Anamir Gomes
Algumas coisas não mudaram tanto assim
“Não venho de família espírita, mas a doutrina sempre esteve presente entre alguns parentes. Quando era muita nova, minha mãe, católica, perdeu minha irmã de sete meses e isso a abalou muito, levando-a a ter um desequilíbrio mental. O único local que foi capaz de curá-la foi um centro de Candomblé, e por gratidão, ela resolveu seguir a Umbanda, que é uma ‘vertente’.
Por muito tempo os trabalhos eram proibidos, cheguei a presenciar uma sessão sendo interrompida pela policia na época do militarismo. Mas mesmo após a constituição, o medo ainda prevalecia. Apesar de não sentir na pele, via minha mãe sendo hostilizada por vizinhos por atender pessoas em casa.
Por ajudá-la com freqüência, acabei me envolvendo e percebendo que aquilo fazia parte de quem eu sou. Aos dezoito anos, fiz minha iniciação e comecei a participar dos trabalhos assiduamente. Com o crescimento do terreiro e o meu desenvolvimento, percebi que seria minha tarefa herdar a coroa de minha mãe.
Hoje, dois anos após sua partida, estou no comando da casa espírita e tenho orgulho da minha posição. Porém, mesmo passado tanto tempo, ainda tenho receio de revelar a minha religião ao conhecer uma pessoa. Por causa do preconceito, costumo esperar que a pessoa me conheça melhor para depois revelar o meu seguimento religioso.”