais

Contudo, as tentativas de criar uma moeda da internet não acabam com David Chaum.

Um pouco mais tarde, em 1996, a empresa E-gold, que guardava ouro dos seus depositantes e os deixava usar uma versão digital desse mesmo ouro para pagamentos online, foi criada.

Após mais de 10 anos de crescimento, tanto em termos financeiros como em termos de utilizadores, a empresa acabou por fechar portas, em 2009, ao ser considerada culpada por facilitar crimes de lavagem de dinheiro.

Talvez o conceito mais aproximado do protocolo bitcoin, lançado em 2008, tenha sido conceptualizado pelo criptógrafo, matemático, programador e filósofo Nick Szabo, criador do conceito bit gold.

Na estrutura proposta por Szabo, os participantes dedicariam poder computacional (energia), para resolver puzzles criptográficos e escrever informação numa base-de-dados partilhada.

A ideia da rede bit gold seria que os participantes usassem sistemas distribuídos de PGP hashes, de forma a que todos pudessem chegar a um consenso relativamente ao estado das transações na rede, tal como acontece na Bitcoin. O maior problema para Szabo seria como proteger o próprio sistema contra agentes bizantinos sem recorrer à centralização de dados, isto é, qualquer participante que tentasse atacar a rede, como por exemplo ao usar os mesmos fundos para duas transações distintas (double-spend), deveria ser penalizado sem que a rede deixasse de funcionar na sua totalidade.

Para Szabo, a falha de todos os sistemas que antecederam a proposta bit gold (não chegou a ser criada na sua essência), era o facto de todos dependerem de um ponto central, quer uma empresa ou pessoa singular, que poderia ser coagido de várias formas e de nenhum implementar sistemas de custo dinâmicos anti-contrafação.

Outras tentativas posteriores de criar mecanismos de pagamentos acabaram por se restringir ao uso de moedas fiduciárias. Os que ainda sobrevivem hoje, como o Paypal ou Stripe, simplesmente comunicam com instituições bancárias para fazer as liquidações dos seus clientes e são geridos como plataformas online que detêm os direitos de propriedade dos dados dos seus utilizadores.

No fundo estas empresas detém bases-de-dados que comunicam com os vários bancos, daí ouvirmos tantas histórias de pagamentos e contas de utilizadores que são bloqueados por tempo indeterminado.

Ou seja, na percepção do caro leitor, será que o problema de todas as tentativas em criar um dinheiro da internet, assenta no simples facto de se basearem num formato centralizado da transmissão de valor?

Não percam o próximo Episódio, porque o Mr. Bitcoines, também não!

Iremos descobrir toda a verdade na segunda parte do primeiro episódio, onde finalmente conto explicar as propriedades da tecnologia inerente à Bitcoin, como estas funcionam, o seu propósito no mundo digital e real, bem como, discutir todas as nuances do protocolo bitcoin e dissecar quais os factores críticos que dão valor à criptomoeda Bitcoin.

Será a Bitcoin o próximo standard monetário? Ou irá morrer na praia, como todas as tentativas anteriores de criação do verdadeiro “dinheiro da internet”?

Até a um próximo capítulo, ma friend.

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Todos os meus artigos diários são publicados na língua Inglesa, no portal CoinRivet. Podem também segui-los no MuckRack.

Para obter mais informações sobre o meu projecto mais recente, consultar a nova versão DEMO da Bityond.

Sobre o Autor

Mr.Bitcoines Apresenta

Mr.Bitcoines detém uma licenciatura em economia, tirada a ferros durante seis anos, no ISCTE e actualmente é analista para o portal Coin Rivet, está envolvido na capacidade de Assistente de Investigação na universidade de Huddersfield, bem como, é sócio-fundador e CEO da startup Bityond.

Profissionalmente, o autor foi sempre um trabalhador medianamente assíduo e interessado, embora os seus níveis de energia compenssassem toda a sua falta de concentração e fraquíssima capacidade organizacional. A sua especialidade em tempos foram ERPs (softwares de gestão, para os mais ignorantes), tanto em termos técnicos como funcionais, contudo, nos últimos anos, o focus do autor tem sido exclusivamente blockchain e criptomoedas. À data do lançamento de “Mr.Bitcoines Apresenta: Bitcoin, Criptomoedas e outros Dinheiros Digitais”, o autor tem mais de 300 artigos publicados ao longo de dois anos, em plataformas como CCN, Yahoo Finance, Altcoin Magazine ou Coin Rivet, bem como, dois papers científicos submetidos para peer-review em jornais académicos.

(Uh, la la).

A suas incontáveis experiências fora da Tugolândia, dotam o autor de caracteristicas bizarras e de formas pouco habituais de estar na vida — que se baseiam na responsabilidade social, transparência e meritocracia. Incrívelmente, a sua vivência em outros mundos e culturas ajudaram-no a compreender a importância das nossas limitações enquanto cidadãos do planeta, especialmente no que toca aos nossos direitos fundamentais como indivíduos.

Para o autor, qualquer ser humano deve ter o direito básico de transacionar livremente sem a necessidade de expor a sua vida financeira a terceiros. Isto é, Mr.Bitcoines acredita que a humanidade precisa de uma moeda digital que nos permita enviar e guardar dinheiro fora do sistema tradicional, tal como enviamos e-mails, fotos, videos ou qualquer outro pacote de dados.

Para mais, devido às exigências crescentes no sector da regulamentação, torna-se óbvio, para o autor, a necessidade da existência de um activo exclusivamente digital, de fácil acesso e transporte, completamente descentralizado de poderes centrais, que sirva como mecanismo para guardar valor, em caso de falha de sistemas fiduciários.

Para o autor a Bitcoin não é um investimento. É uma garantia de imutabilidade e de transparência da história de todas as transações que já foram feitas.

Contacto: mrbitcoinesapresenta@gmail.com

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Mr.Bitcoins Apresenta: Bitcoin, Criptomoedas & Dinheiros Digitais, Edição Setembro 2019

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Pedro Febrero (@febrocas)
Mr. Bitcoines Apresenta

Head of Blockchain @RealFevr. Researcher @QuantumEconomics. Hobbies include swimming and sith lording. Twitter @Febrocas