Podcast MdP: Acessibilidade para Produtos Digitais (com transcrição ❤️)

Erica Castro
Mulheres de Produto
35 min readSep 30, 2019

Eu escutava falar em acessibilidade, mas não tinha uma ideia muito precisa do que significava desenvolver um produto acessível.

Não tinha clareza se existiam padrões que regiam o tema e como eu, no papel de Product Manager, poderia trazer acessibilidade para os produtos com os quais trabalhava.

Link para o podcast

Mas foi com o texto da Iana Alves: Design como uma ferramenta de inclusão: como começar a falar de acessibilidade na sua empresa, que liguei meu radar para o assunto. No texto, Iana traz dados impressionantes sobre o tema:

“Segundo dados do IBGE de 2010, cerca de 45 milhões de brasileiros declararam possuir alguma deficiência. Não levar essas pessoas em consideração na hora de pensar um produto significa excluir automaticamente um quarto da população brasileira.”

Com o assunto ainda reverberando, falei com algumas pessoas no meu círculo sobre o artigo e sobre os dados. Percebi que esse falta de clareza não era só minha. Logo pensei que fazer um episódio sobre o tema seria tanto um serviço quanto uma grande oportunidade de aprender sobre acessibilidade.

Entrei em contato com a Iana para saber se ela topava participar do episódio e contar sobre sua motivação em escrever o artigo. Atualmente, a Iana é Designer na Tropikal, mas na época da gravação ela era Product Desginer no Quinto Andar. Ela e a Camila Marinho Garcia, Software QA Analist, que também participou do episódio sobre Acessibilidade, tinham como projeto paralelo acessibilizar o Quinto Andar. Que missão, minha gente!

Camila e Iana estão sentadas na mesa de trabalho. Camila utiliza o celular com fones de ouvido enquanto Iana observa.
Testes de acessibilidade, no QuintoAndar, com Camila Marinho e Iana Alves.

É sempre maravilhoso gravar para o podcast, pois tenho a oportunidade de conhecer mulheres excepcionais e aprender muito com cada uma delas. Mas devo dizer que este episódio foi bem especial. ❤

Saí dessa conversa totalmente mexida e com uma questão na cabeça: como levar o assunto para dentro das nossas empresas. Como falar disso e começar a colocar em prática pequenas ações que já ajudam milhares de pessoas em suas tarefas diárias.

Até porque, como bem colocou a Camila:

“Quando a gente fala em acessibilidade, a gente pensa: ah! a pessoa com deficiência visual, ah! pessoa com deficiência física. Não! A acessibilidade é aquilo que é intuitivo, prático e fácil para todo mundo.

Pensar na acessibilidade como pessoa com deficiência um pensamento um tanto reducionista. Ela abrange a todos nós enquanto população.”

Depois aula que tive com Camila e Iana, eu me pergunto: como um tema tão importante ainda está distante do programa das principais formações na área de produtos digitais?

Por isso, convido você a fazer uma imersão pelo assunto Acessiblidade, conhecer alguns exemplos de como a tecnologia tem tornado possível algumas atividades que parecem corriqueiras e como nós, profissionais na área de tecnologia e produtos digitais, podemos influenciar a adesão de boas práticas que tornam os produtos mais acessíveis.

Então, bora conferir o papo?

Link para o episódio

E para celebrar este episódio tão especial, temos o 1o podcast do MdP com transcrição!

Você pode conferir o áudio ou ler a entrevista abaixo. Ao final, como sempre, temos as notas e referências do episódio. E deixe seus comentários aqui no Medium ou fale com a gente por E-mail.

Transcrição do Podcast

Início do Episódio (recorte da fala da Camila Garcia Marinho)

É legal deixar claro que pensar na acessibilidade como pessoa com deficiência um pensamento um tanto reducionista. Ela abrange a todos nós enquanto população.

Música de Abertura

Erica Castro: O episódio de hoje do podcast Mulheres de Produtos é sobre acessibilidade em produtos digitais. E para conversar com a gente sobre isso, temos duas convidadas: a Camila Marinho e a Iana Alves.

Camila Marinho Garcia: Olá, gente! Camila Marinho. Eu sou Software Quality Analyst no Quinto Andar. Eu trabalho com SEO. O meu foco não é só acessibilidade mas inicialmente a gente está trabalhando em acessibilizar todos os nossos produtos. É uma intenção do Quinto Andar. A gente está olhando muito fortemente para isso.

Eu sou deficiente visual total, sou mãe, feminista, profissional na área de TI e sou nerd!

Erica Castro: Muito bom ter você com a gente, Camila e acho que se vai poder dar muitos insights para esse assunto que eu acho interessantíssimo, muito relevante e que a gente tem pouco conhecimento. Muito obrigada.

Iana, pode se apresentar? Fala um pouquinho de você.

Iana Alves: Meu nome é Iana. Eu sou carioca morando em São Paulo. Trabalho no Quinto Andar também como Product Designer. Assim como a Camila, o meu foco não é acessibilidade, mas a gente está tocando isso como um projeto paralelo, tentando acessibilizar o produto. A Camila chegou para ajudar nessa missão.

Erica Castro: Que barato! E caso alguém ainda não saiba o que Quinto Andar faz, como é que vocês explicam?

Iana Alves: O Quinto Andar é uma startup que está tentando desburocratizar o processo de locação de imóveis, criando uma experiência mais agradável e sem tanto perrengue na hora de fazer uma mudança, alugar um imóvel novo. Enfim, esse tipo de coisa.

Erica Castro: Legal! E meninas, eu queria saber de vocês, quando a gente fala, num contexto de produto digital, o que é ter um produto acessível?

