A liberdade das mulheres difíceis

Stefânia Viana
Mulheres de Produto
4 min readApr 17, 2019

Você é uma mulher “difícil”? As pessoas comentam que o seu jeito é muito direto? Que você tem uma resposta na ponta da língua para cada pergunta? Você não aceita os “nãos” da vida e vai atrás do que acredita?

Diante das situações acima, as pessoas te orientam a ser mais “calma” porque isso não é bem visto perante a sociedade?

Sejam bem-vindos a luta constante no mundo feminino!

Não consigo enumerar as vezes que me senti mal por ser considerada uma mulher “difícil”. Quantas vezes desejei ser mais meiga… Não é uma questão de não ser educada, pois sou. O problema para eles é que eu sou direta demais e isso é considerado como uma afronta à sociedade.

Sofri com os comentários e olhares tortos para esse meu jeito fora do padrão no ensino médio, na faculdade, no ambiente de trabalho e até no ambiente familiar.

Mas de uns anos pra cá me desapeguei ao que os outros gostariam que eu fosse, ao modo como eles acreditam que eu deveria ser… Esse é o meu jeito e a educação é presente em cada palavra e em cada atitude.

Semana passada me deparei com duas situações que me fizeram pensar muito e ao mesmo tempo me deixaram aliviada.

Recentemente estava em um meetup sobre Comunicação Não Violenta organizado pelo grupo Scrum Aplicado, e respondendo a pergunta de uma participante, a agilista Maíra Blasi externou um pensamento que mostra um pouco sobre a desigualdade de gêneros: ela disse que nunca ouviu um homem comentar o quanto as pessoas o achavam “difícil” de lidar. Que nunca viu um homem se sentir mal pelo seu jeito direto de ser. Em contrapartida, já viu muitas mulheres se sentindo mal e tentando mudar o seu comportamento para se encaixarem ao que os outros esperavam delas, ser “menos difícil” e mais “dócil”, pois isso seria melhor para elas.

Eu quero deixar bem claro para você, caro leitor — principalmente se você for mulher: mulheres não são “difíceis de lidar” só porque preferem tratar um assunto de forma mais direta e não usar “floreios” em uma conversa. Ser prática e objetiva nunca será sinônimo de falta de educação ou grosseria.

Mulheres não são difíceis de lidar porque sabem o que querem e vão atrás disso com determinação. E nem porque argumentam ao invés de se manterem em silêncio e acatarem algo que não faz o menor sentido.

Vocês já viram algum homem sendo chamado de canto pelo chefe, colega de trabalho ou algum familiar com a desculpa: “olha, só quero o seu bem e vou te dar uma dica: melhore o seu jeito. Seja mais meigo. Você é muito direto para resolver os assuntos e as pessoas não gostam disso, se sentem na defensiva”. Provavelmente a resposta seja não, porque homens com esse tipo de comportamento são considerados objetivos e são elogiados pela sociedade por serem líderes firmes e fortes.

Você consegue perceber o quão cruel pode ser julgar o comportamento de uma mulher quando se espera que ela seja meiga e doce e ela não é?

A sociedade quer que a mulher tenha uma postura de mulher delicada, que transpire feminilidade por cada poro iguais aos romances e contos de fadas, ensinando como devem se comportar para serem aceitas. Mas ao olharmos com mais cuidado para a história e para as vidas de mulheres ao nosso redor, vemos o quanto precisamos lutar e se esforçar muito mais para conquistarmos o mesmo espaço ocupado por homens. As exigências são maiores, e o que é de fato “difícil de lidar” são com as lutas que nós mulheres precisamos batalhar diariamente para termos a liberdade de ser quem queremos ser.

Todas nós acordamos e nos esforçamos logo cedo pelos nossos objetivos. Cada uma do seu jeito, cada uma com sua individualidade. Transpondo diariamente barreiras que muitas vezes, por costume, nem nós mesmas percebemos que existem.

Aceitar quem eu sou e lutar pela minha essência ficou ainda mais claro, quando recebi um print com a frase da escritora Lucy Foley: mulheres difíceis fazem história.

Após ler isso, a ficha caiu e todos os questionamentos que sempre fiz sobre o porquê de ser assim, tiveram uma resposta. O porquê era bem simples: eu sempre fui atrás do que quis em minha vida e isso talvez incomodou muita gente. Aprendi muito cedo que a vida não era fácil e que se eu queria algo, eu não podia me acomodar. Eu tinha que lutar por aquilo, mas sem diminuir ninguém para ter as minhas conquistas.

O meu jeito não me faz ser menos ou mais mulher. O meu jeito determina quem eu sou, no que eu acredito e no que eu vivo todos os dias, buscando valor e propósito em tudo que eu faço.

Eu não sou o “padrão de mulher” pregado pela sociedade e que muitos esperavam que eu fosse seguir. Eu sou a mulher que eu quero ser e estou satisfeita com quem eu sou.

Não tente mudar quem você é só para ser aceita pela sociedade ou para se encaixar nos padrões que foram criados ao longo da história por motivos que hoje não fazem o menor sentido. Aos poucos conseguiremos chegar onde queremos sem passar por essas situações chatas, traumáticas, preconceituosas e cheias de julgamentos.

Esse texto é para todas as mulheres que são chamadas de “mulheres difíceis”, para que tenham um pouco de acalento em seus corações e para terem em mente que: mulheres difíceis fazem história!

Um abraço cheio de amor para todos que entenderam o cerne da questão que trago nesse texto e que pretendem fazer do mundo um lugar melhor e mais fácil para nós mulheres.

Gratidão pela revisão da escritora Larissa Florindo s2

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