Como foram meus 3 primeiros meses na gerencia de produtos em tempos de COVID

Sofia Fuser Galvao
Mulheres de Produto
7 min readMar 10, 2021

Todo mundo fala muito da teoria e pouco de como de fato é. E eu vim aqui contar para vocês um pouquinho da minha história e de como está sendo essa experiência nos últimos 3 meses.

Como é começar a liderar um time todo em tempos de pandemia?

Fonte: Voluntariado Empresarial

Bom, no início deste ano, assumi a gerência da área de produto na Farmarcas, empresa que amo e sou fã, não só pelo cuidado com as pessoas, mas pelo nosso presidente, que é um cara que cuida de verdade das pessoas, exemplo de líder e de ser humano.

E como toda empresa temos o “nosso jeitão de ser” cultural, e com isso nós temos algumas peculiaridades. Na gerência de produtos de qualquer empresa é comum que um(a) gerente de produto faça uma “miníma” liderança dos colaboradores, afinal eles quem entregam os nossos tão sonhados produtos, mas ainda assim tem um outro gerente que vai apoiá-los e desenvolvê-los do ponto de vista de gestão mesmo, não digo nem técnico ou de tecnologia isso, acho natural também.

Porém, aqui na Farmarcas, além da gestão de produto, ganhei no fim do ano passado um desafio de liderar, fazer gestão e desenvolver pessoas, desafio esse que estou amando e me desdobrando para desenvolver, com todo o apoio da empresa e do meu chefe, e isso está sendo muito legal, além de uma mega ferramenta de autoconhecimento, para mim mesma.

Dito isso, queria contar um pouco de como está sendo esses últimos meses. Em Janeiro voltei de férias com as ideias a mil, um monte de coisa na cabeça e querendo colocar tudo para execução, e em paralelo as entregas acontecendo. Como o foco era nas entregas e nos planejamentos do ano, deixei as ideias de lado para focar nas prioridades e necessidades do momento.

Eis, que em paralelo, na minha vida pessoal (não acredito em divisão trabalho e pessoal), meu primeiro balde de água fria veio, recebi o diagnóstico de Borderline invísivel — Por favor, respeitem por que não é fácil assumir isso abertamente, para ninguém. (Algumas pessoas podem ler e falar ~NOSSA~ ela é suícida, e na verdade, não, não sou.) Com isso comecei um processo de entendimento de alguns comportamentos meus, como um esforço meu excessivo para evitar abandono (de infância, que achava que eram traumas por conta dos meus pais), impulsividades, sentimentos de vazio, entre outros. Bem, tomei disso para me conhecer melhor e me entender, e no começo fiquei assustada, quanto mais lia, mas tinha medo. Mas, depois de um tempo comecei a ver que é natural e mais de 70% dos casos são em mulheres, e muitas não sabem que tem e vivem com isso completamente bem, então, eu entendi que aquilo não me faria morrer, pelo contrário.

Saber daquilo me tornaria mais forte e faria com que me comportasse melhor e de forma mais adequada diante dos desafios que a vida me apresentasse, pois fez eu me conhecer melhor.

Desse ponto em diante foi só aceitação e melhorias, e levei isso também para meu âmbito de trabalho e comecei a me observar e observar ainda mais meus colaboradores por que queria entender eles mais do que só o trabalho, até escutei alguns comentários como: “Você está mais quieta”. Enfim, eles são pessoas, pessoas sensacionais por sinal, e era isso que queria entender por que de determinado comportamento X ou Y e isso me fez trabalhar observação, empatia e muita mas MUITA mesmo escuta ativa, para desenvolver o melhor deles, e o que pra mim tem sido ótimo até para meu crescimento enquanto gestora também.

Isso tudo acontecendo dentro de Janeiro, já no mês seguinte observando o time e vendo o tanto de demanda que tínhamos comecei alguns processos seletivos de PO, UX e Processo por que o time que tínhamos não daria conta e também estávamos no meio de uma mudança grande e estrutural do time, redistribuindo e mudando alguns processos, “realmente organizando a casa”.

E lá veio outro balde peguei uma amigdalite, mas uma amigdalite sem precedentes na história, não conseguia beber água, febre alta, imunidade baixa, até ai “tudo bem”, fiquei de home office 3 dias, minha empresa (falo minha como se fose dona rs, mas quero dizer onde trabalho) já estava no presencial (com todos os cuidados possíveis), porém com a pandemia quem ficasse doente ou com qualquer sintoma a orientação, era, ainda é ficar em casa.

