Manifesto pela Igualdade Salarial — Mulheres de Produto

Cassiane Vilvert
Mulheres de Produto
8 min readMar 21, 2024

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A disparidade salarial entre gêneros (ou “gender pay gap”) é a diferença média entre a remuneração para homens e mulheres.

Mais do que um número no contracheque, a disparidade salarial entre gêneros também representa em medida de como valorizamos (ou desvalorizamos) a contribuição de mulheres no mercado de trabalho.

O Manifesto pela Igualdade Salarial escrito pela Mulheres de Produto, nasce com o intuito de conscientizar o mercado de produtos e tecnologia sobre a existência dessa disparidade salarial entre homens e mulheres, e de como este problema prejudica não só as profissionais mulheres, como também seus colegas, as empresas e a sociedade.

Para ajudar na construção de ações práticas, que podem ser adotadas por empresas e profissionais, a Mulheres de Produto traz neste manifesto 10 premissas para seguir, em favor de uma compensação e de um ambiente de trabalho mais equitativo.

Disparidade Salarial em Números

  • 22% é a diferença de remuneração¹ recebida pelas mulheres em comparação aos homens no Brasil.
  • 76,5% é a diferença do rendimento médio mensal² entre uma trabalhadora mulher no Brasil, em comparação aos homens.
  • 44.4% do salário dos homens brancos³ é quanto recebem as mulheres pretas pelo mesmo trabalho.
  • 6.18 %é a diferença salarial entre mulheres e homens⁴ na área de produto no Brasil.
  • 13 bilhões de dólares é o quanto pode ser adicionado ao PIB Global⁵ se trabalharmos para melhorar a equidade de gênero no trabalho após a Covid-19.
  • R$ 10 é o rendimento médio por hora trabalhada⁶, de uma mulher negra. Enquanto a média entre os homens negros é de R$ 11. Para pessoas brancas, é de R$ 19 para homens e R$ 17 para mulheres.
  • 59% dos profissionais impactados em layoffs⁷ em 2023 foram mulheres.

Porque acabar com a disparidade salarial é importante?

A disparidade salarial entre mulheres e homens é um indicador tangível da desigualdade no mercado de trabalho, mostrando as experiências divergentes que mulheres e homens têm não só no emprego, mas também na educação, formação, carga de trabalho doméstico não remunerado e acesso às oportunidades.

A discrepância salarial é um problema sistêmico, que pode ser causado por uma série de fatores, como:

  1. Segregação ocupacional: quando mulheres e homens são agrupados em diferentes tipos de trabalho com base em viés social (homens com trabalhos mais analíticos, mulheres com trabalhos mais relacionais, por exemplo). O chamado “teto de vidro”, ou as "Portas de Vidro”, termo cunhado por Ciranda de Morais⁸, são formas de ilustrar a dificuldade que mulheres enfrentam para crescer na carreira, frente à barreiras invisíveis que são culturais e não pessoais.
  2. Falta de flexibilidade na carga horária: mulheres são mais propensas a trabalhar meio período ou ter carreiras interrompidas devido à maternidade, responsabilidade de cuidado com familiares, filhos e trabalhos domésticos não remunerados. Segundo IBGE⁹, o Brasil possui 11 milhões de mães solo sendo que em 2021, 6.3% das crianças foram registradas sem o nome do parceiro. Ou seja, mulheres são responsáveis por criar e cuidar das crianças.
  3. Viés na hora da contratação e promoção: mulheres podem enfrentar discriminação e preconceito direta ou indiretamente no trabalho, durante processos de contratação, promoção e atribuição de salários, quando estes são subjetivos e não seguem critérios claros.
  4. Subvalorização do trabalho “feminino”: culturas de trabalho orientadas à valorizar apenas qualidades tidas como masculinas, onde mulheres podem ser vistas como pouco estratégicas e/ou não capacitadas para receberem promoções ou ocuparem posições de liderança em comparação aos homens, embora em muitos casos as mulheres possuam qualificação profissional, anos de atuação ou até mesmo mais experiência que os colegas. Segundo o IBGE¹⁰, 19,4% das mulheres com 25 anos ou mais completou o ensino superior, enquanto apenas 15,1% dos homens.
  5. Desigualdade na progressão de carreira: menor representatividade feminina em cargos de alta liderança e em campos de remuneração mais alta, com práticas tendenciosas e pouco transparentes de como chegar à uma posição no topo. Segundo a Forbes¹¹, mulheres ocupam apenas 17% de cargos de Presidente.

