E se tivesse um podcast com o resumo dos principais livros de Produto?

Erica Castro
Mulheres de Produto
12 min readAug 5, 2020

Agora tem!

Estamos pilotando o Bloco de Notas, a nova série do Podcast MdP, que tem a proposta de compilar ideias, conceitos e aprendizados contidos nos principais livros da área de Produtos.

Convido você a ouvir o episódio piloto: Escaping the Build Trap, da Melissa Perri, que apresenta como uma gestão de produtos efetiva pode criar valor para os usuários e para o negócio.

Precisamos de feedbacks!

E como estamos na fase de experimentação desta ideia, precisamos de feedbacks para avaliar se é um tipo de conteúdo que tem aderência com a comunidade e se deve ser continuado! Acesse a pesquisa e deixe a sua opinião! É rapidinho e você contribui muito com o projeto. ❤

Ficha técnica:

Transcrição / Adaptação do Áudio:

Oi! Aqui é a Erica e gostaria de apresentar o piloto de uma nova série do canal: é o Bloco de Notas”.

Aqui, vamos compilar ideias e conceitos dos principais livros da área de produto.

E para estrear a serie, selecionamos o livro da Melissa Perri, referência em Produto. Ela escreveu o livro Escaping the Build Trap, que numa tradução livre seria algo como Escapando da armadilha da construção. — Como uma gestão de produtos efetiva pode criar valor.

A Melissa é CEO da Produx Labs, empresa de consultoria e treinamento em gestão de produtos. Ela é palestrante nas principais conferências de produto, aplica diversos workshops, e presta consultoria para empresas. Tudo com o objetivo de ajudar a desenvolver líderes em produto.

Eu tive a oportunidade de ouvir a Melissa quando ela esteve aqui no Brasil para o Product Camp, acho que em 2019.

Ela contou que sobre a sua frustração em escrever mais de 20 páginas de requisitos para uma tela de login e no final receber uma funcionalidade completamente diferente do foi idealizada. Quem nunca, né?

Depois disso, ela descobriu o movimento ágil que a ajudou a organizar seus processos de trabalho e a produzir features cada vez mais rápido. Que ótimo, certo? Não. Ela começou a se dar conta que estava em uma armadilha. Ela vinha entregando funcionalidades e mais funcionalidades há anos e anos, mas nunca tinha certeza se os usuários realmente gostavam ou usavam. E se essas entregas estavam realmente conectadas com as metas da companhia.

Ela diz que queria fazer melhor. Que queria criar melhores produtos. Foi quando teve contato com o movimento lean startup e com a cultura da experimentação. Aí tudo começou a mudar.

É sobre essa nova mentalidade para gestão de produtos e seu processo para descobrir a coisa certa a se construir que o livro se debruça.

Vou deixar na descrição do episodio o link do livro na amazon para quem tiver interesse em aprofundar os conceitos do livro. Depois vc conta aqui pra gente que outros aspectos do livro te chamou a atenção.

Durante a produção deste episodio recebemos a contribuição de participantes da comunidade que contaram como o livro impactou a forma como atuam com produto. Bora conferir os depoimentos?

Bom, para começar, vamos dar conhecer como livro está estruturado.

Melissa dividiu o livro em 5 partes:

  • Na primeira parte, Melissa explica o que é a armadilha do desenvolvimento e, de forma geral, como fugir dela.
  • A segunda parte, traz o papel do gerente de produto e progressão de carreira. Aqui ela faz uma distinção entre o bom e o mau gerente de produto.
  • A terceira parte do livro, foca na estratégia e como ela deve ser comunicada a toda empresa.
  • A quarta parte do livro fala sobre o processo de gerenciamento de produtos e como ele pode ajudar uma organização a manter o foco nos resultados desejados. É onde é apresentado em mais detalhes o Product Kata, um processo usado usado para definir as soluções certas a serem construídas.
  • A última parte do livro concentra-se em algumas das principais características e práticas encontradas em uma organização que é direcionada a produtos.

Bom, agora que conhecemos como o livro foi estruturado, vamos dar uma olhada em cada uma das partes dele?

Parte 1: A armadilha da construção.

A armadilha da construção é quando as organizações ficam presas medindo seu sucesso por entregas e não por resultados.