Camila Marinho Garcia: Bom, um produto acessível é aquilo que todos consigam usar, sem exceção. Quando a gente fala em acessibilidade, a gente pensa: ah! a pessoa com deficiência visual, ah! pessoa com deficiência física. Não! A acessibilidade é aquilo que é intuitivo, prático e fácil para todo mundo.

Erica Castro: Muito bom! Embora você tenha tocado nesse ponto de que é um produto acessível ele vai além da questão de pessoas com algum tipo de deficiência, mas quando a gente olha para esse público a gente está falando um pouco de que tamanho?

Camila Marinho Garcia: Quando a gente olha para o público com deficiência, a gente tá falando que no Brasil existem, pelo último censo do IBGE, 45 milhões e 600 pessoas com deficiência. Cerca de 3,5 (por cento) declaram ser cegos totais e tem outras métricas, não lembro exatamente agora, mas um total de 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil. Então se a gente for pensar em acessibilidade para pessoas com deficiência, a gente já vai ter um lucro e tanto!

Iana Alves: Cerca de 25% da população brasileira declara ter algum tipo de deficiência e dessas 25%, 3,5% são cegos completos totais, como a Camila mencionou.

Camila Marinho Garcia: É legal deixar claro que pensar na acessibilidade como pessoa com deficiência um pensamento um tanto reducionista. Ela abrange a todos nós enquanto população. Eu até dei uma palestra no último ano MDP Day (sobre isso). Quando a gente fala em acessibilidade para uma pessoa com deficiência, a gente fala em pessoas com mobilidade reduzida, que fazem uso do joystick, por exemplo. Pessoas que não têm movimento nenhum do corpo que utilizam o movimento do olho, por exemplo, para conseguir utilizar o computador. A gente fala em pessoas com deficiências cognitivas, (como) dislexia, autismo. E a gente fala em deficiência auditiva, visual, enfim. Visual lembrando que existem graus de deficiência visual, assim como de deficiência auditiva também. Por exemplo, na deficiência visual, existem pessoas que são baixa visão e pessoas que são visuais total como eu.

Erica Castro: Esse ponto que você colocou acho que é extremamente relevante. Porque, a gente tende a simplificar mesmo essa questão. Eu acho que até quando estava preparando a pauta, a Iana trouxe um trecho de uma matéria que eu achei muito interessante que é: em algum momento, a gente pode ter uma condição de falta de acessibilidade, seja por conta do ambiente em que a gente esteja inserido. Você pode contar um pouco mais sobre isso, Iana?

Iana Alves: Eu acho que a gente tem uma visão de que a necessidade por acessibilidade acaba sendo da pessoa com deficiência, da pessoa que não enxerga ou que está numa cadeira de rodas, mas pode acontecer muito bem com qualquer um. Então acho que um exemplo bom é de uma mãe que está com um carrinho de bebê, como você tinha comentado. Quando você está com carrinho de bebê na rua, você está precisando acessibilidade, porque você está no momento, numa situação que você precisa de acessibilidade. Não é que você seja uma pessoa com deficiência. Então, você percebe que a rua não é projetada, não tem rampa, as portas dos estabelecimentos não são largas suficientes para um carrinho. Esse tipo de coisa pode acontecer com todo mundo.

Iana Alves: Então, quando você está usando um aplicativo de banco,por exemplo, se você tiver com o seu braço a sua mão principal engessada. Você consegue usar com uma mão só esse aplicativo? Você consegue utilizar com a sua mão esquerda ou sua mão direita, se você for canhoto, enfim. Eu acho que são coisas que a gente não leva em consideração na hora de pensar em acessibilidade, mas que são super importantes principalmente no dia a dia, num produto que você quer que seja usado e que pode ser usado num momento de estresse.

Então, por exemplo, eu sempre passo por situações assim, com produtos de chamar o carro. Então às vezes eu estou saindo do trabalho com pasta, levando o computador, preciso trocar de escritório. Então eu estou com coisas na mão, materiais… e às vezes eu preciso chamar o carro para me levar lá e eu não consigo. Porque eu tenho que colocar tudo no chão, ou pedir ajuda para alguém, porque é impossível usar com uma mão só, alguns dos aplicativos. Então o tipo de coisa que a gente não leva em consideração, mas que também tem a ver com acessibilidade. É acessibilidade você pensar sobre isso.

Erica Castro: Perfeito. E quando a gente pensa no impacto econômico de ter um produto acessível, imagino que seja grande né. Dado o percentual da população que tem algum tipo de dificuldade em termos de acessibilidade, mas ainda mais considerando esses outros aspectos que vocês trouxeram agora. De que acessibilidade para todo mundo.

Camila, você estava falando da sua palestra. Do que se fala, o que é mais relevante quando a gente fala sobre essa questão da acessibilidade?

Camila Marinho Garcia: Eu sempre começo comentando um pouco como a pessoa com deficiência visual trabalha, como funciona o leitor de telas. Como ele reproduz aquilo que está na tela de quem enxerga. Depois eu falo um pouco sobre essa questão de que a acessibilidade não é só para pessoas com deficiência e que acessibilidade também não tem nada a ver com adaptação. É uma questão de acessibilizar para todos. Não sei se todo mundo aqui e já ouviu falar em desenho universal, que basicamente é construir produtos para que todos consigam utilizar. E depois eu falo um pouco sobre como foram os testes de acessibilidade, no que os testes de acessibilidade se baseiam.

Enfim, essa palestra eu dou em parceria com uma pessoa que não é do Brasil. Na verdade ela mora aqui atualmente, mas é uma americana que ela também testa acessibilidade, só que ela está testando acessibilidade no papel de uma pessoa que enxerga. Ela testa contraste. Ela testa questões visuais da página mesmo. E ela dá essa palestra comigo mostrando que acessibilidade não é só pra um nicho específico de público.