Acabar com a desigualdade salarial de gênero é importante para combater a discriminação, criar ambientes de trabalho mais saudáveis, incentivar uma distribuição mais equitativa do trabalho não remunerado em casa e garantir que mulheres tenham as mesmas oportunidades de avanço na carreira que os homens.

Ao fechar a lacuna salarial de gênero, as mulheres têm mais autonomia financeira, permitindo-lhes tomar decisões independentes em suas vidas pessoais e profissionais e, além disso, podem impulsionar também o crescimento econômico. A ONU Mulheres¹² destaca que a independência financeira obtida por meio da igualdade salarial pode aumentar a participação das mulheres em decisões econômicas e políticas.

É Lei! No Brasil, no dia 4 de julho de 202³¹⁴, foi promulgada a Lei nº 14.611 que regulamenta a Igualdade Salarial entre os gêneros, e o Decreto nº 11.795, que traz em detalhes as obrigatoriedades para que empresas revisem seus critérios de remuneração e ofereçam salários igualitários para homens e mulheres que ocupam os mesmos cargos.

O Manifesto Mulheres de Produto

Além de oferecer um espaço seguro de troca entre mulheres por meio da comunidade, com este manifesto a Mulheres de Produto se compromete em atuar ativamente em prol da Igualdade Salarial e na redução da disparidade de gênero nas empresas, por meio das ações:

  1. Garantir que a obrigação legal pré-existente seja cumprida nas empresas que se relacionam com o MDP, conduzindo debates e ações educativas, para que revisões regulares de igualdade salarial ocorram livres de viés de gênero e raça.
  2. Advogar para que as empresas ofereçam um plano de carreira e remuneração com caminhos claros para que as mulheres possam evoluir na carreira de acordo com suas habilidades.
  3. Exigir maior transparência das empresas quanto ao salário oferecido nas posições que estão sendo trabalhadas.
  4. Exigir que as empresas criem programas de vagas afirmativas para mulheres negras e mães ampliando acesso dessas profissionais às oportunidades, sem serem discriminadas por viés pessoal.
  5. Incentivar que as empresas apoiem programas de flexibilidade, cuidado infantil, licença maternidade e paternidade adequadas para reconhecer o trabalho de cuidado.
  6. Exigir que as empresas tenham avaliações de desempenho mais estruturadas, transparentes e não-tendenciosas. Deixando claros os critérios avaliados, e possibilitando que as mulheres possam demonstrar seu desempenho com base em evidências e resultados, e não em julgamentos subjetivos.
  7. Incentivar as empresas a conscientizar e educar seus colaboradores sobre a importância da diversidade, de quebrar esteriótipos de gênero e raça e de tornar o trabalho um lugar mais inclusivo e diverso.
  8. Apoiar mulheres a se desenvolverem para atingir suas ambições, seja por meio de cursos, workshops, mentorias, ensinando habilidades que são importantes e valorizadas pelo mercado de produtos e tecnologia.
  9. Incentivar que empresas tenham cada vez mais mulheres na liderança, ampliando espaço para que pessoas com visões mais diversas também possam sentar à mesa onde estão sendo tomadas decisões.
  10. Incentivar mulheres a negociarem salários e conversarem abertamente sobre remuneração, para acessarem cada vez mais oportunidades melhores.

E o que você pode fazer para contribuir com a igualdade salarial?

Acreditamos que o primeiro passo para a mudança real é a conscientização sobre o problema, e a educação sobre o que podemos fazer para contribuir — enquanto instituições e indivíduos — com um mundo mais justo e equitativo.

Que este manifesto seja um incentivo para que as empresas tomem atitudes que promovam a igualdade, para que profissionais que se identificam como mulheres a advoguem por salários mais justos, e para que o mercado crie melhores condições de trabalho e carreira.

Eliminar as disparidades salariais beneficiará as mulheres e as suas famílias, mas os ganhos serão compartilhados com toda a sociedade: nossas competências e talentos únicos podem ser um catalisador para crescimento de empresas e, consequentemente, da economia, afinal somos a 51.5% da população brasileira¹⁷.

Ao promover a igualdade de gênero através da eliminação da desigualdade salarial, podemos trabalhar juntas para criar um mundo mais justo e próspero para todas as pessoas.

