Giovânia Monique do Carmo

DESDE A INFÂNCIA ELA VEM EXERCENDO DIFERENTES FUNÇÕES JUNTO À FAMÍLIA E A SOCIEDADE. FILHA, IRMÃ E MÃE, O RETRATO DAS MULHERES BRASILEIRAS QUE SÃO MUITAS EM UMA SÓ.

@pabloabranches
Mulheres de Belo Horizonte

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Giovânia Monique do Carmo ou Giô, 29 anos, como é carinhosamente chamada, tem como característica que mais chama atenção o seu entusiasmo. Moradora da região do Barreiro, uma das mais populosas de Belo Horizonte, Giô faz brincadeiras sobre o local onde vive, mas demonstra orgulho por morar lá. Mãe do esperto Miguel, 03, reside no bairro Lindéia com a mãe, o irmão, o companheiro e o filho, no terreno da família. No mesmo lugar, em fase de acabamento, está prestes a se mudar para a sua casa própria, seu próprio lar.

Criada somente pela mãe, a faxineira Maria Zilá do Carmo, 60, ela foi a responsável por dar comida e educação a Giovânia. Durante mais de 20 anos, seu trabalho na creche, próxima de sua casa, foi o que garantiu o sustento da família. Logo depois Dona Zilá teve o Gustavo do Carmo, hoje com 24 anos. Ele passou a ser o irmão mais “filho” que Giovãnia poderia ter. Participante ativa da sua criação, fez as vezes de mãe desde quando ele nasceu. “Eu acordava cedo para dar remédio, levar na escola, dar almoço. Eu sempre assumi esse papel e fiz com maior prazer”, relembra. Gustavo é portador de necessidades especiais.

Sua história é marcada por resiliência. Desde criança já demonstra ter forte vocação para assumir funções de centralidade, de destaque. Na adolescência, a escola foi o espaço onde começou a descobrir-se como líder e participou de muitas atividades políticas e culturais. Neste contexto, ia acumulando admiradores e “inimigos”, afinal, ela nunca foi de levar desaforo para casa.

É conhecida pelo seu lado divertido, agregador e temperamental. Sempre impulsiva, entrava numa briga com facilidade, mas sempre foi tida como a chorona. Sagitariana convicta, sempre foi de xingar e bajular logo em seguida. Com amores intensos, sempre dividiu bem as responsabilidades do trabalho com a diversão do final de expediente. De uma praticidade invejável, mobiliza-se quando realmente acredita no que faz. Cria laços afetivos como quem troca de roupa, mas com a seriedade de quem faz um novo irmão.

Com certa poesia dos tempos modernos, na velocidade das novas relações, Giô agarrou com unhas e dentes as oportunidades de aprendizado. Num processo de imersão e de formação em ambientes não formais de conhecimento, tornou-se educadora e mobilizadora social. Com sensibilidade e apreço pelos jovens da sua comunidade, passou a intervir como cidadã e profissional na escola que estudou, tornando-se referência no desenvolvimento de atividades de comunicação para a cidadania.

Assim seguiu envolvida em coletivos juvenis, ONG´s e movimentos culturais por mais de dez anos, atuando por toda Belo Horizonte e diversas regiões do Estado. E envolvimento resume bem seu jeito de ser. Sempre muito intensa, se entrega com muita disponibilidade ao que propõe fazer. “Me entrego mesmo, aquilo que gosto de fazer eu faço mesmo e quem tiver comigo tem que se dedicar”, enfatiza. Nesta trajetória, seguiu acreditando em novas experiências, consolidando amizades e descobrindo novos desafios.

Em 2013, descobriu-se grávida. Apesar de todas as dificuldades desse momento, ser mãe abriu um mundo sem fronteiras. A maternidade é uma estrada de emoções e reflexões e, Miguelzinho, como ela o chama, é a pessoa pela qual se esforça para atender seus desejos e necessidades. É o ser que ela emprega a experiência obtida na adolescência quando cuidava do irmão. É como se agora fosse pra valer (e é mesmo), a vida é planejada em função do filho. “Não tem como falar vou viajar tal dia e ir, agora ele me acompanha. A família vive com ele e para ele. Ser mãe trouxe surpresas e sentimentos cujas sensações são únicas”, esclarece.

“A vida não é fácil”, diz ela tremendo os lábios. Ela sabe que é preciso mais para entrar no mercado de trabalho com outras inserções, mas entende que só o currículo não basta. “Muita gente tem currículo bom, muitos cursos, é bacharel, é doutor, mas não tem sensibilidade”. Sabe que cursar uma faculdade é importante, mas mostra-se receosa, talvez com preconceito ou medo desse universo tão particular e por vezes, perverso. Universo este que pode sim, diminuir desigualdades econômicas, mas aumentar abismos culturais.

Entendendo que a mulher merece respeito e deve ter mais direitos conquistados, Giovânia também é uma mulher tradicional. Ela acredita que desempenhar funções pré-determinadas culturalmente, não te faz submissa, mas preenche seu espirito familiar e de cuidadora. Talvez de forma inconsciente, assume uma postura conservadora, mas sem deixar de lado a força da mulher que pensa além do seu tempo. “Adoro fazer os almoços de domingo, sou muito cuidadosa, gosto de estar com a família, cuidar da casa. Gosto também de estar nesse lugar. Quem me conhece sabe que sou independente. Uma coisa não invalida a outra. Minha mãe desde cedo me ensinou a conseguir minhas coisas e nunca depender de ninguém. Levo isso para mim até hoje”, esclarece.

A mulher sem fronteiras, aberta ao novo, encontra-se bem reclusa no presente. Mas entende que na sua atual condição é importante viver a maternidade, viver a família. É poder escolher como quer estar no mundo para as pessoas e para si mesma.

Giovânia Monique do Carmo é uma das “Mulheres de Belo Horizonte”.

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