Erica Castro: Super legal! Quando gente está falando de acessibilidade no Brasil ou no mundo, existe alguma legislação ou algum guia de boas práticas sobre ter produtos acessíveis? A gente tem essas referências?

Camila Marinho Garcia: No Brasil, a gente tem como legislação a LBI. Foi a partir da LBI que as pessoas começaram a olhar para acessibilidade. Ela determina que todo site, toda a empresa nacional deve ter seu site acessível para todos. Isso inclui bancos, enfim, qualquer empresa. E como guia de boas práticas de acessibilidade, a gente tem a WCAG, que é uma norma da W3C.

A WCAG, resumindo ela é um guia que se divide em quatro princípios , 3 diretrizes e 78 critérios de sucesso. É um documento extenso, passível de vários tipos de interpretação, mas já existem pessoas que trabalharam para que isso possa ser Balido e interpretadas de forma mais fácil.

Erica Castro: Bacana. Você falou dos quatro pilares. Quais são eles. Só para se ter uma ideia do escopo.

Camila Marinho Garcia: Compreensível, perceptível, robusto e operável. A ordem, na verdade, é perceptível, compreensível, operário e robusto.

Erica Castro: Bacana. Legal! Depois a gente coloca na descrição do episódio.

Camila Marinho Garcia: As três diretrizes e os 78 critérios de sucesso é impossível de citar!

Erica Castro: Não, imagina. Nem vou fazer isso! E, quando a gente pensa no desenvolvimento de produtos digitais, que ferramentas já ajudam para tornar esses produtos mais acessíveis?

Camila Marinho Garcia: Eu acho que é importante primeiro a pessoa entender o que é a acessibilizar. As pessoas precisam entender que acessibilidade é de fora para dentro. Que não adianta nada fazer um menu lindo de transferência mas seu login é uma porcaria. E geralmente as pessoas se baseiam na WCAG mesmo como referência. Enfim, não existem tantas ferramentas assim, mas a base é que o time seja um só com relação a acessibilidade. Que a acessibilidade seja compreendida desde o início do desenvolvimento do produto.

Erica Castro: Bom ponto você tá falando aí. Isso é um gancho pra uma pergunta que a gente queria fazer: como profissionais que atuam no desenvolvimento de produto seja um produto manager, seja um produto designer e outras profissionais, como é que a gente consegue ter esse olhar para a acessibilidade nas iniciativas? Qual seria o primeiro passo?

Iana Alves: Olha, aí eu acho que é o papel do produto manager é essencial. Porque, justamente como a Camila falou, a acessibilidade não é uma feature, não é uma coisa que você pensa depois. “Ai, eu vou fazer o produto e depois eu deixo ele acessível!” Porque se você tiver esse mindset, você vai se prejudicar. No sentido de que é muito mais difícil você transformar o seu produto num produto acessível do que vocês já criar um do zero. Então eu acho que a primeira coisa é ter esse minfdset, sabe?

Iana Alves: Então, na hora do discovery, na hora em que você está pensando que tipo feature, como é que vai ser a estrutura do seu site, aplicativo ou da tela que você está trabalhando, enfim. Já é legal você, não digo ser um especialista, mas pelo menos ter em mente algumas questões de acessibilidade, como por exemplo a navegação, cores, a forma como você mostra a informação. Eu acho que é muito complicado você fazer isso, se você deixa só para o desenvolvedor cuidar da semântica, colocar as tags, enfim.

Eu acho que o product manager, ele tem que estar dando aquela força para falar “não a gente pode gastar um pouquinho mais de tempo aqui deixar esse produto acessível, essa tela”. E aí quando passa para o designer, imaginando um processo mais em cascata, eu acho que o designer ele é a pessoa que vai ser fundamental ali no processo pra entender justamente a questão do usuário. Então, será que uma pessoa que usa um leitor de tela vai conseguir usar essa navegação? Será que faz sentido para ela?

Eu acho que todo mundo tem que estar pensando nisso junto. Então o designer não pode fazer sozinho porque ele tem que considerar também os desenvolvedores. Como que vão ser as tags, como que vai ser a estrutura em HTML daquela página, mas o product manager tem um papel essencial de estar liderando e estar mostrando que esse mindset é relevante sim! Não é só uma preocupação do designer ou não é só uma preocupação do desenvolvedor. É uma questão de mindset do time.

Camila Marinho Garcia: Eu acho muito importante. Porque quem escreve a história, né? Escrever a história já pensando em acessibilidade é muito importante. É de extrema importância se pensar em acessibilidade desde o início. “Ah! O que o product manager pode fazer por acessibilidade?” Justamente por estar no início do processo, ele pode fazer muita coisa!

Erica Castro: Excelente! E quando a gente pensa numa empresa que é madura em relação a acessibilidade, que ela aplica boas práticas. O que ela faz?

Iana Alves: Eu acho que é um pouco isso: ter acessibilidade como um mindset inicial. Então essa acessibilidade não é uma feature. E a empresa tem que entender isso. A empresa já tem que ter no seu processo alguma forma de testar a acessibilidade dos produtos como algo definido. Então, não adianta, por exemplo, eu criar agora uma feature para o meu produto e essa feature ser acessível, se até eu chegar nessa feature todo o processo não é acessível.

Tem que ser uma coisa que pega o processo inteiro e você tem que ter um mindset também de manutenção. Porque é muito comum que você faça algo acessível. Daí você vai subir uma mudança, update, uma nova feature, enfim, o que quer que seja, e você quebra essa acessibilidade daquela página, do do site, enfim do que quer que seja. Então acho que o processo de acessibilidade tem que estar bem estabelecido como mindset e como o processo.

