SILÊNCIO NO TRIBUNAL: LÁ VEM A FOGUEIRA

Paula Santana
Mulheres de Produto
7 min readAug 22, 2018

Estou aqui de novo para mexer em algumas feridas. Se você pensa que está acima de qualquer suspeita, é o paladino da justiça e que pode definir o que é certo e errado… vem cá rapidinho.

Aqui nesse Medium a gente trabalha com a transparência. Em alguns momentos, até demais! Gosto de trazer reflexões sobre algumas fases da minha vida. Agora, vou falar sobre uma das coisas que marcaram o início da minha vida adulta: Julgamentos.

AQUELE CONTEXTO QUE EU GOSTO HEHE

Como eu já me senti muitas vezes…

Durante muitos anos da minha vida, eu me senti julgada e, por consequência, subjugada(aí que esta, quem nunca?). A sensação era a de que eu estava sempre na fogueira enorme (tipo as de festa junina só que sem as festividades), com bolhas de queimadura destruindo a minha pele e uma vontade imensa de sair correndo acompanhada por uma sensação de incapacidade enorme.

É muito mais fácil julgar atitudes e rotular alguém do que entender o momento daquela pessoa. Erros e mudanças não são uma possibilidade, gente, eles são uma realidade. A menos que você seja o Peter Pan, é pouco provável que a sua personalidade seja exatamente a mesma da sua adolescência ou infância. A gente muda… e tudo bem!

- Eu vejo pessoas julgando!
- Com que frequência?
- O tempo todo!

O seu santo não é obrigado a “bater” com o de todo mundo. Mas você realmente acredita que o problema está exclusivamente no seus chefes, líderes, amigos, colegas ou naquele ser que lançou um empurrão inesperado na integração do Metrô com a CPTM?

Eu não vivi tanto assim, mas eu aprendi que se o “santo não bateu”… cabe a mim escolher mudar isso… e tentar várias vezes até dar certo e o “santo bater”, nem que eu tenha que bater nele um pouquinho rsrs.

E QUANDO O SEU RÓTULO NÃO ME DEFINE (MAIS)?

Tenho estudado a Comunicação Não Violenta e um dos principais conceitos é perceber que toda pessoa é única, portanto, ela tem um mapa de mundo exclusivo. E, cara, como isso interfere na comunicação, nas atitudes e nos nossos entendimentos!

Haaaa, beleza! Então, vamos usar isso como desculpa para detonar outra pessoa? Não, né! Agora que você tem consciência disso, entenda que muitas vezes esse comportamento surge de forma inconsciente. Por isso, é nossa responsabilidade exercitar a percepção!

Quando um grupo se une em pró de definir o que é certo ou errado, parece até a Liga da Justiça.

Quando indivíduos possuem a mesma opinião (ou necessidade não atendida em CNV) sobre outra pessoa, elas costumam se juntar em prol de justiça! Tudo o que envolve aquele ser é estudado, classificado e medido, das atitudes aos respectivos desdobramentos. É quase poético quando você pensa que o principal objetivo é estabelecer o bem coletivo: a gente só quer tirar a maçã podre do balaio!

Legal, mas pessoas não são maçãs. Somos muito mais complexos do que isso! Não dá para simplificar dessa maneira.

Sem passar pano para babaca: tem gente que sabe ser maldoso(quem nunca, novamente). E eu vou te dizer, essa não é uma atitude bacana.

A vida não é um daqueles filmes de escola americana, em que existem “os populares”, “as minorias”, “os isso” ou “os aquilo”. Vamos abrir a cabeça, vamos QUESTIONAR!

NÃO, EU NÃO SOU TUDO ISSO

Aaaaa, parece que eu sou a garota que merece o prêmio Nobel da paz, né? ERRROU! Eu escrevo sobre coisas que eu vivi ou que eu percebo em mim. Respeito meus pontos fortes e reconheço os fracos, sempre refletindo sobre a minha vivência. Até porque, se fosse para falar de algo aleatório, eu escreveria história em quadrinho. Não é o caso rs.

Entendo que é natural para o ser humano classificar e agrupar. A gente aprende a fazer com coisas e logo transferimos para pessoas, seja porque aconteceu na família, na escola ou no bairro, por exemplo. Comigo é igual. Ter consciência disso só amplia a minha percepção, mas não elimina esse comportamento da minha vida (estou trabalhando nisso).

O EXERCÍCIO É DIÁRIO

O grande lance é abrir a cabeça para novas possibilidades. Uma boa ideia é rodear-se de pessoas que tem uma visão aberta e entendem que todo julgamento pode ser analisado de outra forma. Geralmente, essas pessoas rompem o ciclo de julgamentos e agregam pontos positivos. Eu tenho procurado estar próxima de pessoas que me ajudem quando eu entro nesse loop. Se eu sou a média do resultado das pessoas mais próximas… eu quero sempre rodeada de pessoas que me façam refletir.