Leia e assine o manifesto completo aqui. →

Referências

  1. Garantir igualdade salarial ainda é um desafio no mercado de trabalho brasileiro. Portal FGV, 2023. Disponível em: https://portal.fgv.br/artigos/garantir-igualdade-salarial-ainda-e-desafio-mercado-trabalho-brasileiro. Acesso em: 05 de março de 2023.
  2. Igualdade salarial: nova lei combate discriminação e promove equidade de gênero. Meio e Mensagem, 2023. Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/womentowatch/igualdade-salarial-nova-lei-combate-discriminacao-e-promove-equidade-de-genero. Acesso em: 05 de março de 2023.
  3. Mulheres negras recebem menos da metade do salário dos homens brancos no Brasil. El Pais, 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/12/politica/1573581512_623918.html. Acesso em: 05 de março de 2023.
  4. Panorama do Mercado de Produto 2023–2024: Confira!. Blog PM3, 2023. Disponível em: https://www.cursospm3.com.br/blog/panorama-de-produto-2023-2024/. Acesso em: 05 de março de 2023.
  5. Seven charts that show COVID-19’s impact on women’s employment. McKinsey Blog, 2021. Disponível em:: https://www.mckinsey.com/featured-insights/diversity-and-inclusion/seven-charts-that-show-covid-19s-impact-on-womens-employment. Acesso em: 05 de março de 2023.
  6. Mulher negra trabalha quase o dobro do tempo para obter salário de homem branco. Brasil de Fato, 2019. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2019/11/22/mulher-negra-trabalha-quase-o-dobro-do-tempo-para-obter-salario-de-homem-branco. Acesso em: 05 de março de 2023.
  7. Mulheres são as mais atingidas por onda de demissões em startups brasileiras. Época Negócios, 2023. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/empresas/noticia/2023/03/mulheres-sao-as-mais-atingidas-por-onda-de-demissoes-em-startups-brasileiras.ghtml. Acesso em: 05 de março de 2023.
  8. As portas de vidro: mulheres e tecnologia. | Ciranda De Morais | TEDxUFMT. Youtube, 2018. Disponível em: https://youtu.be/-hmtv3dFMu8?si=qndPSMFZlah6jQr1. Acesso em: 05 de março de 2023.
  9. Brasil tem mais de 11 milhões de mães que criam os filhos sozinhas. G1, 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2023/05/12/brasil-tem-mais-de-11-milhoes-de-maes-que-criam-os-filhos-sozinhas.ghtml. Acesso em: 05 de março de 2023.
  10. Estatísticas de Gênero: ocupação das mulheres é menor em lares com crianças de até três anos. Agência IBGE Notícias, 2021. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/30172-estatisticas-de-genero-ocupacao-das-mulheres-e-menor-em-lares-com-criancas-de-ate-tres-anos. Acesso em: 05 de março de 2023.
  11. Liderança feminina cresce no Brasil, e mulheres ocupam 17% das presidências. Forbes, 2023. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-mulher/2023/05/lideranca-feminina-cresce-no-brasil-e-mulheres-ocupam-17-das-presidencias/. Acesso em: 05 de março de 2023.
  12. Estudos ONU Mulheres, 2014. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/areas-tematicas/empoderamento-economico/estudo/.Acesso em: 05 de março de 2023. E
  13. liminar desigualdade de gênero poderia elevar PIB global em mais de 20%, diz Banco Mundial. Infomoney, 2024. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/carreira/eliminar-desigualdade-de-genero-poderia-elevar-pib-global-em-mais-de-20-diz-banco-mundial/. Acesso em: 05 de março de 2023.
  14. Decreto regulamenta lei da igualdade salarial entre mulheres e homens. Portal Gov BR, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2023/11/decreto-regulamenta-lei-da-igualdade-salarial-entre-mulheres-e-homens. Acesso em: 05 de março de 2023.
  15. Diversity Matters: América Latina. Mckinsey, 2020. Disponível em: https://www.mckinsey.com/br/our-insights/diversity-matters-america-latina. Acesso em: 05 de março de 2023.
  16. Diversidade e Inclusão, PwC 2017. Disponível em: https://www.pwc.pt/pt/responsabilidade-corporativa/pwc-diversidade-inclusao.pdf. Acesso em: 05 de março de 2023.
  17. QUANTIDADE DE HOMENS E MULHERES. Educa IBGE, 2022. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18320-quantidade-de-homens-e-mulheres.html. Acesso em: 05 de março de 2023.

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