Ione do Amparo Santos

Com tudo o que eu vi e vivi, nunca poderia afirmar que as mulheres representam o sexo frágil.

Matheus Urias
Mulheres de Belo Horizonte

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Ione do Amparo Santos, esse é o nome da minha mãe. 49 anos, três filhos e uma vida repleta de batalhas. Eu e minhas duas irmãs fomos criados com muito conforto e amor, o conforto proporcionado pelo nosso pai e o amor pela nossa mãe, já que isso é tudo o que ela tinha para dar.
Minha mãe saiu de São Pedro das Garças (MG) muito nova, com aproximadamente 18 anos, para Belo Horizonte em busca de oportunidades melhores no mercado de trabalho. Trabalhou como empregada doméstica por anos, e aos 29 anos engravidou de um jovem bonito e aparentemente de boa índole.
No primeiro ano de casamento já era nítido que um erro havia sido cometido, minha mãe tinha casado com uma pessoa agressiva, descontrolada e mentalmente desequilibrada. Meu pai possui esquizofrenia, a doença conhecida pelos inúmeros surtos de agressividade e alucinações.
Um ano após meu nascimento, minha mãe engravidou novamente e deu a luz à minha irmã, Mariana. Crescemos em um ambiente terrível com brigas repletas de palavras de baixo calão e agressividade física. Víamos diariamente minha mãe implorar por sossego, levando chutes, socos e humilhações. Até alguns anos atrás tínhamos marcas de sangue nas paredes, vestígios de que as brigas realmente aconteciam.
Em 2003, ganhamos a Yanna, filha de uma prima que não tinha condições financeiras e emocionais para criá-la pois possuía sérios problemas com drogas.

Com o passar dos anos, minha mãe tomou consciência de que aquela vida violenta não levaria um pingo de felicidade para ela e nem para seus filhos. Nos mudamos para primeira casa, em menos de duas semanas, meu pai já estava no portão gritando para quem conseguisse ouvir todas as imoralidades para minha mãe. Nos mudamos mais uma vez, mais uma vez houve brigas. Nos mudamos outra vez e de novo houve brigas. Devemos ter nos mudado umas sete, oito vezes. Ou mais.
Eu nunca conheci uma pessoa que relacionasse tão bem com diferentes tipos de pessoa como minha mãe, ela consegue ser amada por todos. Com essa facilidade e o grande talento na cozinha, minha mãe abriu seu primeiro bar e foi um sucesso enorme. Ela conquistava todos que entravam no salão, não só pelos pratos maravilhosos, mas também pela maneira intima e educada que tratava cada um que entrava ali.
Hoje, com anos após o divórcio e separação, minha mãe continua se comunicando com meu pai, as brigas são menos frequentes e mais controladas, meu pai passa grande dificuldade financeira por não conseguir administrar seu dinheiro e minha mãe lhe ajuda quanto à alimentação e orientação para que ele se mantenha o mais equilibrado possível. Com tudo o que eu vi e vivi, nunca poderia afirmar que as mulheres representam o sexo frágil.

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