Como liderar por influência.

Toda PO/PM precisa aprender a conquistar a confiança e o respeito do time de desenvolvimento.

Conversando com uma de minhas mentoradas essa semana, percebi que um desafio muito comum entre Product Owners e Product Managers juniors é conseguir assumir uma posição de liderança na equipe.

Para nosso sucesso como profissionais, nós, mulheres de produto, precisamos ser especialistas em liderança por influência. Ainda mais considerando que temos de lidar não somente com o desafio de liderar um time que não gerenciamos, como fazer isso driblando o preconceito e pré-julgamento que sofremos simplesmente como mulheres no mercado de trabalho.

Poderia dedicar um artigo inteiro explicando a diferença entre liderar por influência e outros tipos de liderança, mas para o fim deste artigo, podemos nos satisfazer com as seguintes afirmações:

• A liderança por influência é uma das mais difíceis de se exercer, porém, definitivamente, a mais eficiente.
• É a liderança ideal para Product Managers e Product Owner, que não são gestores das pessoas com quem trabalham, porém precisam tomar decisões e dar direcionamentos sob uma posição de autoridade.
• Ter autoridade é diferente de ser autoritária. A autoridade é uma percepção que o outro tem de você, que o torna mais propício a confiar em suas ideias e decisões, enquanto o autoritarismo é um modelo de gestão que se baseia na obediência absoluta.
• A liderança por influência coloca você em uma posição de autoridade, por meio da inspiração e do respeito.

Preciso confessar que nunca me aprofundei em livros e artigos sobre o tema de influência, justamente por ser uma habilidade forte, que desenvolvi desde muito jovem. Nos parágrafos abaixo vou dar algumas dicas sobre comportamentos que vão te ajudar a conquistar uma posição de liderança no time, que aprendi ao longo da minha vida pessoal e profissional.

Transmita confiança e clareza em suas comunicações

Essa primeira dica pode parecer um pouco óbvia (e é), porém é uma das mais difíceis de se aprender, pois depende de um atributo muito escasso na comunidade feminina: auto confiança. Para transmitir confiança, é necessária estar confiante, e para a comunidade de mulheres que passou e passa diariamente por situações de opressão, a busca pela auto confiança rende anos e anos de terapia.

Quando eu tinha 11 anos, já possuía um nível de inglês acima da média, pois minha família é de imigrantes, fugitivos do Holocausto, e sempre me comuniquei em inglês com minha avó e alguns outros familiares. Para transformar meu privilégio em algo produtivo para a sociedade, comecei a dar aulas voluntárias de Inglês para alunos do ensino médio de um colégio da comunidade de Heliópolis, em São Paulo.

Conseguem imaginar uma menina de 11 anos dando aula para estudantes de 15 a 18 anos? Eu precisei criar uma autoridade que eu não possuía. Como fazer um grupo de adolescentes respeitar uma menina? Não foi fácil, mas eu aprendi que a confiança vem de dentro para fora, e não o contrário. A vontade que eu tinha de ajudar esse grupo de adolescentes a aprender inglês era maior do que o meu medo de ser julgada, ou criticada.

Essa mesma mentalidade precisa ser aplicada quando você for se posicionar na frente da sua equipe: o que é mais forte? seu medo de passar vergonha, ou estar errada, ou sua vontade de ver o produto evoluir e o time crescer e se desenvolver?

Fortaleça o propósito e levante a moral do time

Muitas vezes a dificuldade de comunicação e liderança vem da falta de um "pacto", um senso de propósito comum, entre a líder de produto e o time. Se você está assumindo uma nova equipe, ou já trabalha há anos na mesma equipe, não importa: reforce o propósito do time, crie no time uma vontade de se destacar pelo trabalho na empresa, de se tornar um exemplo e uma referência interna.

Pode parecer exagero, mas eu fiz e continuarei fazendo isso com todos os meus times. Sempre que assumo um novo time deixo claro que minha intenção é construir um time que é amigo, que trabalha junto e que se torna referência para os outros squads. Deixar claras as suas intenções de construir um bom time, que rema junto, faz sim diferença na hora de conquistar o respeito mútuo.

Compartilhe seu conhecimento de produto e envolva o time no negócio

Um ponto essencial para comprar o time é ter um roadmap e uma estratégia de produto inspiradora. Compartilhe sua pesquisa com o time, compartilhe seu conhecimento e deixe o time por si só que você tem uma ótima visão para o futuro do produto.

Quanto mais o time souber sobre o que você faz, mais respeito vão construir perante seu trabalho.

Sempre que aprender algo novo sobre o produto, sobre o negócio e sobre seus usuários, compartilhe com o time, peça a opinião deles, e os envolva na solução de problemas.

