A importância de ter uma Mentora

O processo de transição de carreira, saindo de uma linha já familiar de progresso e adentrando um mundo totalmente novo, com outros desafios, necessidades de outras competências e contextos diferentes dos vivenciados até então, pode ser bastante assustador. Essa é uma excelente razão para ter alguém experiente na área que eu almejava seguir como referência. A mentoria fez toda a diferença em todo o processo que eu estou vivendo.

Jess C - BR 30
Mulheres de Produto
8 min readFeb 27, 2023

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Assim, hoje optei por escrever sobre uma das maiores alavancas de resultado no meu processo de transição de carreira: minha (super) mentora em Produto.

Acredito que além do próprio processo de transição de carreira, ter uma mentora é essencial nos momentos em que estamos em fases de trajetória de acelerado crescimento na nossa carreira.

Aqui faço deliberadamente uma pausa para falar um pouquinho mais de diferentes momentos de carreira, minha percepção sobre eles e falar da referência do trabalho de Kim Scott. 👇🏼 Fique à vontade para pular para a próxima etapa do texto, se esse pedaço não te interessa ou se você já é familiarizado com ele.

Nossas diferentes fases de carreira. Qual é a sua?

Baseado no Growth Management Framework da Kim Scott.

Uma das minhas principais crenças como gestora de pessoas, é que vida pessoal e profissional são interdependentes na hora de pensarmos carreira. Em outras palavras, essa história que a vida profissional e pessoal são separadas, muito alinhada com algumas linhas de gestão de performance, para mim é a mais pura balela.

A vida pessoal influencia, sim, a vida profissional e vice e versa. Por isso é importante considerar o momento de vida de cada pessoa na avaliação de performance e discussões de carreira, bem como estar atento a distribuição de demandas no time, necessidades do negócio e perfis/motivações nas equipes para que a relação profissional/empresa seja predominantemente um ganha/ganha.

Sempre geri minha carreira intuitivamente a partir dessa crença/valores e sempre busquei trabalhar lado a lado com meus liderados (eles poderão dizer melhor) a partir dessa perspectiva. O que sugiro aqui é justamente para que antes de buscar uma mentora, você dê um passo para trás e faça esse exercício: Qual é o seu momento de carreira?

Segundo o modelo de Growth Management da Kim Scott (retirado do livro Radical Candor), é possível visualizar os membros de um time sob a perspectiva de performance vs trajetória de crescimento. Não vou discutir aqui a questão performance e muito menos as abordagens de gestão de cada “quadrante”, mas acho que esse framework pode ser extremamente útil para pensar trajetória de carreira e gostaria de sugerir algumas perguntas que sempre me faço para você avaliar seu momento.

Ele é de crescimento acelerado ou de estabilidade?

  • Como você se sente no seu trabalho? Avalie seus sentimentos como termômetro para entender se você deseja e está no momento de assumir mais desafios e com maior intensidade ou se deseja mais calmaria e estabilidade no seu momento atual.
  • Você tem momentos de flow (fluxo) com frequência no seu trabalho atual ?
  • Quais são seus objetivos de curto/médio prazo em termos de carreira?
  • Quais são os desafios que você está enfrentando na sua vida pessoal? O quanto de tempo e energia eles devem demandar de você em um futuro de curto e médio prazo?
  • Nas diferentes esferas de sua vida, qual o peso de 0 a 10 que você está atribuindo para cada uma (vale fazer o exercício da roda da vida). Como sua esfera profissional se posiciona frente aos outros? Quais são suas prioridades agora?

Considerando esse framework 👆🏼, eu diria que ter uma mentora é super interessante em momentos de crescimento acentuado, justamente porque reduz o tempo de aprendizado para as competências/skills que necessitamos a fim de crescer mais e mais rápido.

A mentora nos ajuda a mapear melhor quais são os pontos que necessitamos desenvolver, além de fazer apostas mais certeiras em quais oportunidades investir nossa energia. Eles possuem um recurso que é praticamente inestimável: experiência.

Por que ter uma mentora durante a transição de carreira para Produto?

Para falar porque eu acredito que toda pessoa que deseja entrar na área de produto poderia se beneficiar MUITO de uma mentoria, vou contar um pouco mais sobre o processo de decisão em ter uma mentora durante minha transição de carreira.

No meu caso, antes de buscar uma mentora, eu pesei os recursos que eu teria que potencialmente investir tanto para encontrar e manter uma relação de mentoria, como os potenciais ganhos que eu já tinha mapeado desse relacionamento (digo aqui potenciais porque no fim do dia eu tive muito mais do que esperava de resultado dessa oportunidade) e no final conclui que valia a pena.

Na época que fiz essa ponderação, não fiz um esqueminha bonitinho como o de cima, só passei mentalmente pelos prós e contras, porém super vale a pena usar uma matriz de decisão, como a acima para ver se o seu investimento tem o potencial de valer a pena e dar mais segurança de sua escolha em procurar uma mentora. Pessoalmente, no meu plano inicial eu queria fazer a transição de carreira em poucos meses (momento de crescimento de carreira) então achei que uma mentora ia ser chave para acelerar o processo.

🚀 DICA: Caso você esteja em dúvida sobre essa decisão vs outra, vale atribuir um valor numérico para os ganhos e recursos e assim você consegue comparar também esforço exigido entre iniciativas e potencial impacto.

Minha historia com minha mentora — aka fantástica Carina Farber

Depois que decidi buscar uma mentora, lá para o início de março, sendo bem sincera, não precisei fazer grandes esforços, porque a oportunidade apareceu na minha porta e tudo começou com um singelo post no Slack da Mulheres de Produto.