Então desde o começo a gente pensa acessibilidade e durante nosso processo nós temos etapas de testar acessibilidade tanto com o usuário, fazer discovery, pesquisa, quanto na parte do QA e desenvolvimento e como que a gente mantem acessibilidade no nosso produto também. Não pode ser uma coisa que você faz hoje, deixa para lá e daqui a dois meses você vai ver que subiram coisas que quebraram tudo.

Erica Castro: Muito bom. Camila você gostaria de complementar?

Camila Marinho Garcia: Eu acho que a Iana deu um contexto bem completo. Tem sempre uma coisa que eu gosto de falar, que é uma metáfora, mas acho que vale muito: a acessibilidade não começa no final da esteira de desenvolvimento. A acessibilidade, ela começa no início do produto, como eu já falei várias vezes aqui.

Assim quando você não faz isso, quando você vai olhar para acessiblidade no final, você não está mais acessibilizando, você está apagando fogo. Porque a interface que o designer criou ali, ela vai ser codificada. E se ela não foi pensada com acessibilidade desde o início não é o desenvolvedor que vai resolver a parte dele sozinho. Infelizmente muita gente tem essa visão: “acessibilidade, desenvolvedora, aria hidden e aria label”.

Enfim, essas coisas mais técnicas. Mas não, sabe!? Infelizmente isso acaba indo tudo pra cima do desenvolvedor. Se esse projeto não foi pensado desde o início vai chegar o momento que ele vai ter que ir para a prancheta de volta ou então vai ficar inacessível.

Camila Marinho Garcia: Um exemplo bem legal de empresa sim que eu acho que se preocupa muito com acessibilidade é a Apple que eles têm um olhar bem atento para a acessibilidade. No WWDC tinha engenheiros para falar sobre acessibilidade, eu vi uma galera comentando. Acho que é uma boa e uma boa referência de acessibilidade.

Erica Castro: Bacana! A gente vai falar dos cases já já. Deixa eu aproveitar ainda nesse tópico. No Instagram da (comunidade) Mulheres de Produtos, a Isabele Cunha, ela enviou uma pergunta. Como o PM pode ajudar na implantação desse mindset de acessibilidade em um produto que já existe. Qual seria o primeiro passo?

Camila Marinho Garcia: Isso é apagar o fogo, infelizmente. É possível, sabe. A gente tenho feito isso aqui dentro do Quinto Andar, mas a gente já está pensando em novas features com acessibilidade. É colocar um cara para testar e a pessoa vai apontando os bugs e a gente vai procurando a melhor forma para corrigí-lo sabe? A única maneira.

Erica Castro: Ter mapeado, já trazer isso para o backlog e você já começa a fazer essas alterações, esses ajustes e eu acho que, derrepente, quando já vai pensando nas próximas features, já contempla isso.

Camila Marinho Garcia: Eu brinco que o trabalho que a gente tem corrigindo o que não foi pensado com acessibilidade é o aprendizado que a gente tem para criar novas features, sabe? Simples assim. É muito importante colher testes com o usuário mesmo. “Será que o meu produto é acessível?” Chame a galera para testar inicialmente. Oferece uma bebidinha do Starbucks. Chama a galera para testar que eu acho que é bem importante.

Camila Garcia Marinho: Eu brinco com essa história do Starbuck porque é uma brincadeira mesmo. Mas a gente tem que procurar o público de acordo com o ambiente. No caso de deficiência é muito mais provável que a gente encontre pessoas no Twitter, no Facebook do que no Starbucks!

Iana Alves: Eu acho é essencial ainda que o PM também abra espaço para esse tipo de teste, experimentação. Porque quando é um time que ainda não sabe sobre acessibilidade, ele vai dar um pouco de cabeçada ali. O designer o desenvolvedor também. Até conseguir por exemplo estruturar um teste, falando dos designers. Estruturar um teste de acessibilidade. Então ele vai ter alguns problemas no começo, talvez, desenhar uma feature acessível. E o desenvolvedor também com várias questões técnicas que a gente sabe que não vai ser de primeira e que ele vai conseguir transformar aquele produto acessível.

Então, eu acho que o PM mostrar que ele está fazendo parte do processo, ele está abrindo espaço tanto para essa experimentação e estudo, quanto para, durante a priorização, ele vai ter esse papel essencial de falar: “não, a gente consegue tirar dois dias aqui para vocês fazerem o teste com o usuário” ou alguma coisa assim.

Acho que o PM acaba ajudando a liderar o time nesse objetivo. É muito difícil o squad se organizar independente e sozinho, se não tiver uma figura do PM ali meio que dando um OK. Não é bem dando um OK, porque a gente tem autonomia dentro das empresas. Pelo menos eu acredito eu gosto de pensar assim. Só que, quando o PM está apoiando a gente nesse tipo de trabalho fica muito mais fácil.

Camila Marinho Garcia: E você tocou num ponto muito legal é que essa questão de autonomia dentro das empresas. Tem pessoas que super se preocupam com a acessibilidade mas elas não têm, infelizmente elas trabalham empresa que elas não não são privilegiadas com essa autonomia. E as pessoas costumam perguntar: “ Ah, mas como eu faço pra convencer as pessoas de que a acessibilidade é importante?” Às vezes você tem um gerente lá que está cagando pra acessibilidade. O pouco que você fizer de acessibilidade, ainda que você não tenha autonomia. Essa coisa de verticalizar autonomia: “Ah! mas porque o diretor tem que aprovar acessibilidade”.

Cara, se você fizer alguma coisa acessível, os caras não vão nem entender o que está fazendo ali. É tão tão pouco notado por uma pessoa que não entende a acessibilidade. Então às vezes você quer fazer uma coisa acessível mas você “Ah! Mas estou com medo tal que…” Se você começa a levar isso aos poucos, nem que seja para poucas ações, em uma hora você vai chegar lá sabe.

