Ilustração de três mulheres. Sendo duas gestantes e uma carregando o bebê no colo.

Desconstruindo preconceitos entre maternidade e trabalho

Laíny Moraes
Mulheres de Produto

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Dentre as várias fases da maternidade, o convite a reflexão exposto nesse texto é sobre o momento da descoberta e o processo da gestação associados aos desafios e impactos no trabalho com todo o processo de mudança do corpo e mente da mulher grávida.

Você sabia que quando a gravidez não é planejada e vem num momento no qual o foco era apenas você e sua carreira, os planos, objetivos, a vida de responsabilidades únicas de autocuidado facilmente negligenciadas e procrastinadas, agora dão lugar ao desconhecido mundo de ter que cuidar de si, da saúde física e mental, para ser o melhor para um serzinho que está sendo gestado e será totalmente dependente de você pelos próximos meses / anos?

Dão lugar também as inseguranças no ambiente corporativo, de como será a divisão de responsabilidades entre o trabalho remunerado e a maternidade? Como será o retorno após a licença? Nosso lugar no time ainda existirá? Sem mencionar, a autocobrança de "correr 2x mais veloz" a maratona imaginária de ter uma performance acima das expectativas, para merecer um aumento de salário, um mérito, uma promoção que poderiam ter vindo durante os meses de dedicação exclusiva a maternidade…

E enquanto escrevo, me ocorreu ainda o sentimento de culpa e o questionamento "estou eu, sendo egoísta por me preocupar de forma antecipada com o retorno ao trabalho, performance, ser promovida quando terei nos braços o que dizem ser nosso coração pulsando fora da gente?"

Mas vou por a culpa de lado e voltar ao foco principal: insegurança corporativa. Ressalto aqui a diferença que Lideranças Femininas fazem! Ter no seu ambiente de trabalho, líderes mães, colegas de time mãe, mães contratando mães, a comunidade que se forma, a rede de apoio invisível aos olhos de quem não vivência a mesma realidade é de fundamental importância. Buscar conexões com outras mães, entender esse novo espaço e enxergar em outras mulheres dentro da comunidade as profissionais excepcionais que são, que de certo passaram pelos mesmos questionamentos, autocobrança, culpas e preconceitos, também faz uma diferença danada nesse processo de descoberta e preparação para a maternidade.

Quando descobri a minha gestação, precisei lidar com todo o preconceito e rótulos impostos pela sociedade. Eu me julguei. Lidei com a culpa ao lembrar das vezes em que não acolhi as inseguranças de amigas e colegas de trabalho próximas a mim sobre como seria o retorno da licença maternidade, sobre a autocobrança de estar ausente com mais frequência durante o expediente para comparecer às consultinhas do pré natal, exames, aplicações de remédios durante o período gestacional e que agora quem estava vivenciando tudo isso era eu.

O meu primeiro questionamento foi "minha carreira acabou. Vou ficar pra trás! A licença de seis meses vai atrapalhar todos meus planos de próximo passo na carreira, meus projetos pessoais na ONG Mulheres de Produto, eventos e trabalhos voluntários como organizadora de meetup e coordenadora da trilha já eram". Ali eu estava vendo apenas o copo vazio, mesmo estando meio cheio.

Foi necessário muita terapia e acima de tudo, estar aberta a receber toda a acolhida de mulheres incríveis que me rodeavam! Eu descobri que a rede de apoio invisível que existe na maternidade é real e não precisa ser mãe ou mulher para fazer parte. Basta um pouco de consciência e empatia para fazer a diferença contribuindo de forma positiva durante os nove meses em que estamos vendo nosso corpo mudar e sentindo a carga hormonal alterar todo nosso humor e estado emocional e psicológico.

Ao experienciar todas essas mudanças e a nova rotina, pude entender o quão solitário, difícil e confuso pode ser esse momento para uma mulher. Entendi também que em muitos casos, a existência de liderança preparada para entender, acolher e prover um ambiente seguro no trabalho quando no seu time existe uma mulher grávida fez toda diferença no caminho percorrido entre o susto da descoberta e preocupações com a carreira.

Levou um tempo até eu entender que não deixei a minha performance cair com cada sintoma novo da gestação e preconceitos/inseguranças formados. Pois, continuei dando o meu melhor e utilizando com mais frequência de conceitos e dicas básicas, das quais já tinha conhecimento:

  • passei a gerenciar melhor minhas tarefas e otimizar o tempo entre reuniões para endereçar temas através de anotações no meu sistema manual (caderninho)
  • parei de me cobrar/culpar por passar a fazer uso mais frequente de comunicação async com apoio de vídeos (gravação de telas) ou áudios para apoiar o racional, como forma de compensar as ausências para consultas ou momentos de indisposição/desconfortos da gravidez
  • materializei algumas ideias de soluções para problemas que já vinham se arrastando há um tempo, dado escopo e nível de complexidade altos, utilizando o básico: fatiar entregas, alinhar cenários com o stakeholders e time no geral, através do foco em desempenhar melhor ainda o meu papel no trabalho com o objetivo de gerar evidências a meu favor de que a gravidez não afetou minha performance. Afinal, o feito é melhor que o perfeito!
  • passei a viver um dia de cada vez ao invés de viver no futuro focando no que poderia ter sido se eu não tivesse engravidado. Meus planos de próximos passos na carreira, no mínimo estão em stand-by para que eu possa replanejar quando voltar da licença com o upgrade das skills de mãe.

Então, deixarei aqui alguns recadinhos com base no que aprendi até agora ao longo desses 8 meses de gestação

Para você, mamãe de primeira viagem

Viva o presente, pois através dele você chegará ao futuro que você busca. Não deixe a ansiedade e nem os pré conceitos te consumirem.

Para você, liderança de uma pessoa gestante

Acolher e prover um ambiente de segurança são ações mandatórias e devem existir sempre, independente de estado de vulnerabilidade ou não da pessoa liderada.

Lainy Moraes, natural de Belém do Pará com raizes Nordestina! Agora mãe de um ser humaninho e de um Beagle chamado Legolas! É Product Manager no iFood, Embaixadora na ONG Mulheres de Produto, atuando como liderança na iniciativa do Podcast MdP. Você pode segui-la no LinkedIn https://www.linkedin.com/in/lainybm/

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