Dois anos.

Patricia Balderrama
Mudamento
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3 min readJul 28, 2020

O oceano não nos separa. Nos une.

Esta frase veio na minha cabeça depois de um dos momentos mais difíceis que vivemos aqui. Um ano de tantas perdas.

Ao mesmo tempo, o entendimento que a nossa vida está definitivamente aqui agora. Mas, nem por isso deixamos para trás todo o nosso passado. A parte que queremos que continue se mantém ligada conosco, caminha junto. Nada separa.

Este segundo ano trouxe mais saudade das pessoas, diferente de todas as experiências que lemos a respeito, em função do que o mundo tem passado. A saudade das pessoas que amamos doeu mais, a vontade de ver ficou maior, o abraço apertado fez falta. O COVID- 19 veio para virar o mundo de cabeça para baixo, e o fato de não ter podido ir ao Brasil deixou um vazio maior. Não que no primeiro ano a saudade tenha sido fácil — foi um ano intenso e de adaptação, mas sabíamos quando iríamos rever os que estão no Brasil. Este ano, não.

Apesar da situação do coronavírus estar controlada aqui no Porto, as incertezas do convívio social continuam. Mas os sentimentos nunca ficaram tão certos, evidentes e sinceros. Mesmo que pudesse ir neste momento, algumas pessoas já não estariam mais, porque a vida é isso: encontros, partidas, escolhas, decisões. Cada decisão traça um novo destino e aqui estamos nós, com o nosso previamente traçado (porque nunca sabemos ainda o que realmente nos espera pela frente).

O pico de casos de coronavirus passou, mas ainda estamos vivendo em um ambiente controlado com horários de comércio e atendimento reduzidos, o uso obrigatório de máscaras em ambientes fechados continua, sem eventos públicos e concertos. Por outro lado as mesas de restaurantes nunca foram tão limpas, supermercados tão higienizados e mão tão bem lavadas.

A maioria das pessoas respeita as novas regras ao sair de casa, outras questionam e comparam tudo isso a uma ditadura. Outras ainda continuam sem sair de casa, sabe-se lá até quando.

Algumas empresas, lojas e restaurantes já fecharam, o desemprego já aumentou em 36%. O números de pedintes na rua visivelmente aumentou. A escola de esportes do meu filho continua, mas a turma dele não atingiu o número mínimo de atletas para se manter. Várias outras escolas de esporte fecharam em função da desistência dos alunos e na incapacidade de pagamento.

Também vimos nas notícias vários brasileiros e outros estrangeiros que já voltaram para seu país natal. E outros que chegaram também, mas em um número bem mais reduzido. Os voos estão bem restritos, raramente são diários e por vezes são cancelados ou alterados, mas em pleno verão, já é possível ver alguns turistas.

Desde junho as consultas em hospitais voltaram, mas de forma controlada. Vários atendimentos não urgentes foram cancelados e ainda não remarcados. Mas na sua maioria voltaram ao normal agora em julho. A notícia de uma possível vacina traz esperança e anima. E ajuda econômica da UE também.

Tem sido um ano diferente. Mas a atual certeza é de que fizemos a escolha certa e que toda esta mudança, apesar de todas as dores que a acompanhou nestes últimos meses, trouxe também uma qualidade de vida incomparável. Não falo aqui de questões materiais, mas em saúde, cultura e valores, que foram os nossos objetivos desde sempre. Sem dizer dos novos laços que a cada dia surgem e os que já existem e só se fortalecem.

Rua de Santa Catarina numa sexta feira a tarde em Abril/20. Normalmente cheia de gente pelo comércio local.

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