O que os posts não te contam sobre transição de carreira para Produto

Relato “sincerão” de uma mudança de carreira, sem buzzwords e romantismo

Natane Nalin
Mulheres de Produto
4 min readApr 15, 2022

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Se você se interessa pelo tema, basta abrir o Linkedin e dar uma breve navegada, que o algoritmo irá te mostrar uma infinidade de conteúdos sobre Gestão de Produto. São cursos pipocando por todos os lados, novos “gurus” aparecendo e muitas, mas muuuuuitas dicas sobre como fazer a tão sonhada transição para a área.

Esse “hype” de Produto é algo relativamente recente no mercado, então é natural que muitos profissionais estejam de olho nas oportunidades, muitas vezes querendo abandonar suas antigas carreiras e partir para uma nova área. Exatamente a mesma coisa que eu fiz, três anos atrás, quando resolvi deixar minha atuação como líder de marketing.

Mas a verdade é que a maioria dos conteúdos que encontramos é produzida por pessoas interessadas em vender algo para esses aspirantes a PM. Cursos, mentorias, livros e afins. Isso gera um viés e uma “glamurização” da profissão, que eu particularmente acho tenebrosa. Não são raros os posts onde o PM parece um “ser superior” ou a área o ponto mais importante de todo o negócio.

Longe de mim querer desmerecer a minha própria área… mas menos gente, bem menos!

Produto é sim uma área super importante, e o PM tem sim um papel fundamental no negócio. Assim como várias outras áreas!!! É a engrenagem toda que faz um negócio ter sucesso e não uma área carregando a estratégia nas costas.

Dito isto, a ideia deste texto é contar para você, pessoa interessada em se tornar um Product Manager, um pouco da minha experiência pessoal nessa transição, por um ponto de vista nada “romântico” nem glamuroso, como a maioria faz. Aqui é #vidareal e espero que ajude você a amenizar a síndrome do impostor que bate toda vez que lemos os conteúdos baseados em buzzwords e cenários ideais.

Então vamos lá:

  1. A transição não precisa ser um recomeço do zero: Sim, por mais distante que pareça, você vai aproveitar algo da sua carreira anterior. Não fique com aquele sentimento de “nossa, mas eu vou jogar tudo isso que passei fora?”. Não, não vai.
    No meu caso, tive uma primeira formação absolutamente NADA a ver com tecnologia (sou formada em Educação Física) e, mesmo assim, essa formação me favoreceu na hora de conseguir oportunidades (hoje atuo com tecnologia para o mercado fitness).
    Sempre há um jeito de aproveitar o que você fez anteriormente, seja buscando oportunidades em dentro do mercado que você atuava com esse novo foco, seja aplicando técnicas que você usava antes dentro do contexto de produto, etc. E o melhor, essa bagagem não tem curso que ensine!
  2. Cara de pau importa: Suponho que você deva saber isso já, mas a gente nunca “está pronto” pra fazer essa mudança. Então prepare-se para aceitar desafios que você ainda não tem ideia de como irá executar, para eventualmente sair de reuniões pensando “Meu Deus, eu não entendi p*rra nenhuma desse assunto”.
    O importante é: mantenha o “carão”, não entre em pânico, mas anote tudo e depois dê seus pulos para estudar, entender sobre os pontos, perguntar, buscar ajuda. Não tem o menor problema ficar um pouco perdido no começo e isso VAI acontecer.
  3. Tem assuntos que você não vai entender: Esse item é irmão do item anterior. Em geral, a atuação de um PM tem muitas pontas. E você, por mais inteligente que seja, não vai dominar todas. Não tenha essa pretensão, que vai ser só um motivo pra se frustrar.
    No meu caso, até hoje alguns pontos em tecnologia me deixam com a maior cara de paisagem nas conversas (Meu tech lead as vezes precisa fazer uma explicação ‘for dummies’ pra mim, rs!), e não tem problema nenhum isso acontecer. Óbvio, desde que a gente busque os recursos e/ou as pessoas certas pra ajudar nos assuntos que não dominamos. Só não vale se boicotar por vergonha de admitir que não sabe e deixar o assunto solto.
  4. Não se deixe levar apenas pelas buzzwords: Há muita gente no mercado inventando novos termos e falando bonito, cheio de palavra ‘in English’, apenas para impressionar, pra fazer o fácil parecer complicado.
    Aí vai um choque de realidade para você: a maioria absoluta dos conceitos relacionados a gestão de produto são EXTREMAMENTE SIMPLES.
  5. Você não é CEO de nada: Essa história de “CEO do Produto” gera nas pessoas uma impressão totalmente errada sobre como é a atuação no dia a dia de um PM. Nossa responsabilidade sobre o produto é claramente vital e na maioria das empresas há sim bastante autonomia. Mas a realidade é: temos interdependências, temos stakeholders pra lidar, temos pressões e — sim! — temos eventualmente que executar decisões que não são nossas, engolir um sapinho aqui ou ali, como em praticamente todo trabalho neste planeta. Dizer que como CEO de alguma coisa, cria uma expectativa de autonomia que, na prática, dificilmente vai existir.

Claro que eu não quero desanimar você, leitor(a), mas sim dar uma experiência mais próxima do real sobre como é o começo da atuação em produto, menos “comercial”. O discurso cheio de firula é muito bonito pra vender curso, mas pode levar muita gente a entender que “não é o suficiente” pra posição. Além disso, é no dia a dia é que a gente descobre como as coisas funcionam de verdade.

No final das contas, a realidade é que não há trabalho perfeito, mas a atuação na área é sim muito prazerosa. É muito claro de ver a contribuição de um PM nas entregas e isso é recompensador. Então se você está avaliando migrar, ou começou recentemente na área, aproveite as dicas (as minhas e todas mais que achar que deve) e muito sucesso pra você!

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Natane Nalin
Mulheres de Produto

Produteira, Marketeira e planejadora de viagens nas horas vagas | Product Manager na Smart Fit