É muito aristocrata pensar porque eu tenho que ter aprovação de fulano de tal. Isso eu falo para pessoas que não têm tanta autonomia. Porque a gente sabe que só acontece, infelizmente. Isso acontece para os designers, desenvolvedores, PM, PO…

Erica Castro: Eu acho extremamente relevante você falar isso. Porque em geral, a gente sempre está (pensando) em como é que consegue entregar mais com menos tempo. Às vezes algumas coisas acabam sendo cortadas do escopo. E eu queria saber de vocês se é um big deal (exige muito esforço) incluir acessibilidade no produto digital? Ou existem ferramentas que tornam isso muito simples ele?

Camila Marinho Garcia: Eu costumo dizer que, depois a Iana pode até complementar, eu acho que eu tenho bastante para complementar também. Noventa por cento de acessibilidade, gente, são boas práticas. Então sendo boas práticas, não é um big deal.

Iana Alves: Eu acho que big deal vai ser o começo, provavelmente. Então se você está do zero e você precisa, por exemplo, seus componentes não são acessíveis, seu design não tem nada de acessível, você pode acabar levando um tempinho até se estruturar de uma forma que seja.

Mas depois que você já conseguiu acessibilizar os seus componentes você já tem um design que ele está pensado pelo menos um pouco para olhar para o lado da acessiblidade, vai ser meio que você montar aquela página levando em consideração algumas práticas do design. E a mesma coisa com os desenvolvedores.

Então, o que acontece… algo que quebra a acessibilidade da parte no desenvolvimento é quando você faz coisas meio que na gambiarra. Se você estiver codando ali, já de acordo com a semântica web, bonitinha usando um link para o que é link, usando botão para o que é botão, você já vai estar saindo na frente.

Você não vai estar criando um produto acessível, mas assim, para quem está usando o leitor de tela ou para quem está precisando de alguma outra coisa em relação ao seu produto isso ajuda muito. É muito prestar atenção nas boas práticas no começo. E você ir desenvolvendo o que for possível ao longo do tempo.

Camila Marinho Garcia: É muito difícil. O desconhecido é muito complexo né. E como a Iana, falou no início você pode bater muito a cabeça porque quando você começa a falar de acessibilidade dentro da empresa é muito desconhecido. Tipo: “acessibilidade: ah! leitor de telas”. Então é tudo muito desconhecido. Mas como corrigir um bug de acessibilidade? Como fazer os componentes do nosso Design System acessíveis? É o desconhecido que traz a coisa mais maçante assim, na minha opinião.

Erica Castro: Agora, para tangibilizar, dá um exemplo do que poderia ser uma pequena mexida que já traz um valor enorme para quem tem alguma questão visual.

Camila Marinho Garcia: Nossa tenha uma coisa que eu estava na ponta da língua, eu ia falar isso em algum momento. Estado sensorial, gente! Se você colocar um botão clique no botão azul. Cara, a pessoa que é daltônica não vai saber que o botão é azul. A pessoa que tem uma deficiência visual, ela não vai saber que o botão é azul. E mostra um formulário. Quando você preenche um formulário errado, os campos que você preencheu incorretamente ficam em vermelho. A pessoa com deficiência visual ou daltônico ou próprio autista, que precisa de uma linha de raciocínio, ele não vai conseguir entender aquilo ali. O status disponível e indisponível no seu produto. Se você tem um sobrescrito ali, ele não vai conseguir entender.

Uma coisa muito legal, de começar, agora falando bem web mesmo, é ter uma noção de que, por exemplo, eu vou falar mais leitor de tela, tá? O leitor de telas ignora tudo o que é CSS. Então o leitor de telas ele compreende comportamento e semântica. Então tudo o que a pessoa for pensar em fazer. “Vou colocar isso o que sobrescrito em CSS. Um leitor de de telas ele não vai entender. Ele não vai passar por isso. Ele vai simplesmente ignorar isso. Acho que bom exemplo pra citar de acessibilidade.

Iana Alves: Eu acho que é algo que é muito pequeno e muitas empresas falham e, aí você me corrige se eu estiver errada, Camila, mas é a questão do título na página. A gente tende a esquecer de colocar o título e quando o usuário que está usando o leitor de tela, por exemplo, ele muda de contexto, ele sai de um menu e vai para o outro e o leitor não tem nada para ler para informar ele “agora estou no menu, por exemplo, que é a conta do usuário”. Ele fica completamente descontextualizado em que tela que ele tá.

Camila Marinho Garcia: Eu sou uma pessoa com deficiência visual, né. É como eu disse, pessoas que têm deficiência cognitiva também vão ficar perdidas. É bem posto o ponto da Iana. Outra coisa que é bem bobinha assim mas faz toda diferença é o clique aqui. A gente não sabe o que é clique aqui. A gente teve uma palestra que sexta feira com o Alexandre Costa, mais conhecido como Magu, e ele falou uma coisa que é muito engraçado: “Clique aqui pra mim é como um cara me chamando para entrar no beco eu não sei para onde estou indo.” Foi um exemplo que eu não vou conseguir esquecer. É muito engraçado. A gente não sabe. Clique aqui pra é para ir para onde?

É muito importante contexto, o título na label dos botões dos links. São coisas pequenas que, se você coloca, se você implementa,além de você estar cuidando de SEO, que é nada mais do que um robô que está lendo a tua página, você está cuidando de pessoas que utilizam um leitor de telas, de pessoas que precisam de uma linha de raciocínio para conseguir navegar.

Iana Alves: Eu vou deixar esse link. O Pinterest fez um redesenho completo do aplicativo deles e eles dão exemplos muito bons no artigo sobre pequenas coisas que eles trabalharam para mexer em contraste, textura, tamanho de texto. Deixar o usuário dar zoom out sem quebrar a página inteira. Tem exemplos bem tangíveis ali que eu acho que todo mundo pode começar a aplicá-lo sobre produtos sem grandes problemas.