💡 Se você não sabe muito bem onde encontrar sua futura mentora, deixo algumas dicas aqui: LinkedIn, Medium, Comunidades no Slack, Facebook, WhatsApp/Instagram ligadas aos seus objetivos, na sua empresa ou em alguma que você admire, na sua rede de contatos pessoais, no seu grupo de amigos, amigos de amigos, Instagram, infinitas possibilidades. Uma vez que você entenda como escolher um mentor, as possibilidades de lugar vem a mente quase imediatamente.

Eu já conhecia a Carina do Nubank e também porque fizemos colegial juntas, o que me deixou mais confortável de mandar uma mensagem para ela, porém minha escolha de tentar uma das vagas de mentoria com ela veio baseada em uma série de outros fatores/pontos em comum, nos quais considerei que ela teria experiência/expertise para me ajudar nos meus objetivos de carreira.

Daí vem um ponto-chave: Como escolher uma mentora?

Acho que existem algumas perguntas-chave para avaliar potenciais mentores e vou compartilhar as que usei para chegar na conclusão que a Carina faria sentido como mentora para minha transição de carreira.

  1. Qual seu objetivo de carreira de médio/longo prazo? Como sua potencial mentora pode te ajudar a chegar lá melhor e mais rápido?
    Meu objetivo de carreira de longo prazo é: ter um trabalho em Produto e poder viajar por vários países ou/e morar na Europa. A Carina, vive no UK, trabalha com produto e viaja, então, ela fez o que eu quero fazer, ela deve conseguir me ajudar.
  2. O que você admira na trajetória e no perfil da sua mentora ? Quais competências técnicas e/ou comportamentais você mapeia sem ter tido uma interação com ele/a e que estão ligadas com os pontos que você precisa desenvolver para sua transição de carreira ?
  • A Carina é PO no Revolut, que eu sou super fan girl.
  • Tem experiência em grandes bancos e fintechs/payments, a qual é a indústria/área que eu gostaria de atuar em Produto, porque amo.
  • Tem conhecimento técnico e dos hard skills necessários como PM/PO.
  • Trabalhou na Lituânia e no Reino Unido, além do Brasil, sabe das diferenças, passou pelos processos seletivos, pode me ajudar com isso.
  • É mulher, latina e imigrante, sabendo na pele as dores e prazeres de ocupar esses papéis e como trazer o melhor deles, principalmente em outros países.
  • Tem experiência como mentora, o que chamou bastante minha atenção.
  • Tem seu background acadêmico em Business e CX, como moi.

3. Qual seu feeling em relação à pessoa? Por que você acredita que vocês poderiam estabelecer um relacionamento de confiança e uma conexão legítima? Essa pergunta pode ser polêmica, mas eu realmente acredito que a mentoria é uma relação de extrema confiança e para isso precisa precisa rolar aquele “click” de meu santo bateu com o da mentora e vice e versa.

E aí, ela me mandou uma mensagem perguntando se eu tinha interesse na mentoria e eu respondi que sim com um longo áudio no Slack. E aí foi isso, passamos por muitas fases, tempos de on hold da mentoria e seguimos juntas até hoje.

Aprendizados e perspectivas futuras da nossa mentoria

Se eu pudesse dar um conselho para pessoas que buscam um mentor é: levem para as sessões com a mentora ou conversas (se vocês trabalharem de forma assíncrona) os pontos que você acha que seu mentor pode te ajudar e as perguntas-chave nas quais você precisa de uma luz. Isso ajuda muito a fazer fluir as trocas e direciona seus aprendizados.

Dito isso, eu aprendi horrores com a Ca. Trocamos sobre conhecimento técnico, referências em payments, em conhecimentos de engenharia e tech, sobre métodos agéis, sobre certificações em produto, processos seletivos, ser mulher no mundo de produto, ser imigrante, dificuldades com gestão de stakeholders, equilíbrio vida pessoal e profissional, família e distância, estruturação de portfólio, conversas difíceis em time… Poderia fazer uma lista infinita aqui, mas deixei essa listinha só para dar um gosto de COMO essa troca foi importante e me ajudou a chegar onde eu estou e aqui cabe um grande, OBRIGADO CA, você foi fundamental nesse caminho.

Nesse momento, estamos trabalhando juntas muito na questão de processos seletivos, aprendizados e iterações constantes, preparação para entrevistas, cases e portfólios, mas no futuro, assim que começar a trabalhar com produto, com certeza vamos continuar trocando sobre nossas facilidades e dificuldades dentro do mundo de produto e eu espero poder aprender muito mais e alavancar minhas competências como PM, na prática.

O que eu posso contribuir para uma mentora e o que uma mentora ganha dessa relação?

A gente tem essa ilusão no começo da mentoria de que “só” a mentora nos ajuda a evoluir.

Parece uma via de mão única né? Só que não é, e isso talvez tenha sido um dos meus maiores aprendizados e um ponto que eu deixo como pergunta de reflexão para quem vai começar uma relação de mentoria.

O que você tem de único na sua experiência, trajetória, identidade que você pode levar para o sua mentora?

Com certeza você também tem muito a ensinar e ter isso claro, pode dar a coragem que falta para você abordar aquela pessoa que você deseja que seja sua mentora. Dito isso, encerro esse texto com uma das trocas de mensagens que me deixou mais feliz da nossa relação de mentora/mentorada que foi justamente sobre esse último ponto.

Então é isso, desejo que vocês encontrem uma mentora e desenvolvam uma relação tão rica e agregadora, quanto eu tenho com a minha. ✌🏼

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Jess C - BR 30
Mulheres de Produto

Curiosa e inconformada, produteira, coffee and cat lover. On a project to travel the whole Brazil during my 30s' and share with my readers my experiences