Júlia

Juventude que tende a evoluir para uma vida adulta muito tranquila, a história dessa jovem ainda tem capítulos a serem escritos

guilherme
Mulheres de Belo Horizonte

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“Minha casa é onde estiver minha família. Atualmente com meus pais e irmão, mas futuramente com meu noivo”. Curiosamente falando diretamente de sua casa (que não será eternamente no lugar físico o qual essa entrevista foi feita), Júlia descreve sua vida assim como a frase acima. Para ela, não importa exatamente o lugar físico onde ela está, desde que esteja na companhia daqueles que a cercam com amor, carinho e atenção.

Sua vida foi cercada de mudanças. Mudanças mentais e físicas, uma não necessariamente seguindo a outra. Cidade pós cidade, ações pós ações. 23 anos de histórias para contar em uma vida que ainda continua se modificando dia após dia. E tudo começa em um lugar o qual ela sempre retorna.

Todas as histórias tem de se situar em algum lugar. E a dela começa em Coromandel, cidade pacata no interior do estado de Minas Gerais. Nascida lá, filha de mãe solteira a qual nunca se voltou a relacionar com o pai. Quando questionada das suas primeiras lembranças, se faz de desmemoriada. “Não lembro de muitas coisas dessa época”, diz Júlia. Para a cabeça dela, as memórias começam ao redor do sétimo ano na escola. As únicas coisas que se lembra são a boa relação com as primas, avó, e parentes em geral. Com a mãe, a relação sempre foi de glórias e tragédias. A mente costuma fazer esses truques.

Acolhida por um homem que se casou com sua mãe, o fez pai. Que na verdade sempre foi. Os princípios de casa, porto seguro se fizeram presentes ao passo que ele se fez presente, carinhoso e atencioso. Desde os 4 anos de idade, ela tem um pai, que é o pai que ela sempre teve. A partir daí, as memórias povoam a mente da jovem.

Momentos importantes se fazem na primeira mudança física, esta que se fez mental também. Aberta a novas experiências, Júlia se envolveu como criança descobrindo um mundo novo, que era a nova cidade. Curitiba. Cidade fria, porém acolhedora. Todo o tempo esteve animada com escola, primeiras amigas. Era tudo muito novo, e ela viveu intensamente, como criança que era.

A segunda mudança física já teve um atraso da mente que não queria acompanhar. Haviam laços fortes o bastante para que ela pudesse se desgarrar com facilidade. O começo da adolescência batia na porta, e a segunda cidade também. Uberlândia, cidade quente que acompanhou a empolgação de Júlia pela adolescência e uma vida pré-adulta. Se entregou, se entrelaçou de forma totalmente cordial, que era algo normal de se pensar.

A terceira mudança, mais duradoura, foi também mais desafiadora. Júlia se assustou com a hiperbólica cidade que a rodeava. Belo Horizonte engoliu-a com desconhecimento. O corte dos laços de Uberlândia foi brutal demais, e isso a sufocou. O bastante para querer se fazer de adulta e dar uma volta por aí. Logo, entendeu que lutar sozinha contra BH ela não teria chance. E aceitou se rodear de pessoas que fariam ela mais feliz.

A partir daí, sua vida se resolveu. Ela, ainda inspirada pelo espírito desbravador, conquistou partes da cidade que lhe interessavam. Se juntou de um companheiro, que a mostrou um lado adulto da vida. Os dois tão jovens e brincando de ser adultos. Aprenderam cedo demais.

Quis mais. Entrou para a vida acadêmica sem ter certeza se era isso. Não era. Passou por três anos que foram uma ponte para o que ela faz no momento. Tudo virou bagagem, a qual ela carrega na nova empreitada: confeitaria. Faz-tudo moderna, é empresária ao mesmo tempo que trabalha na cozinha, igualando a dignidade dos trabalhos, e mostra que não é pura e simplesmente sentada atrás de um computador que se pode ir mais longe. E foi.

Atualmente está banhada de uma tranquilidade, que não significa ficar parada. Gosta do andamento da sua vida, que é devagar e sempre. Sempre mudando, sempre evoluindo. Mas sempre voltando para (qualquer que seja) a sua casa.

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