Alexandre Costa debateu os desafios da inclusão na transformação digital

Vicente Pardo
msummitbr
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3 min readDec 12, 2017

Entender, de forma correta, a transformação digital, também é entender como aplicar acessibilidade de maneira eficiente. Esta foi a visão compartilhada pelo Software Developer da Arctouch, Alexandre Costa, durante sua palestra no Mobile Summit 2017. “Muitas empresas, quando falam que estão fazendo transformação digital, estão falando que tem uma sucata digital e que estão saindo da década de 70”, brincou o desenvolvedor, que é deficiente visual.

Para alinhar seu discurso, ele citou alguns exemplos de momentos marcantes para a rotina de deficientes visuais e como foram evoluindo. Alexandre explicou o surgimento do método braile, criado por Louis Braile em um contexto, de 1800, quando cegos aprendiam a ler e escrever da forma tradicional. Após, ele destacou que apesar de a linguagem ter facilitado muito a vida de pessoas com deficiência visual, o braile é pouco prático, pois apresenta um método de escrita complexo e não é o ideal para materiais impressos.

“Já na década de 70, quando os microcomputadores começaram a aparecer, surgiu também a ideia da síntese por voz, onde tudo aquilo que era escrito ou pintado na tela, era lido pelo sistema através de uma voz sintetizada”, explica. De acordo com Alexandre, estes foram os primórdios dos leitores de tela, hoje tão comuns em diversos dispositivos. “São pequenas transformações como essa que, na minha opinião, tornam a nossa profissão tão importante. Isso é transformação digital”, exaltou.

Para Alexandre, o momento é único. Temas como IoT e inteligência artificial estão sempre em pauta e, segundo ele, são pontos importantes para transformar a vida das pessoas de maneiras inimagináveis. “Imagino que a inteligência artificial está vindo para melhorar as nossas vidas. Quantas doenças mentais ou deficiências intelectuais vamos conseguir resolver com um chip implantado no cérebro, por exemplo?”, disse.

“Quando falamos de transformação digital é isso o que eu imagino, de verdade. As coisas começam pequenas e não conseguimos perceber, mas elas ganham proporções importantes. Há quanto tempo temos um computador tentando enxergar as coisas?”, explicou para reforçar o seu argumento.

O desenvolvedor também trouxe sua experiência pessoal com tecnologias disruptivas, e como elas impactam em sua rotina. Alexandre utilizou como exemplo o Uber e Cabify, aplicativos que permitem que ele se locomova tranquilamente por diversas cidades, inclusive permitindo que ele palestre em outros lugares. “Isso era algo irreal para um deficiente visual há 20 anos. Estes negócios disruptivos geram polêmica, mas causam um impacto muito grande”, destacou.

Apesar da rotina de um deficiente visual ser facilitada, Alexandre também fez questão de apresentar problemas recorrentes, como as dificuldades encontradas por ele para navegar em sites de compra de passagem área. “Trabalhem sempre o mais nativamente possível”, destacou ao explicar alguns problemas enfrentados por tecnologias assistidas que não colaboram totalmente com o usuário.

“Existem milhares de problemas que temos hoje que não só podem, como devem ser solucionados com a tecnologia. E se eles não estão sendo resolvidos com tecnologia, isso está completamente errado. E quem faz a tecnologia somos nós”, exaltou Alexandre ao valorizar o público do evento, que se dispôs a acompanhar debates pertinentes em um sábado ensolarado.

“Todas as tecnologias importantes de hoje em dia foram feitas por pessoas como a gente, que não são diferentes. São pessoas que tiveram a lâmpada acesa e pensaram como que o resultado daquilo seria interessante. Cada um de nós consegue fazer exatamente isso”, incentivou o desenvolvedor. “Nós podemos mudar o mundo somente com uma linha de código,e este é o nosso papel”, concluiu.

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