Camila Marinho Garcia: Sim, eu já tinha visto esse artigo do Pinterest é bem legal mesmo. Bem interessante principalmente para quem quer utilizar acessiblidade no contraste. Bem interessante!

Erica Castro: Meninas, quando eu estava pesquisando para pauta, eu vi que já existem algumas ferramentas, como o iOS e Android, que já trazem alguns pacotes que ajudam nessa questão da acessibilidade. É bacana? Funciona?

Camila Marinho Garcia: Você está me dizendo com relação aos leitores de tela nativo do iOS e Android?

Erica Castro: Isso. Ajuda no desenvolvimento?

Camila Marinho Garcia: O leitor de telas, basicamente o que a gente usa no Android e no iOS. No iOS é o VoiceOver, no Android é o TalkBack. Existem outros leitores pra Android mas o mais utilizado hoje é o TalkBack. E eles são a base da navegação da gente. São a base para a navegação de uma pessoa com deficiência visual e até às vezes de uma pessoa com baixa visão também.

Iana Alves: É muito legal. Eles já são nativos hoje. Então uma pessoa com deficiência visual por exemplo ela pode pegar um iPhone que acabou de comprar ela não precisa instalar nada.

Camila Marinho Garcia: A própria Siri já instala o VoiceOver.

Erica Castro: E você consegue usar praticamente todas as funções do telefone?

Camila Marinho Garcia: O que a gente não consegue fazer. Eu falo disso minha palestra também. Tem um tópico na palestra que eu falo porque os leitores de tela leem de quase tudo em uma tela e não tudo? O que o leitor de tela não consegue fazer é por conta de sites inacessíveis. Porque o leitor de telas consegue fazer tudo se for acessível à aplicação ou página. Então literalmente tudo mesmo. Eu acho muito legal esse ponto.

Se você tem acessibilidade no seu produto, eu brinco que a internet é o espaço onde as pessoas com deficiência elas podem ser iguais na multidão, sabe. A gente tem hoje desenvolvedores com deficiência com vários tipos de deficiência mas a gente tem pessoas desenvolvedores que programam com leitor de telas. A gente tem a galera que dá suporte para você em ferramentas que você usa no dia a dia. Tem deficientes que pode ter uma deficiência visual e até mesmo aquele carinha que você está conversando na internet. Você conversa, conversa, conversa e você só vai saber que ele tem uma deficiência depois de muito tempo.

Então, leitores de tela, principalmente os nativos para celular, dão muita autonomia pra nós. Pra computador também existe alguns nativos. No caso do Mac também é o VoiceOver para OSx. Pra Linux é o Orca e para o Windows 8 é o Narrator. Infelizmente o Narrator ainda está em desenvolvimento. Mas a gente utiliza um leitor pra Windows que não é nativo, mas ele é ótimo. É um projeto open source que dá pra qualquer pessoa baixar e testar que é o NVDA.

Erica Castro: Mas isso precisaria ser baixado pelo o usuário ou por quem está desenvolvendo uma solução?

Camila Marinho Garcia: O usuário pode baixar para ter uma noção de como funciona. Mas eu acho muito importante todo mundo que trabalha com acessibilidade saber como funciona o leitor de telas. Saber como funciona uma pessoa que utiliza. Saber como é o funcionamento de um joystick para a pessoa clicar, para a pessoas chegar em determinado ponto da tela. Porque dessa forma a pessoa vai conseguir entender a necessidade de um Skip link no início da página. A pessoa vai conseguir entender a necessidade de um botão está rotulado corretamente.

A gente costuma dizer que para você entender necessidades de acessibilidade não é se colocar no lugar do outro porque isso é muito difícil, você conseguir exatamente se colocar no lugar de uma pessoa com deficiência. Mas tentar entender as ferramentas que essas pessoas, usam independente da deficiência. Não sei quem foi que me contou, há um tempo… acho até que foi um tech leader aqui no Quinto Andar, não lembro. Ele contou que na faculdade dele eles fizeram as pessoas andarem de cadeira de rodas sozinho. Para as pessoas entenderam a necessidade de um cadeirante. E o relato dele foi muito legal. Eu fiquei super interessada no que ele falou. Valeu a pena pra citar aqui. É muito se colocar no lugar do outro sentindo que o outro utiliza, sabe?

Iana Alves: Eu acho eu como designer agora não posso deixar de falar. Seria um crime sobre testar com o usuário. Acho que é super legal a gente entender um pouco do leitor de tela, entender como funciona a navegação, enfim. Mas nada vai ser comparado a vocês chamar uma pessoa que realmente é usuária frequente no dia a dia, aí do que quer que seja, do leitor de tela no celular de uma pessoa daltônica que precise de contraste e testar o seu produto ou fazer alguma entrevista com ela.

Porque, por mais que a gente tenha empatia, a nossa vivência nunca vai ser igual. Eu acho que é uma coisa que conseguiu alavancar muito a gente no Quinto Andar em relação à teste com acessibilidade, a tentar trabalhar com acessibilidade mesmo, foi a gente ter encontrado pessoas cegas que se disponibilizaram a testar o produto e falar “olha, isso não funciona, isso não funciona, isso não funciona”. Porque a gente já tava tentando fazer alguns updates, só que assim, na boa vontade e com o material que a gente tinha visto na internet. A gente fez os updates e uma pessoa testou pra gente e falou “Não, vocês acharam que melhoraram isso aqui mas acabaram piorando”.

Camila Marinho Garcia: Tem uma frase da Helen Keller que eu uso que valida muito que ela está falando agora. A gente já falou um pouquinho de testes de usuário no início, mas acho que tem uma frase da Hellen Keller, que é aquela surda cega, que eu uso sempre “nada sobre nós sem nós”.

