O que eu aprendi com os PMs do Google

Natália Turrioni
Mulheres de Produto
6 min readJul 29, 2018

Como residente do Campus São Paulo tive a oportunidade de participar do Campus Expert Summit, um programa no qual vários experts do Google, de diferentes países, vieram para o Brasil para contribuir com o desenvolvimento das startups residentes. Além disso, ocorreram várias palestras abertas para a comunidade empreendedora que abordaram diversos temas, como cultura, times de alta performance e desenvolvimento de produto.

Este último tema foi meu grande foco e tive a sorte conversar com dois grandes PMs do Google: Matthew Conroy e Ivan Kuznetsov. Eles compartilharam diversos ensinamentos, boas práticas e dicas de como lidar com os desafios do dia a dia.

Aprendizado 1 - Construa times na qual você possa delegar

É difícil confiar em alguém. Dá ansiedade deixar para outra pessoa fazer algo que você sempre fez e foi responsável. Até porque essa pessoa irá fazer de uma forma diferente do que você faria (CLARO!). Mas é impossível fazer tudo sozinha. Não é produtivo, não é saudável e não permite que você evolua profissionalmente e a empresa cresça de forma sustentável.

Por isso é importante construir times que estejam alinhados e tenham autonomia para a execução. Basicamente, existem três formas de você delegar algo a alguém:

  1. Determinar exatamente o que tem que ser feito: as regras já estão definidas e a tarefa deve ser executada como foi estabelecido. Ou seja, existe pouquíssimo espaço para realizar mudança com relação àquilo que foi solicitado.
  2. Definir as principais diretrizes: nesse cenário são informadas as principais regras para execução da tarefa, principalmente o que não pode ser feito. Mas o grau de liberdade é bem maior do que no primeiro cenário.
  3. Informar o que precisa ser feito: aqui o executor tem liberdade total para definir as regras, a forma como será entregue e até mesmo quando será entregue.

Não existe certo ou errado em nenhum dos três “tipos” que uma tarefa pode ser delegada. Depende do contexto, da senioridade da equipe, dos prazos existentes, do público que será impactado pela entrega, etc.

A questão aqui é se você trabalha com pessoas que possuem competências que fortalecem as suas. Se você possui um time que trabalha unido e que é capaz de ser transparente para falar quando algo não está indo bem. E se você confia que as entregas serão feitas com qualidade independente da forma como ela foi delegada.

Aprendizado 2 - Launching good enough better than never launching

Em desenvolvimento de software é impossível não existir bugs (simplesmente impossível), mas existem erros que podem custar o preço alto e afetar milhares de pessoas. Afeta uma empresa inteira, inclusive de forma emocional.

Para chegar até o lançamento de um produto ou de uma feature é essencial seguir um fluxo, afim de minimizar que “desastres” aconteçam. Abaixo compartilharei um fluxo que mescla o que aprendi com os experts e o que estamos aplicando na startup que eu trabalho:

1-Priorize o problema: os seus clientes possuem diversas dores e você não vai conseguir analisar e solucionar todas de uma vez. Saber priorizar pode ser definitivo para a sobrevivência de uma empresa ou o sucesso de um projeto. Por isso, analisar os impactos e o potencial de ganho é essencial.

2-Definir o problema: uma vez priorizado a dor é crucial que se entenda as causas raízes que geram esse problema. É necessário estudar afundo e acompanhar o dia a dia do cliente para ter certeza que está sendo atacado o problema certo.

3-Desenhar a solução: uma vez definido o problema o time deve definir as regras de negócio e a jornada do usuário. Ao longo do desenho da solução é importante fazer validações parciais. Além disso, o envolvimento dos engenheiros essa etapa pode ser uma das chaves para um lançamento bem-sucedido da funcionalidade.

4-Construir a solução: ao longo do desenvolvimento existe uma série de boas práticas que podem ser seguidas para reduzir as chances de bug:

  • Ter muita atenção as histórias e regras de negócio (parece óbvio, mas muitas falhas ocorrem por falta de leitura dos requisitos descritos).
  • Desenvolver sem pressa. Planejar e refletir a melhor forma de desenvolver uma feature pode evitar erros e consequentemente retrabalhos.
  • Testar manualmente o que foi desenvolvido.
  • Executar unit tests para aumentar a cobertura do código.

5-Lançamento: antes de lançar uma funcionalidade é necessário estabelecer uma métrica de sucesso. Dessa forma será possível avaliar se o objetivo e o ganho esperado foram alcançados e quais serão as evoluções necessárias a serem desenvolvidas futuramente.

6-Anúncio do lançamento: existem diversas formas de comunicar os usuários atuais de seu produto e os potenciais clientes sobre uma nova funcionalidade ou uma melhoria realizada. Idealmente o produto deve possuir um guia online para explicar ao usuário sobre a nova funcionalidade. Uma alternativa é enviar newsletter para sua base de clientes com a finalidade de explicar as novidades lançadas.

Aprendizado 3 - Seja VOCÊ a pessoa mais organizada no time

É muito mais fácil ser desorganizado do que organizado.

  1. É aquela regra de negócio sobre uma funcionalidade que só está na sua cabeça e não está documentada (EM NENHUM LUGAR), de forma que toda vez alguém tem que te perguntar como funciona a feature XYZ no sistema.
  2. É um relatório que foi enviado com informações inconsistentes, pois não houve uma análise prévia.
  3. É uma reunião crítica com um cliente sobre um projeto e nenhuma ata ou documento foi escrito e algumas decisões tomadas são “apagadas da memória de todas as pessoas que estavam na reunião”.

Por isso, faça um trato com você mesmo — seja a pessoa mais organizada sempre que se envolver em uma tarefa (não importa a natureza ou grau de complexidade). Ao ser a mais organizada, você passa a ser a pessoa que indica a direção de como as coisas devem ser executadas.

Aprendizado 4 - Estabeleça as metas da semana

Na conversa com o Matthew uma das principais dicas que ele deu foi de estabelecer os grandes objetivos a serem cumpridos durante a semana (a dica dele é que não passe de três). Toda segunda-feira, ele em conjunto com o seu “braço-direito” (que é um especialista da área dele) definem o que deve ser executado. O foco dele é cumprir com as tarefas estabelecidas naquela semana, para que só depois ele passe a trabalhar em demandas secundárias. A questão aqui é ter foco total na meta estabelecida.

Aprendizado 5 - Cada escolha é uma renúncia

Esse foi o principal aprendizado para mim, sem dúvida. O nosso dia a dia é composto de escolhas. Das mais pequenas, como não almoçar com o time para conseguir mandar um e-mail importante a tempo, até as grandes decisões, como por exemplo, priorizar feature A e não a feature B.

A questão aqui é: você e todos stakeholders precisam estar cientes do custo de não executar uma tarefa em detrimento de outra. Uma vez que todos estão na mesma página sobre o que será executado, as expectativas da “NÃO” realização das demais tarefas estarão alinhadas, e com isso, será possível executar o trabalho de uma forma muito mais saudável e produtiva.

No canal do YouTube do Campus você encontra as gravações dos eventos abertos do programa Campus Expert Summit e diversos outros vídeos sobre empreendedorismo!

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