Edirlaine Leite

Lari
Mulheres de Belo Horizonte
3 min readMar 25, 2017

--

DE MENINA A MULHER

“Lembro de vários momentos difíceis, mas nenhum deles superou a morte de meu pai,” Edirlaine nasceu em Belo Horizonte, em 1971. E os períodos difíceis da vida dela começaram com a morte daquele que ela tão jovem tinha como herói. E apesar de pouca idade ela teve que amadurecer muito depressa. Eram todas crianças na morte de Alípio, o mais velho na verdade na pré adolescência, enquanto o mais novo tinha um ano. Um total de quatro homens, apenas ela mulher. A mãe acabou virando pai, e aquele tempo difícil foi uma das primeiras superações da família.

Enquanto cursava a oitava série do ensino fundamental, em uma escola de irmãs bem conhecida de BH, Edirlaine passou pelo segundo momento mais difícil da vida: gravidez não planejada e tampouco desejada. E com isso foi convidada de forma “carinhosa” a não mais estudar no colégio, pois era vista como má influência as outras meninas. Ela então parou os estudos por uma gravidez que passou a ser mais do que desejada, exibir o barrigão passou a ser motivo de orgulho.

4 de Abril de 1987, a menina de quatorze anos se tornou mulher. E apesar da pouca idade enfrentou tudo com um sorriso na cara, cumpriu o papel de mãe com grande determinação e se casou com o pai da criança. Novamente retornou seus estudos, mas por pouco tempo. “Não foi fácil reviver isso tudo, mas ta aí minha história de superação”, ela disse. Sendo obrigada a largar os estudos novamente ela começou a viver o que considera os piores dias de sua vida, com atitudes machistas o marido se tornou um monstro, foram momentos de fome, maus tratos, falta excessiva de amor e um grande número de agressões, de todas as formas possíveis. Com bastante força ela superou todos esses momentos, sempre com seu lado maternal aflorado. Ela matava a fome do filho com o ticket leite, um programa do governo federal. Para cobrir a marca das agressões ela usou de uma boa dose de bom humor e silencio extremo, com tantas ameaças o medo a calava, temia a própria morte, a morte do filho e a morte da mãe. Sem entender o próprio psicológico, ela passou por tudo isso ainda jovem. “Abraçava meu pequeno e ríamos, chorávamos e brincávamos como duas crianças que éramos” e assim ela foi compreendendo o que era o amor.

Em 1989, veio a separação e com isso a discriminação que sofria por ser mãe, jovem e solteira. Com a crise no Brasil em 1990 ela foi obrigada a cancelar a matricula do filho na escola. Porém, com muita dignidade ela aceitou limpar a escola como troca pela mensalidade. Ela se tornou faxineira, secretária e mesmo sem estudos assumiu uma turma em substituição de uma professora que adoeceu.

Sem abrir mão do sonho de ter a sua própria formação, ela viu a vida mudar quando se mudou para Vespasiano e assim deu uma retomada aos estudos, fez faculdade de ciências biológicas, trancou a matricula e se formou no curso normal superior. Ainda nos estudos se pós graduou como psicopedagoga, em enfrentamento à violência sexual infanto-juvenil. Foi coordenadora de programas sociais do governo federal, foi coordenadora e técnica em abrigos institucionais e hoje atua na secretaria de educação. Apesar de tudo o que enfrentou no passado, hoje ela é uma mãe exemplar não apenas com os dois filhos, mas também com todas as crianças, jovens e até mesmo adultos que ela conhece pelo caminho.

--

--