Na prática, é quando se mede e recompensa os times por entregas de funcionalidades em vez de avaliar qual o valor que estas entregas produzem de fato para os usuários e para as empresas.

Mas o que é valor? Bom, para o usuário, o valor é gerado quando seus problemas ou necessidades são atendidas. Para a empresa, valor é algo que alimenta o negócio: pode ser dinheiro, dados captados pelo produto ou o conhecimento adquirido que pode ser usado em outra linha de produtos, por exemplo. É dessa relação que se estrutura o sistema de troca de valor.

Pensando nisso, cada funcionalidade que você criar, deve gerar algum resultado que retorne valor do negócio.

Pensar estrategicamente exige também uma mudança na forma como pensamos processo de desenvolvimento de produtos É preciso entender, por exemplo, a diferença entre gestão de produto e gestão de projetos.

Na gestão de produtos, você tem um escopo fechado, prazos e marcos de entregas definidos. Quando o projeto acaba, seu trabalho está concluído e você parte para um novo desafio.

Agora, quando estamos lidando com a mentalidade de produto, quando entregamos uma funcionalidade, ela é apenas uma etapa para alcançarmos o o sucesso. Em geral o trabalho não termina, muito pelo contrário. Precisamos continuar iterando para alcançar o resultado e o valor desejado.

Por isso que o conceito de gestão de produtos e da função de gerente de produtos é tao importante: movimentar a companhia para atuar com a mentalidade de produtos em vez da mentalidade de projetos.

Só assim, elas viram a chave para serem empresas orientadas a produto. Ou seja, empresas que otimizam os resultados de negócio, alinham a estratégia de produtos a estas metas e priorizam os projetos mais eficientes para ajudarem a desenvolver produtos num caminho de crescimento sustentável.

Parte 2: A função de Gerente de Produto.

Gestão de Produto é uma carreira, não apenas uma função ou papel no time. A Gerente de Produtos entende profundamente tanto do negócio quanto do usuário para identificar as oportunidades certas para produzir valor.

Como Gerente de Produto, você é responsável por: sintetizar todas as informações e dados, incluindo analytics, feedbacks, pesquisa de mercado, opinião dos stakeholders, por exemplo, para determinar em que direção o time deve navegar. Além de manter o time abraçado com a ideia de porque vocês estão construindo este produto e que resultados o produto vai produzir.

E como em toda profissão, existem os péssimos Gerentes de Produto. A Melissa descreve 3 tipos:

  • Mini-CEO: acredita que sabe tudo sobre o negócio e conhece a solução perfeita para os clientes. Não escuta o time.
  • Garçom: o famoso tirador de pedido.
  • Gerente de projeto: Se preocupa com o quando, qdo deveria se perguntar por quê.

Tá, mas o que preciso fazer para ser uma ótima Gerente de Produto?

Bom, na real o desafio é trabalhar com o time para criar o produto certo, que equilibre os objetivos de negócio com as necessidades dos usuários, retroalimentando a troca de valor que falamos na parte 1.

E para conseguir fazer isso, é necessário entender sobre vários aspectos da companhia: qual é a visão e objetivo da companhia? como é o mercado? como o negócio rentabiliza. quem são os usuários e suas maiores dores?

E embora o título diga que é gerente, a função está longe disso. É uma posição que exige o exercício constante da comunicação e da influencia para convencer o time, e toda a empresa, a nadar para o mesmo lado.

No mercado, uma dúvida frequente é qual a diferença entre um Product Owner e o Gerente de Produto.

Bom, o PO é um papel que existe na metologia Scrum. Entre as suas responsabilidades esta:

  • definir o backlog de produto
  • criar historias de usuário
  • refinar e priorizar o backlog

Já, como Gerente de produto, você deve ser capaz de responder:

  • Como determinamos valor nesta empresa?
  • Como medimos sucesso do nosso produto no mercado?
  • Como podemos ter certeza que estamos criando o produto certo?
  • Como precificamos e embalamos nosso produto?
  • Como lançamos o produto?
  • O que faz sentido desenvolver? E comprar?
  • Como podemos integrar com terceiros para conseguir entrar em novos mercados?

Como se pode perceber, o Gerente de Produtos é uma posição muito mais estratégica do que o papel de Product Owner. Então até considerando a progressão na carreira, melhor chamar a função logo de Gerente de Produto.