Beleza, tudo passou, fui pro escritório numa sexta, trabalhei normal, seguimos. E do nada meu chefe me liga no domingo a noite, falando que tive contato na sexta-feira com uma pessoa que tinha dado positivo para COVID no sábado, entrei em pânico, por que ainda estava com a imunidade baixa, e também convivo com pessoas de grupo de risco. No domingo ainda para me deixar mais tensa, não estava me sentido completamente bem, estava com um pouco de sinusite, fiquei de home office (gosto do home office para atividades pontuais, mas full é muito cansativo, preferia o presencial) novamente e resumo : Me isolei em home office num Domingo a noite. Segunda, tive febre. Terça, perdi o olfato. Quarta, fiz o PCR e saiu positivo para COVID-19. E então todos os sintomas começaram a aparecer mais fortes ainda, falta de ar latente, febre, dores no corpo e cabeça, indisposição generalizada, fora o incomodo de perder 100% de olfato e paladar.

Mas por dentro a cabeça estava:

Meu deus, preciso me recuperar logo, meu time está precisando de mim, quero voltar, precisamos contratar as pessoas e finalizar a organização dos nossos processos, preciso cuidar deles e conduzir essa mudança de uma forma perfeita e que todos fiquem bem!

(A perfeição, que aprendi nesses meses, que não existe, rs)

Fiquei extremamente ansiosa e me cobrando de melhorar logo, preocupada, que tinha acabado de assumir, com medo ao mesmo tempo. Mas, meu corpo estava querendo me dizer algo e eu não estava percebendo, não entendia. 7 dias se passaram, comecei a me sentir melhor e eu quis voltar a trabalhar (era para ter ficado 10 dias afastada), mesmo de home office ainda, mas quis retomar, precisava daquilo!

Vivo para cuidar dessas pessoas agora, meu propósito de vida sempre foi:

Fazer algo que impacte a vida das pessoas de forma positiva. E ao entrar na Farmarcas, eu ganhei sentido no meu trabalho.

Bem, voltei a trabalhar numa quinta-feira, voltava na segunda-feira seguinte já para o escritório, trabalhei quinta-feira normalmente, e sexta também. Tivemos o nosso check in de OKR´s com o time, seguimos, tudo bem.

Na madrugada de sexta para sábado acordo gritando de dor em casa, assustada fui ao pronto socorro e o master balde de água fria veio, quando achei que iria voltar para o escritório, fui internada pela primeira vez na vida em isolamento por 10 dias aos 23 anos, com uma pessoa que eu nem conhecia me dando banho por que não tinha condições de ficar em pé, não podia acompanhante, fiquei desesperada. Isso tudo, por conta de uma complicação que tive com o COVID, estava com piolenefrite, com uma bactéria oportunista, que pela baixa imunidade já das outras doenças, ela se instalou nos rins e bexiga, eu como resistente a dor nem percebi, cheguei ao PS a médica me disse:

“Menina, por algumas horinhas vc não morre por um choque séptico”

Na hora eu não tava entendendo nada estava agonizando de dor, tomei tramal e fui internada, os primeiros dias foram de muito medo e incertezas, além do quase choque séptico, tive uma reação alérgica que me deu um principio de choque anafilático, quase fui para a UTI, fiquei com oxigênio, arranquei um acesso dormindo e acordei ensanguentada (parecia filme de terror), e por fim acabei fazendo um procedimento para passar um cateterer central que vai até o coração, para conseguir tomar os remédios, e nesse momento minha chavinha do psicológico mudou completamente, até o momento da internação, minha cabeça estava ansiosa e eu me cobrando que precisava voltar a trabalhar, mas aí que me caiu a ficha, e pensei:

“Epa, peraí! Eu também sou uma pessoa, e para cuidar de pessoas eu também preciso estar bem, também preciso me cuidar”.

Em resumo: No hospital consegui racionalizar alguns sentimentos que estava em relação a trabalho, colegas de trabalho, e meus colaboradores, consegui entender que também tenho meus momentos, que preciso de paciência e observação, que também vou errar apesar dos diversos acertos, e que as pessoas vão lembrar apenas dos erros, que perfeição não existe, e principalmente que preciso me ouvir e ouvir meu corpo também.
O que fica pra mim desses últimos meses é que tudo tem seu tempo, que antes de cuidar do outro preciso me cuidar, ter empatia comigo também e que coisas boas acontecerão, sempre!

Mas Sof, como foi a volta para o escritório?

Cenas dos próximos artigos, rs

No começo de Abril conto para vocês como foi/está sendo esse fim de mês e de trimestre. Mas como não me aguento, posso dar um spoiler? 😂 Cheio de planejemanto do Q2, uma recepção calorosa do meu time, com vários feedback´s positivos sobre mim e também construtivos❤ , MUITOS Discovery´s e alinhamentos com stakeholders!

#FogueteNãoTemRé 🚀

#productmanagement

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Sofia Fuser Galvao
Mulheres de Produto

Mulher, Bissexual, Cearense, Produteira, Curiosa, Apaixonada por gatos e trilhas.