Como realizar a caminhada do privilégio online?

Graciela Banegas
Mulheres de Produto
5 min readAug 1, 2020

Por Maria Luísa e Graciela Banegas

Autor da imagem: Tony Ruth

Você já deve ter ouvido falar em sua empresa ou em algum outro contexto social sobre a meritocracia e como as pessoas são avaliadas olhando quase que exclusivamente para o desempenho delas. Por outro lado, cada vez mais as empresas valorizam a diversidade social, já que empresas mais diversas inovam mais. O problema é que aplicar a meritocracia num grupo diverso, não funciona. Ela só faz sentido quando você compara pessoas que tiveram um mesmo ponto de partida.

Você já parou pra pensar nas coisas que as pessoas simplesmente recebem “da vida”, sem ter feito absolutamente nada para merecê-las? Por exemplo, nascer em uma família rica, ou em uma família estruturada, ter acesso a uma educação e saúde de qualidade… e várias outras coisas.

Seria justo comparar o “sucesso”, talvez profissional ou financeiro das pessoas de forma igual, sendo que cada uma partiu de um contexto totalmente diferente? Você já ouviu alguém dizer que era só se esforçar que cada um consegue chegar onde quiser? E o que acha disso?

Bom, um fato conhecido é que nem todas nós temos as mesmas oportunidades ao longo da vida. Passamos por experiências boas e ruins muito diversas umas das outras e isso nos torna pessoas únicas. Essas ideias e reflexões ganham “forma” na dinâmica que vamos apresentar a seguir: a “Caminhada do Privilégio”.

O que é a Caminhada do Privilégio

A caminhada do privilégio, também chamada de Jornada do privilégio é uma dinâmica que tem como objetivo dar maior visibilidade a distribuição desigual de privilégios na sociedade. O que chamamos de privilégio neste contexto é um direito, uma vantagem, concedido apenas a um indivíduo ou um grupo, em detrimento de outros.

Em resumo, este exercício representa a trajetória de vida das pessoas participantes através de passos que são dados durante a dinâmica, por isso é conhecido pelo termo caminhada. Existem variações da dinâmica, que basicamente consiste em alterar as perguntas que são feitas, dando ênfase à algum tema específico, como desigualdade social ou racial, mas há várias aplicações da dinâmica que abrangem o conceito de privilégio sob várias perspectivas, como social, racial, de gênero, entre outras.

Um breve histórico..

A Caminhada do Privilégio surgiu a partir de um estudo sobre privilégios feito por Peggy McIntosh em 1989. McIntosh coletou e analisou materiais sobre currículo e gênero. A partir destes materiais, observou que seus colegas de trabalho homens percebiam que as mulheres eram desfavorecidas em relação a eles, mas não se viam como privilegiados.

McIntosh entendia que essa negação do privilégio não contribuia com a justiça social. Desta forma, a autora começou a defender e estimular processos que despertam as pessoas para essa reflexão e que são importantes para a mudança social. Peggy McIntosh fez uma análise da sua própria vida e sua trajetória, listando 46 situações nas quais ela se viu privilegiada, não por mérito, mas pela cor branca de sua pele e outros privilégios. Esta lista gerada pela reflexão de McIntosh serviu de base para se desenvolver o que hoje conhecemos como a “Caminhada do privilégio”.

Porque fazer

É interessante aplicar essa dinâmica em grupos que ainda não reconhecem seus diferentes privilégios, ou que desejam ter uma visão clara deles. Este exercício também fomenta a discussão sobre o quão contraditório é falar em meritocracia, quando se quer ter ambientes diversos e pode ser um team building que promove empatia dentro de um grupo.

Como funciona?

O exercício começa com um grupo de pessoas, de pé, lado a lado. em seguida, são feitas perguntas relativas às condições de vida que cada pessoa está ou esteve ao longo da vida. Dependendo de quais privilégios tiveram acesso, as pessoas dão passos à frente ou atrás.

Para entender melhor, você pode ver alguns vídeos da caminhada:

Como aplicar a dinâmica ONLINE

Preparação da dinâmica

1- Em uma ferramenta como “Mural”, “Miro” ou alguma outra semelhantes de sua escolha, crie um tabuleiro com casas positivas e negativas. Importante lembrar que o número de casas deve estar de acordo com o número de perguntas que você aplicará para que as pessoas participantes andem nesse tabuleiro. A seguir, deixo um tabuleiro pronto e desenhado pela UX, Desenvolvedora e co-autora desse post. Clique aqui para fazer download da imagem.

2- Selecione uma foto de cada participante, mas se você não conseguir uma foto, pode usar algum outro recurso visual (avatar) que represente cada pessoa que participará da dinâmica

3- Selecione as perguntas que deseja realizar. Veja exemplos de perguntas aqui. É importante revisar se todas elas se conectam com a realidade do seu grupo. Caso você deseje criar as suas próprias perguntas, apenas certifique-se que existe um equilíbrio dos temas que cada pergunta aborda (justiça racial, justiça de gênero, justiça econômica, LGBTfobia, PCDs, etc).

Execução da dinâmica

1- A pessoa facilitadora deve fazer uma breve introdução explicando as participantes do porque a dinâmica está sendo realizada e o que se espera obter ao final dela (ter uma visão clara dos diferentes pontos de partida e privilégios do grupo).

2- Explicar para as participantes que devem mover apenas a sua foto/avatar de acordo com a sua resposta particular, para cada pergunta feita pela pessoa facilitadora.

3- Iniciar a sessão com a pessoa facilitadora realizando as perguntas.

4- Ao encerrar as perguntas, fechar a dinâmica promovendo uma reflexão do grupo perguntando o que acharam da dinâmica, como estão se sentindo. Se o grupo não se expressar muito, tudo bem. Cada pessoa absorve esse momento de formas diferentes. Uma sugestão para quem está facilitando é fechar a sessão da seguinte forma:

“Como ficou evidente em nosso tabuleiro, temos pessoas com diferentes pontos de partida. O mais importante desta sessão é entender que isto é um reflexo de nossa sociedade e as pessoas que tiveram mais privilégios, tenham ciência disso, para apoiar de maneira ativa as pessoas que ficaram atrás por terem menos oportunidades, promovendo assim a justiça social que tanto se anseia. E lembrar que meritocracia não promove justiça em ambientes diversos.”

Referências

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Graciela Banegas
Mulheres de Produto

Group Product Manager | Facilitator| Love People &Technology