Além disso, como Gerente de Produto, o papel e responsabilidades podem mudar de acordo com o contexto, estágio do produto e até posição de liderança na empresa.

A Melissa apresenta 6 estágios na carreira de produto que vai de Gerente de Produto Iniciante até a posição de CPO. O que muda bastante entre cada posição é o % de tempo alocado em atividades de nível tático, operacional e estratégico. Enquanto uma profissional iniciante aloca 75% do tempo em atividades taticas uma CPO, usa o mesmo tempo para atividades estratégicas.

Aqui, vou focar no 2o estágio: Gerente de Produto, mas se vcs quiserem conhecer os demais estágios recomendo a leitura do livro ou aquela googlada por melissa perri, product manager career path.

Uma gerente de produtos pleno trabalha com o time de desenvolvimento e UX desginers para idealizar e criar as soluções para os usuários. Conversam com os usuários, compilam dados e tomam decisões sobre as funcionalidades que serão desenvolvidas.

Normalmente, são responsáveis por uma funcionalidade ou conjunto delas. Então precisam ser estratégicos o suficiente para garantir que o que está sendo criado converse com a visão do produto, ao mesmo tempo, em que precisam atuar de forma tática para garantir a execução da solução.

Parte 3: Estratégia

A Melissa frisa bastante a importância da função de Gerente de Produto para uma empresa que realmente quer se transformar em empresa de produto. Outro aspecto que vai contribuir para a empresa conseguir virar esta chave é ter uma bom processo que ajude na criação e entrega da Estratégia e de tomadas de decisão. E é sobre isso que ela trata na terceira: Estratégia.

Uma boa estratégia não é um plano. É um guia que te ajuda a tomar decisões.

Melissa conta que é comum receber como resposta a pergunta: “qual é a sua estratégia?” , uma lista de to-dos e features a serem desenvolvidas. Para ela, uma boa estratégia deve transcender funcionalidades e focar na visão e metas de alto nível.

Para cada nível da organização, você tem um direcionamento a partir do qual pode atuar e desdobrar para o próximo nível.

No livro, Melissa apresenta o seguinte exemplo para ilustrar o conceito de implementação da estratégia:

  • A alta liderança define a visão: O que queremos em 5 anos? Qual valor quereremos entregar para nossos usuários, qual a posição no mercado
  • Os lideres de negócios setam as intenções : Que desafios de negocio podem nos impedir de alcançar nossa visão?
  • A liderança de produto definem iniciativas de produto: Que problemas podemos endereçar em produto para enfrentar esses desafios?
  • Os times levantam possibilidades: Quais são os caminhos possíveis para endereçar esses problemas e atingir meus objetivos?

A visão é a base da estrategia porque define direção e fornece significado. Ter uma forte visão de empresa é o que dá a estrutura necessária para pensar produto.

E as iniciativas de produto buscam traduzir as metas e desafios de negocio em problemas que podem ser resolvidos por meio dos produtos.

Parte 4: Processo de Gestão de Produtos.

“O Product Kata é o processo pelo qual descobrimos as soluções corretas para criar.

É uma maneira sistemática que ensina gerentes de produto a abordar a construção de produtos do ponto de vista de resolução de problemas. ”

Adaptado do processo de fabricação Toyota, Kata é um padrão de quatro etapas para o gerenciamento de produtos para ajudar as equipes a se alinharem em torno de uma meta e a construir o produto certo. Ajuda a estabelecer condições-alvo e, em seguida, a trabalhar iterativamente através de obstáculos, aprendendo com elas e adaptando-as com base no que está sendo aprendido. Isso ajuda as equipes a garantir que estejam criando a coisa certa, antes de entrarem no desenvolvimento.

fluxo do processo Product Kata

Para se guiar no processo, Melissa sugere as seguintes perguntas:

  1. Qual é o objetivo?
  2. Onde estamos agora em relação a esse objetivo?
  3. Qual é o maior problema ou obstáculo no caminho para alcançar esse objetivo?
  4. Como tento resolver esse problema … qual é o único passo que podemos dar?
  5. O que eu espero que aconteça (hipótese)?
  6. O que realmente aconteceu e o que aprendemos?

Com estas perguntas respondidas, vamos para a etapa de Execução: Identificar o estágio do Processo de Produto.