Valorize e construa uma relação com cada membro do seu time

Assim como para você, ser mais confiante te ajuda a melhorar como profissional, o mesmo se aplica para cada membro do seu time. Uma boa líder sabe levantar a auto estima de cada integrante de sua equipe, elogiando em público, valorizando e construindo uma relação.

Algo que considero de extrema importância quando se assume a liderança de um time é assumir a responsabilidade pela felicidade do mesmo. Sim, a Scrum Master é responsável pela saúde do time, mas você como líder, também precisa assumir essa responsabilidade para com a equipe.

Como fazer isso? O primeiro passo é construir uma relação pessoal: marque momentos divertidos, como cafés, noite de jogos, dentro outros momentos de conexão, seja de forma presencial ou remota.

O segundo passo é construir uma relação profissional: comunique ao time quer conhecer melhor cada um para entender seu momento profissional, onde querem chegar, o que gostam no time e empresa atual e o que pode melhorar. Isso é um pouco o papel de um gestor, e você, por não ser gestora do time, não poderá dar uma promoção, ou um aumento, mas o gestor de cada pessoa do time com certeza irá de procurar na hora de do feedback.

O terceiro passo deve ser praticado com certa constância e é valorizar a pessoa que trabalha com você, sempre perguntando como cada um está, como foi o final de semana, e como está o trabalho. Quem pergunta, é quem se importa, e normalmente quando nos importamos com alguém e demonstramos nosso interesse genuíno, o mesmo carinho é retribuído.

O último ponto é sempre lembrar de elogiar em público quando alguém do time faz algo legal. Não precisa ser nada muito grande, quanto mais elogios melhor. Se puder, mostre sua gratidão e apreciação pelo seu time em espaços maiores que o do squad, pois assim você promove seu time para a empresa e o time vai perceber que pode contar com você para dar a visibilidade que merecem.

Seja receptiva quando alguém discordar de você

Uma das piores atitudes de uma pessoa em posição de liderança é ter a certeza de que está certa e sempre ter um roteiro pronto para invalidar quaisquer argumentos divergentes. Uma qualidade incrível de bons líderes é saber a hora de escutar, a hora de falar "não sei" e a hora de falar "vamos repensar".

Líderes inteligentes aprendem com seu time, e deixam que o time fale, se posicione, e ajude a melhorar o trabalho. Um líder que assume a necessidade de sempre ter todas as respostas perde o respeito, o engajamento e a empatia do time.

Saiba quando é necessário dar a palavra final

Líderes por influência não mandam no time, mas sim fazem propostas e influenciam o time a aceitá-las, fundamentando suas ideias e deixando claro o resultado esperado com a mudança. No entanto, isso não significa que a líder de produto não terá a palavra final.

Quando abrir temas para discussão, se perceber que o time não está naturalmente chegando em um consenso, tome a iniciativa de apontar para o time que a discussão não está fluindo e se encarregar de tomar uma decisão final que terá de ser respeita pelo time. Faça um combinado com o time: se comprometa a sempre escutá-los e tomar decisões fundamentadas, se o time se comprometer a respeitar a sua decisão final, quando não há um consenso.

Não mande, proponha

Uma das coisas mais difíceis de se fazer em uma posição de liderança é conduzir mudanças: novos processos, novas atividades, novas formas de se pensar.

é muito fácil chegar para o time e falar: a partir de agora vamos trabalhar assim. No entanto, uma líder por influência, precisa, literalmente, influenciar o time a mudar, ao invés de impor a mudança.

Um ótimo exemplo que vem em mente é o de introduzir uma nova reunião para o time de desenvolvedores. Quem já tem alguma experiência em produto sabe que desenvolvedores são, em geral, extremamente resistentes a participar de novas reuniões, e com motivo.

Como usar a ideia de propor ao invés de mandar, para por exemplo, introduzir num time o hábito de fazer cerimônias de refinamento de backlog?

Saiba introduzir o tema como uma sugestão e não uma mudança obrigatória, que precisam “engolir”.

Apresente a proposta do refinamento de backlog no melhor momento para isso: a retrospectiva, já associando o refinamento com os problemas que acontecem quando não o executamos corretamente:

• Histórias gigantes que se arrastam de sprint em sprint;
• Time com tarefas mal distribuídas (alguns desenvolvedores sobrecarregados, outros sem atividade);
• Histórias que precisam de discovery (seja ele técnico ou de negócio) durante a sprint de desenvolvimento;
• Plannings extremamente longas e exaustivas.

Não imponha o refinamento de backlog como uma nova mudança oficial, traga como uma proposta, um experimento a ser testado para solucionar os problemas atuais do time, e que pode ser aprimorado pelo time com o tempo.

Durante as primeiras reuniões, peça feedback instantâneo ao time, para saber como juntos podem melhorar o sucesso da reunião.