O preconceito no mercado de TI

Flávia Fontinhas
Mulheres de Produto
5 min readJul 16, 2021

No artigo anterior, contei um pouco sobre minha experiência de criar produtos B2B para clientes, e como era essa relação com eles.

Nesse, quero falar sobre um ponto que, felizmente, tem sido muito mais abordado nos últimos tempos (pelo menos em relação à questão de gênero), que é o preconceito no mercado de TI.

E estou de propósito preferindo usar o termo “preconceito” e não apenas “machismo”, porque quando entrei nesse mercado, além do preconceito de gênero, encontrei também um preconceito não tanto abordado, que é a discriminação por ser uma PM/PO não técnica, ou seja, que não programa e que não é formada em ciência da computação, sistemas de informação ou afins.

Machismo no mercado de TI

Não sei se você sabe desse dado, mas nós mulheres representamos apenas 20% dos profissionais do setor de TI.

Tenho visto de forma progressiva mais e mais empresas abrindo vagas afirmativas para mulheres, e ficado muito feliz que o mercado esteja começando a abrir os olhos e fazer alguma coisa sobre essa disparidade.

De acordo com uma pesquisa da consultoria Yoctoo, que atua no recrutamento e seleção de profissionais para o mercado de TI, 82,8% das mulheres trabalhadoras da área relatam já terem sido vítimas de preconceito.

E eu fui uma delas.

Minha experiência

Quando comecei a trabalhar na área, eu era a única mulher da empresa trabalhando diretamente com produtos e projetos. As demais mulheres da companhia trabalhavam em outras áreas, como administrativo, call center, etc.

Ser a única mulher trabalhando com TI, e ter que indiretamente liderar devs homens, não foi bem aceito por vários deles. Em especial por eu ser uma profissional vinda do mercado de marketing, sem nenhum background técnico.

(Digo “indiretamente”, porque sabemos que PM/PO não é chefe, mas durante todo o tempo em que trabalhei lá, acabei exercendo uma liderança indireta sobre os devs).

As principais reclamações das mulheres

Nessa mesma pesquisa da Yoctoo (da qual participei, e foi feita em fevereiro desse ano), 82% das entrevistadas relataram que o maior desafio é ter de provar, a todo momento, a própria competência técnica.

E, ocupando a segunda posição no ranking de reclamações (51%), a questão de não serem respeitadas por pares, sejam superiores ou subordinados, do gênero masculino.

No meu caso, foram inúmeros os episódios de preconceito que passei nesses 5 anos trabalhando na área de TI, com atenção especial ao desdém às minha opiniões (principalmente no início), pela minha ausência de experiência prévia na área; e uma certa condescendência pejorativa ao me explicar as coisas, devido à minha falta de conhecimento técnico de programação.

Síndrome da impostora

Outro ponto que notei nos meus primeiros meses como PM/PO (e que até hoje noto de vez em quando) – e que pode acontecer com você amiga PM/PO que está entrando na área – é a síndrome de impostora.

Caso você nunca tenha ouvido essa expressão, ela diz respeito a um padrão de comportamento no qual a pessoa duvida da própria capacidade, e é muito comum principalmente em mulheres.

De acordo com pesquisa realizada pela consultoria KPMG, ano passado, 75% das executivas experimentaram a síndrome da impostora em suas carreiras.

Nos meus primeiros meses como PM/PO eu acreditava que iria ser mandada embora logo. Tinha muito medo de não estar desempenhando um bom trabalho, e de nunca ser suficientemente boa naquela função.

O que se provou totalmente errado, pois consegui me sair muito bem! Só nessa startup que já mencionei, fui promovida 4 vezes. Comecei com 2 projetos e saí da empresa com 16, com gestão direta de 3 POs e indireta de mais de 15 devs.

Mas até hoje, quando tenho que fazer algo que nunca fiz, me pego com medo e duvidando se vou ser boa naquilo.

E posso dizer que, com certeza, o preconceito que sofremos no mercado de TI contribui para esse sentimento de medo e inadequação.

Os bons são maioria

Mas sabe o lado bom de toda essa história? Os bons são maioria! 😊

Tive o privilégio de trabalhar com devs homens incríveis, não apenas tecnicamente, mas também seres humanos maravilhosos. Que foram respeitosos comigo durante toda a caminhada, nunca duvidaram da minha capacidade, nunca falaram comigo em um tom de condescendência e superioridade, sempre me colocaram pra cima, e ainda me ensinaram um monte de coisas.

Tenho vários nomes bons para citar, mas há alguns especiais que se tornaram amigos íntimos, como o Sérgio Oliveira, que eu já citei em outro artigo, Jeferson Leonardo, Roberto Justo e Gabriel Ribeiro. Obrigada, meninos, por vocês existirem. Vocês são exemplo! ❤️

E o meu desejo para o futuro é que, quanto mais o tempo passe, esse preconceito e machismo sumam do mercado de TI, e tenhamos muito mais respeito e igualdade na nossa área.

Está gostando dos meus artigos? Quer ler mais?Então continue me acompanhando por aqui! 😊

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Flávia Fontinhas
Mulheres de Produto

Senior Product Manager, com 5 anos de experiência na área de tecnologia e 6 anos na área de marketing, escreve sobre a gestão de produtos digitais e muito mais.