Erica Castro: É maravilhosa, né? De arrepiar. E eu lembro essa frase, não lembrava que era dela, eu estava ouvindo o programa do Pedro Bial, Conversa com Bial, e ele estava tratando da questão do autismo. E aí uma das meninas falou sobre isso também. Que ela estava no espectro autista. E achei extremamente interessante isso (essa fala). Porque a gente pode só inferir, né? Se você não está numa determinada condição, a gente só infere.

Camila Marinho Garcia: E aí a gente também vai partir para o outro lado, que é essa questão de lugar de fala também. Se a gente for entrar nisso.

Erica Castro: Sabe eu que eu fiquei curiosa, mas você fique à vontade para responder. Que aplicativos você tem no seu celular, que você super curte.

Iana Alves: Ela tem o Quinto Andar…

Camila Marinho Garcia: Todo Quintandeiro tem que ter o Quinto Andar. Então, utilizo o Facebook, Twitter… eu vou passar o final aqui, acho legal a gente passar o contato da gente, né. O Facebook, Twitter, WhatsApp, Telegram, Calígula LinkedIn. Não utilize o Tinder. Até porque tenho namorado, mas ele também não é acessível. (rindo)

Mas é interessante. Você acha que essas ferramentas elas estão evoluídas em relação à acessibilidade, pelo menos visual.

Camila Marinho Garcia: O Telegram é um ótimo exemplo disso. Porque desde que estou em TI, eu sempre tive vontade de entrar em grupos de tecnologia. Tenho um exemplo de um cara louca pra entrar aqui é o grupo de um podcast que eu amo que o pode programar. Não sei se eu posso falar.

Erica Castro: Claro que pode! Comunidade é amor! (rindo)

Camila Marinho Garcia: Podprogramar é um podcast de 2 mulheres que incentivam mulheres a entrar na área de programação, inclusive até citei esse podcast não no MDP Day. Uma pessoa perguntou como ela poderia se inteirar de termos técnicos. Eu acho que é uma boa ouvir esse podcast para se inteirar de termos técnicos, porque às vezes PO reclama muito de eu não consigo conversar com o desenvolvedor. Então é uma ótima dica. Eu sempre fui louca pra entrar nesse grupo do Telegram, porque as pessoas compartilhavam muito conhecimento lá.

E o Telegram nunca foi acessível. A gente não conseguia nem passar da tela de login. Aí a gente reclamou. A gente tentou fazer um abaixo assinado, a gente falava no Twitter, várias pessoas… Ele não era acessível a leitores de tela, tá. Eu não sei como que ele era visualmente, depois a Iana de repente pode até falar um pouco sobre isso. E de repente, eu acho que de a gente tanto reclamar, “a gente está aqui, a gente existe, gente que quer usar”, eles começaram a implementar acessibilidade e está a todo vapor. O Telegram está cada vez melhor com relação acessibilidade.

Erica Castro: É melhor do que o WhatsApp?

Camila Marinho Garcia: Não, não. Ainda não chega nesse ponto. O WhatsApp ainda é melhor, infelizmente. Porque o WhatsApp tem muito menos funcionalidades e inutilidades do que tá o Telegram. Mas o WhatsApp ainda está na frente. No Brasil muito mais pessoas utilizam WhatsApp. Não sei se no mundo, mas no Brasil eu sei que as pessoas utilizam muito o WhatsApp, né? E acredito que em outros países também. Eu sei que nos Estados Unidos eles não são muito adeptos de WhatsApp, mas acredito que em vários locais do mundo as pessoas utilizam bastante.

Ele é uma ferramenta bem acessível. Não tem nada no WhatsApp que posso falar que é inacessível e o Telegram está caminhando para chegar lá também. Facebook que eles têm cuidado com acessibilidade também. Linkedin começou a olhar pra isso algum tempo atrás. Então sim dá pra gente usar praticamente tudo.

Erica Castro: Que bom! Legal! Até queria voltar um pouquinho em um tema que Ana Carla mandou no nosso Instagram,perguntando: “existe algum investimento em Libras para surdos nas aplicações digitais?”.

Iana Alves: Eu acho que é uma empresa que está fazendo isso de uma forma bem legal e MaxMilhas, elea estçao querendo, acho que já implementaram, né Camila, o HandsTalk, que é uma ferramenta que faz a interpretação em Libras do texto que está na página. Quando você começa a navegar, tem um novo modal e o botãozinho lá que você tinha ele começa a fazer interpretação em Libras para você. Isso serve muito pra pessoas surdas que não são oralizadas e elas não sabem falar português também. Então elas só se comunicam através de libras.

Camila Marinho Garcia: A gente tem uma outra ferramenta também, eu acho que é CallAction o nome, você lembra Iana? A gente já falou disso há um tempo atrás. Que é uma ferramenta que você vai falando e ela também vai traduzindo. Não sei se ela mais precisa porque parece que tem um trabalho humano não é só uma inteligência artificial. Porque o HandsTalk, infelizmente ele ainda é muito confuso com algumas coisas. Acho que foi a Iana que citou “manga” e ele não sabe definir se é a manga fruta ou a manga da camiseta. Algumas pessoas reclamam bastante. Mas MaxMilhas está olhando bastante para essa questão de libras.

Iana Alves: Eu li um artigo ontem, inclusive, de uma pessoa chamada Robson Mafra, no Medium, que ele fez um compilado de aplicativos e tecnologias com realidade aumentada que estão tentando ajudar a vida da pessoa surda a se comunicar e melhorar a comunicação. Então ele trouxe umas coisas bem legais nesse artigo. Por exemplo, que eu não conhecia, que é o StorySign. O StorySign que é da Hawaii, não sei falar esse nome, mas acho que é assim. Que é basicamente um aplicativo que ajuda crianças não oralizadas e crianças que não sabem ler, aqui no caso em inglês, não é o libras. Mas ela faz a interpretação. Você coloca o celular, tira uma foto do livro e aparece um bonequinho na frente livro para você, fazendo os sinais em Libras.