E isso pode mudar o rumo de uma conversa, a forma de olhar para alguém e… já pensou se de um mal entendido a gente constrói uma amizade? Lembre-se do que já dizia o grande Rei Roberto Carlos: “eu quero ter um milhão de amigos…” hahaha.

Eu erro? Sim! Eu julgo? Também! A única diferença entre meu hoje e o meu ontem é que a cada dia eu trabalho um pouquinho mais para melhorar.

Fogueira, fogueira, fogueira

Sem vitimismo: eu vivi um momento profissional de muito julgamento. Carregar rótulos e estigmas no lugar onde você passa a maior parte do seu dia. Não é legal, na verdade é tão exaustivo que a carga se torna física.

E isso pode acontecer de várias formas. Pode ser que venha de um comentário infeliz, de uma brincadeira fora de hora ou de um tom de voz diferente. Agora, imagine se esse problema de comunicação começa a afastar as pessoas? E algumas, que eram suas amigas, param de falar com você? Sem contar naqueles que não te conhecem, mas que ouviram falar de coisas que você nunca disse… e, agora, não dão nem o bom dia corporativo? É, parece que você virou um fantasma.

Entenda: as pessoas erram e têm o direito de se redimir. A não ser que você seja o paladino da justiça do começo do texto. Aí, pessoa iluminada, faça a sua parte e ensine para quem ainda é um mero mortal em evolução.

QUANDO QUEIMAM SUA IMAGEM E SUA PELE JUNTO

Lançar a faísca da treta no ambiente de trabalho pode dar prazer, isto porque é o exercício de um poder de influência. Se a pessoa não pensou antes de sair falando algo que te magoou, meu, conversa com aquela pessoa. Quem foca em dar o troco, não foca em aprender e nem em crescer junto.

Nessa relação, não importa quem começou. Uma pessoa se torna o opressor e a outra é o oprimido. E isso envolve uma posição natural de defesa. Nem que essa defesa seja atacar primeiro. Sem justificativas vazias: causar dor em outra pessoa não é natural, a gente precisa rever isso aí.

A vida não precisa ser um banho de sangue, suor e lágrimas. Enquanto os Juízes da Vida dormem tranquilos, muito provavelmente as pessoas que eles julgaram estão sofrendo. E a cada vez que esse ser humano volta para casa, ele se prepara para ir para o fogo no dia seguinte.

E NISSO A PELE ENGROSSA

E mais problemas vão surgindo. E, de repente, uma faísca virou uma fogueira que, enquanto render, vai ter gente disposta a alimentar aquela situação. É o famoso colocar mais lenha na fogueira, que nesse ponto já pode ser algo próximo de uma bola imensa pegando fogo. Horrível.

Você quer consequências, @? Que tal depressão, ansiedade… Tudo isso é cruel.

Quando você identificar que sua pele ou a de alguma pessoa está ficando grossa, pare e reflita. Julgar por si só é muito vazio. Pior ainda é se resguardar em uma posição de superioridade sem usar os seus recursos para ajudar. Em relações sérias e maduras, ninguém perde por ser transparente.

Entenda o ponto de vista da outra pessoa e mostre o seu ponto de vista. Faça um esforço para entender o que gerou aquela situação, digo da sua parte e da pessoa. Eu realmente acredito que nós enquanto sociedade devemos mudar essa estrutura de tribunal social.

E NO MEIO CORPORATIVO?

Existem grupos de pessoas que se identificam e tudo bem. Afinidade é exercício diário! Só lembre-se que isso não justifica maldade. Já pensou na quantidade de funcionários infelizes? Nos projetos que param? Na má qualidade de entrega? E tudo o que impacta no resultado dos times?

A gente não quer só mesa de sinuca, vídeo game e mesa com frutas. A gente quer mindset de crescimento e ambiente seguro e isso envolve as pessoas, afinal tudo envolve pessoas.

Reflita antes de julgar e rotular, entenda que você não ganha nada e não ajuda ninguém com esse tipo de atitude. Seguimos tentando ser a nossa melhor versão, mesmo que aos trancos e barrancos.

E, se for aos barrancos, que tal a gente pegar um belo pedaço de papelão, sentar em cima e rolar ladeira abaixo de uma forma divertida?

A forma como pensamos e refletimos sobre padrões e atitudes passadas pela sociedade à nós ajudam a mudar o mundo ao nosso redor. ;)

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