Neste ponto, Melissa desdobra em 3 estágios:

  • Exploração do Problema — aqui você precisa descobrir o problema a ser resolvido. Entender a causa raiz. Para isso, pode lançar mão de pesquisa com usuário, observação, questionários, feedbacks. Ou seja, todas as ferramentas que permitam abordar o problema do ponto de vista do usuário.
  • Exploração da Solução — aqui você já entendeu o problema e tem uma ideia de possíveis soluções. É o momento de rodar experimentos para validar ou invalidar essas hipóteses, gerar aprendizados.

Melissa apresenta 3 métodos que podem ser usados nesta etapa:

  • Concierge — você entrega o resultado final para o cliente, mas o processo é todo manual. Tipo, usa uma planilha para validar um tipo de relatório e se isso for validado, aí sim você implementada.
  • Mágico de Oz — Carinha de produto, mas por dentro.. tudo manual. Melissa ilustra com o case da Zappos. Eles tinham um portal de e-commerce, mas por trás eles compravam os produtos de outros fornecedores e enviavam aos clientes.
  • Teste de Conceito — Nosso velho amigo protótipo. A ideia aqui é mostrar como o produto funciona e pegar feedbacks.

Bom, depois de explorar as possíveis Soluções e identificar aquela que parece ser a melhor alternativa, entramos no estágio Otimização da Solução.

Com métricas bem definidas é hora de definir o que entra na primeira versão. Melissa recomenda o uso da técnica de story mapping criada por Jeff Patton para garantir que todos estão alinhados sobre o que deve ser feito, o que será priorizado e o que poderá ficar de fora porque tem menor criticidade para uma primeira versão. Conforme a versão fica pronta, acompanha os indicadores para entender se estão se comportando como esperado. E novas iterações e priorizações podem ocorrer.

Parte 5: Empresa direcionada a Produto.

Uma empresa direcionada a Produto possui uma cultura que entende e se organiza em volta de resultados em vez de entregas, incluindo uma avaliação frequente para identificar se a estratégia está convergindo para os resultados encontrados. Onde as pessoas são recompensadas por aprender e atingir os objetivos. Onde os times estão próximos aos usuários e a gestão de produtos é considerada crítica para o sucesso dos negócios.

Nossa, que responsa, né?

Por isso, os roadmaps devem ser mais do que gráficos de gannt. Devem traduzir a estratégia da empresa e a situação atual do produto.

Para uma boa comunicação da estratégia, um roadmap deve conter:

  • o tema que está sendo trabalhado
  • as hipóteses que estão sendo consideradas
  • a meta relacionada às iniciativas e os critérios de sucesso
  • o estágio de desenvolvimento
  • os marcos de entregas importantes

Acho que depois de absorver todo esse conteúdo, preciso urgentemente revisitar todo o meu processo de trabalho, viu?

É claro que a leitura não é lá muito fácil. Em vários momentos fiquei confusa se uma etapa não deveria estar em um ou outro momento do processo. Mas depois desse exercício de compilar o que aprendi no livro, sem dúvida acho que as provocações e questionamentos que ela faz em todo os livro são muito ricas e valem um checklist para serem revisitadas.

Se eu tiver que dizer disso tudo que contei qual é o maior aprendizado… com certeza é não sair ai a torto e a direita entregando funcionalidades que a gente acha legal. E aplicar algum tipo de processo, que diminua a incerteza sobre o que estamos construindo. E, acima de tudo, como essas entregas estão conversando com a visão e estratégia da empresa. Isso precisa está muito evidente.

Bom, este foi o Bloco de Notas, um piloto aqui do canal Mulheres de Produto. Nossa ideia é extrair as principais ideias contidas nas publicacoes de produto. E como todo experimento, seria ótimo receber feedbacks. Na descrição tem um link para recebermos estas contribuições e é rapidinho. E aproveite para contar nos comentários qual seu livro preferido na área de produtos. Vai que a gente faz um bloco de notas com ele.

Aproveito também para convidar vocês a ouvirem os outros episódios do canal. A última temporada está com entrevistas super bacanas. Vale conferir, compartilhar, comentar!

Foi finalizando por aqui e espero vocês no próximo Bloco de Notas! Tchauuuu.

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