Como eu vim parar aqui?

Eu trabalhei 10 anos no mercado publicitário…

Marina Sala
Mulheres de Produto
5 min readJul 22, 2018

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…e fui muito feliz vivendo aquela bagunça onde todo mundo se ferra de tanto trabalhar e no fim a campanha sempre acaba indo pro ar na data imposta pelo cliente sem possibilidade de negociação.

Quando seu colega de trabalho faz uma homenagem pra você. Ou não.

Como gerente de projetos numa agência de publicidade, vivi muitas situações onde eu fui a última a ser envolvida num projeto, pra mandar alguém programar e depois colocar no ar… Ah, e com 2 dias de prazo, tá? Porque esse pessoal de tecnologia resolve tudo rapidinho, e o cliente não pode esperar mais do que isso.

E óbvio que nada daquilo era viável, mas só eu que enxergava assim. Fui obrigada a reinventar muita coisa pro projeto não morrer, o que não deixa de ter sido uma experiência muito válida. Exercitar nosso poder de questionar as coisas é sempre uma baita oportunidade.

Mas chega uma hora que é natural começarmos a questionar não só a ideia do projeto que tem que ir pro ar amanhã e vai atrasar, mas as nossas escolhas ao longo da vida e o nosso papel na sociedade.

E nesses últimos anos, a minha luz no fim do túnel foi a oportunidade de trabalhar com operações, oportunidade essa que aqueceu meu coração e ao mesmo tempo me cegou numa utopia onde eu acreditava que eu ia conseguir organizar tudo e depois disso meu trabalho passaria a fazer sentido. Meu esforço seria em prol dos meus colegas refazerem menos e produzirem mais. Maravilhoso, né? Mas é claro que não foi desse jeito.

Sofri muito tentando convencer as pessoas a trocarem a roda de madeira daquela carroça por um pneu, e no fim eu até consegui deixar a roda um pouco mais redonda… Mas continuou sendo de madeira e o aprendizado aqui foi assumir a derrota.

O mercado me disse que queria emagrecer mas comia uma panela de brigadeiro todo dia e depois vinha achar ruim comigo porque não perdia peso nunca.

Cansei de criar e resolvi ir estudar alguma coisa que me trouxesse outra perspectiva disso tudo. E apesar de eu ter gostado muito de ter estudado comunicação, eu já sabia que não queria continuar estudando isso, mas que eu queria unir isso com outras coisas. E foi aí que eu fui parar num programa de mestrado acadêmico que tinha a ver com tudo o que mais me encantava nisso tudo desde sempre: a tecnologia.

Eu não sei onde eu tava com a cabeça de ter me enfiado nessa encrenca, mas sei que eu não me arrependo um minuto de estar aqui nesse exato momento querendo deitar em posição fetal porque preciso terminar de escrever a minha dissertação.

Ter lido textos que no final eu chorava porque eu achava que eu não tinha entendido nada abriu a minha cabeça em todos os aspectos, mas a principal lição foi que eu consigo aprender, e por em prática, muito mais coisa do que eu imaginava.

Eu já sabia que eu queria chegar ao final de um dia de trabalho dedicando meu tempo a alguma coisa que fosse útil na vida de alguém, e pela influência do meu marido que estava trabalhando com produto digital, eu comecei a conhecer mais de perto o que era isso e fiquei maravilhada. Uma área "nova", onde tá todo mundo estudando e aprendendo o tempo todo, descobrindo juntos como fazer as coisas darem certo. Era tudo que eu queria!

Comecei a me candidatar a várias vagas… Era um mundo de possibilidades na minha frente. Mas ninguém nunca me chamou nem pra conversar. O que tava errado comigo?

Essa transição de gerente de projetos pra gerente de produto não parecia ser tão sofrida. Eu já tinha colocado tanta coisa no ar, sabia o que eu precisava saber de tecnologia pra fazer a gestão desse tipo de projeto, tinha muito tempo de experiência com gestão de projetos e ainda tinha experiência com gestão de pessoas, além de experiência de negócios lidando direto com o cliente… Mas por que ninguém nunca nem me chamou pra conversar?

Eu resolvi provar pra esse novo mercado que eu era capaz, e bati na porta da empresa de um amigo com a proposta de fazer um estágio.

Eles carinhosamente me aceitaram ❤ e foi a melhor coisa que eu fiz porque eu pude colocar em prática muito que eu estudei e ouvir falar sobre produto digital. Eu pude fazer o test-drive antes de decidir comprar esse carro.

Vivi o dia-a-dia do scrum, escrevi minhas primeiras user stories, logo me tornei a loca-do-asana, o termo backlog passou a ser parte do meu vocabulário, descobri o mundo do desenvolvimento nativo, aprendi a testar a API do cliente no Postman, revivi meu lado adormecido de atendimento publicitário lidando com o cliente diariamente e planejando junto dele nosso maravilindo roadmap, e comecei cada vez mais a enxergar tudo aquilo colocando a experiência do usuário em primeiro lugar. Comecei a me sentir cada vez mais dona dos meus produtos, a ponto de ter sido bem difícil dar tchau pra eles quando o meu contrato acabou.

Como não amar?

Aprendi até a programar meu próprio robô no campeonato de Robocode :)

Uma vez eu perguntei pra minha mãe se ela já tinha parado pra pensar que talvez ela tivesse um talento não descoberto, e que se ela descobrisse ela seria uma engenheira mecânica que mudaria o futuro do mundo, em vez de professora de química. Ela disse que sim, todos os dias. Mas que não dava pra saber, então ela tomava café da manhã e depois ia pra escola dar aula.

Talvez se eu fosse biomédica eu tivesse potencial pra encontrar a cura do câncer. Mas a vida me levou pra um caminho que me parece ser o melhor que eu posso seguir nesse momento… E eu escrevi tudo isso pra concluir que eu quero ser gerente de produto, product manager pros english speakers, PM pros mais íntimos.

Tudo que eu vivi até agora me indica que meu perfil e minhas experiências anteriores vão ser mais válidas trabalhando com isso do que com tudo que eu fiz antes disso, porque é preciso conhecer um pouco de tudo, que coincidentemente bate com um pouco de tudo que eu já fiz.

Sei que ainda tem muita coisa pela frente pra estudar, pra aprender, pra viver e até pra se arrepender. Mas às vezes é preciso se perder pra se encontrar, então essa é a minha aposta pra agora.

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