“By The Book” e realidade no Continuous Discovery — o que não apliquei igual a Teresa Torres

Asnate Souza
Mulheres de Produto
4 min readSep 22, 2022
Imagem do livro de Continuous Discovery de Teresa Torres

Meu objetivo profissional de 2022 foi utilizar o Continuous Discovery como meu método de trabalho.

Tudo começou uns meses antes, quando li o ainda recém-lançado livro da Teresa Torres e cheguei a conclusão de que tudo que ela estava falando parecia fazer muito sentido, e me ajudaria demais no desafio de criar um produto do zero como Product Manager.

Tem um tempo desde que escrevi um artigo sobre a minha experiência nos primeiros trinta dias, e desde então recebo mensagens sobre o assunto e de pessoas que gostariam de aplicar o método.

Esse é um post para ser justa: não consegui seguir tudo que está no livro, e acho importante quem leu a postagem anterior saber disso.

Mas é também um texto de apoio. Mesmo não seguindo ao pé da letra, o que consegui aplicar já trouxe resultados muito expressivos.

Ou seja, método não é um tudo ou nada.

O que não aplicamos

Não automatizamos o processo de recrutamento

Teresa começa o trecho sobre automatizar o processo de recrutamento com o seguinte parágrafo:

A parte mais difícil das entrevistas contínuas é encontrar pessoas para conversar. Para tornar as entrevistas contínuas sustentáveis, precisamos automatizar o processo de recrutamento. Seu objetivo é acordar na segunda-feira de manhã com uma entrevista semanal agendada sem que você precise fazer nada.

Na prática, vimos que isso é essencialmente verdade.

Não automatizamos porque não conseguimos operacionalizar um jeito de sempre deixar o recrutamento ativo, sem ser chato pro cliente e que não atrapalhasse o processo das outras squads também. E que tivesse um filtro, pra não nos encher de reunião.

Mas chegamos bem próximo, e tivemos diversos aprendizados durante os meses sobre formas de divulgar o recrutamento, fluxos em que faz sentido recrutar, parametrização de typeform, calendly, etc.

Além da automatização, a Teresa fala em usar os times que têm contato direto com o cliente como uma ponte no recrutamento. Até tentamos, e funcionou ás vezes, mas a Caju trabalha com reuniões curtas e bem objetivas com clientes, as pessoas acabavam esquecendo de recrutar.

Não seguimos o Experience Map

Um dos primeiros capítulos do livro se chama Visualizing What You Know, em que a Teresa fala para juntar o trio de produto, cada um desenhar como considera que é a jornada do usuário, discutir e chegar num consenso sobre a jornada através do Experience Map.

Como já tínhamos feito um trabalho anterior que mapeava a jornada, mas em outro formato, não passamos por essa parte do método. Refletindo agora, teria sido interessante, principalmente para pegar a perspectiva de Tech e começar na mesma página.

E um comentário sobre desenhar (ela deixa claro para não escrever). Sendo sincera, conversamos sobre e decidimos não tentar. Talvez a gente tenha perdido uma grande chance em melhorar nossas habilidades de design thinking, mas acabamos seguindo com fluxos mesmo, por puro costume.

Não entrevistamos toda semana

É triste ter que dizer que não tivemos entrevistas toda semana, mas por outro lado, com certeza entrevistamos com bem mais frequência desde que colocamos como objetivo falar semanalmente.

Tivemos 36 entrevistas em 9 meses, sem contar os bolos e conversas com clientes fora do formato de entrevista, um volume muito bom. Mas tivemos semanas com várias entrevistas, e nenhuma em outras.

Escrevendo esse post, eu revi minha agenda desde janeiro para ter certeza do que falar aqui. Em quase 90% das minhas semanas de trabalho, eu falei com algum cliente sobre uma oportunidade que estávamos considerando, mas em várias dessas conversas Design e Tech não participaram. E apesar dessa constância, várias vezes as conversas também não seguiram o padrão de perguntar ao usuário “me conta sobre a última vez que você…” e seguir.

É bem desafiador manter o ritmo de envolver o trio de produto, mas muito mais complexo é manter a entrevista num formato direcionado ao que estamos com dúvida no momento.

Isso não significa que falhamos

No próprio livro, Teresa Torres dedica um capítulo inteiro para falar: comece pequeno e repita.

Não deixe que o perfeito seja inimigo do bom. Comece falando com qualquer pessoa que seja como seus clientes. Melhore a partir daí.

Temos que começar de algum lugar, ir errando e ajustando, principalmente adaptando ao nosso contexto. É contra produtivo ficar batendo cabeça para seguir um método se isso tirar o foco do principal: gerar valor para o negócio e o cliente. Todas as adaptações são justas se o foco principal se mantém, e você não deixou de fazer algo por pura preguiça.

Percebo ganhos no time e no meu desenvolvimento desde que começamos a usar o Continuous Discovery.

Design, Produto e Tech interagem bem mais quando estamos num ritmo constante de discovery participativo. Isso gera produtos melhores, mais refinados e também mais contexto pro resto da squad.

E pessoalmente, vejo que meu entendimento sobre o cliente e minha capacidade de gerar valor ao negócio evoluíram, e muito mais por seguir a abordagem do que os processos (apesar deles serem importantes).

O que você não pode deixar de aplicar

Os processos podem sofrer ajustes, mas é essencial manter os conceitos que fundamentam a abordagem.

Descontrua a ideia de que discovery tem fim

Discovery não pode mais ser uma etapa antes do delivery. O time precisa todo dia descobrir coisas novas sobre a oportunidade ou sobre o cliente.

Esteja com o foco num outcome, não output

Por mais que te cobrem por “entregar a funcionalidade X”, você pode extrair qual o resultado que esperam ter dessa entrega e se direcionar por aí. Não deixe a sua mudança de mentalidade na mão de outras pessoas.

Utilize o conceito de oportunidade

O que o cliente quer e estamos nos propondo a entregar? Isso é uma oportunidade. Para o foco num outcome fluir, é necessário listar o que estamos querendo impactar na vida do cliente.

Gostou, ficou com dúvidas ou quer só bater papo sobre o assunto? Estou disponível no Linkedin.

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Asnate Souza
Mulheres de Produto

Product Manager. Compartilho sobre criar novos produtos do zero.