Erica Castro: Gente, que amor isso!

Iana Alves: Tem um outro também, que chama Signlly, que é um aplicativo novo. Pelo que entendi, eles estão usando em alguns ambientes como museus, estabelecimentos comerciais, que você tenha um QR code na parede, com o símbolo do Signlly, e a pessoa vai lá, liga câmera e aparece um vídeo com uma pessoa interpretando qualquer texto que tiver escrito ali naquele lugar, em libras.

Camila Marinho Garcia: Tem uma coisa muito legal sobre isso. Tenho um livro muito interessante sobre, para quem se interessa muito por assuntos sobre surdos, que eu sempre indico, que é o Longe da Árvore, do Andrew Salomon. E é um livro que vale a pena ser lido por inteiro, mas ele tem um capítulo só pra surdos, que ele explica sobre cultura surda, sobre porque existem surdos oralizados e surdos que não são oralizados. Porque alguns surdos sabem português ou inglês e outros não. E ele explica que a Libras ou então a LSA que é a comunicação para surdos americanos, é a primeira língua do Surdo.(voz ao fundo do leitor de telas em ação!) [00:13:29] Muitas vezes a gente comete o erro de achar que o português também é a primeira língua do surdo, que libras é uma forma de se adaptar. Mas não! Libras é a primeira língua do surdo. Então [00:13:42] para quem quiser ler fica a dica de Longe da Árvore de Andrew Salomon.

Iana Alves: E até fora de libras, mas para pessoas que estão oralizadas, eu vi que tem dois novos aplicativos. Um que chama AVA. Ele também é americano. Consegue fazer a transcrição do que as pessoas estão conversando numa sala diretamente para o celular da pessoa surda. Então cada pessoa tem o seu celular com um aplicativo instalado. Ele vai entender a minha voz e vai passar o que eu estou falando para pessoas surda na tela do celular dela com o meu nominho. Isso é ótimo porque, no caso de uma reunião de família, uma reunião de trabalho, que tem muita gente falando, para pessoa tudo não se perder ou não ficar confusa, ali no contexto da conversa, ele diz que está falando e o que. Eu achei maravilhoso.

Erica Castro: Sensacional! Depois vamos incluir todos os links nas notas do episódio. Muito legal estes cases. Iana, você tinha comentado, acho que foi um vídeo que você compartilhou na hora que a gente estava preparando a pauta… Não sei se foi da Juliana Salgado (iFood) ou se foi do MaxMilhas. Elas comentaram sobre o ase do iFood. Que o iFood recebeu o feedback de uma usuária.

Camila Marinho Garcia: Sim! Foi a Juliana Salgado.

E eu achei tão incrível, A usuária disse que o iFood, só por ele existir, ele já estava tornando a vida dela acessível.

Camila Marinho Garcia: Eu sempre falo disso, sabe. É uma coisa que eu sempre tento refletir muito sobre isso. Se vocês tiverem noção do quanto a tecnologia nos possibilita, nos habilita a fazer tantas coisas sabe. Depois que a tecnologia ficou em tão alta. Existem muito mais cegos na rua do que antigamente, existem muito mais pessoas com deficiência auditiva, física. Enfim a tecnologia é muito libertadora. Por isso que eu estou nessa área hoje. Eu amo tecnologia, principalmente pelo que ela me proporciona.

Incrível. Isso me lembra muito o artigo que a Iana fez para o Medium: O design como uma ferramenta de inclusão. Como começar a falar de acessibilidade na sua empresa. E a Iana traz uma fala de uma… esqueci o nome.

Camila Marinho Garcia: É de uma diretora da IBM, né?.

Iana Alves: Mary Patts

Camila Marinho Garcia: A frase dela é rica.

Erica Castro: Muito! “Para as pessoas sem deficiência a tecnologia torna as coisas mais fáceis, para as pessoas com deficiência a tecnologia torna as coisas possíveis.” É o que o Brasil estava comentando, né. Dá um exemplo de algo que a tecnologia tornou mais acessível (pra você). Que você não fazia e você passou a fazer porque a tecnologia te permitiu.

Camila Marinho Garcia: Gente, eu vou dar um exemplo. É muito emocionante, tá? Eu me emociono quando falo disso. Eu tenho um filho de três anos. Quando ele nasceu, eu queria muito deixar ele com as roupinhas combinando, neném lindinho. E eu precisava ver a cor das roupas dele. E de repente surgiu um aplicativo da Microsoft chamado SignEye, que me possibilitou ver a cor das roupas. Eu apontava a câmera e ele me dizia cor das roupas que eu estava ali pegando na minha mão. Então para mim isso foi libertador. Parece bobo. Parece fútil, mas o você que é mãe saber a cor da roupa do seu filho,o que você está colocando nele, é muito gratificante.

E tem uma outra coisa também relacionada a isso, que é o BeMyEyes. É um aplicativo onde voluntários se cadastram e a pessoa com deficiência liga para pedir ajuda, pra ver sobre a validade de produto, entre uma lata de milho ou uma lata de ervilha, qual que é qual. Exemplos bobos, como a cor de alguma coisa. Esse tempo atrás eu utilizei BeMyEyes porque eu queria botar roupa para bater na máquina e eu queria separar as claras das escuras. Então o voluntário se cadastra e a pessoa com deficiência visual liga para saber sobre coisas que ela realmente não consegue ver e que inteligências artificiais ainda não conseguem ler. Como é o exemplo da SignEye que é a inteligência artificial. Agora o BeMyEyes é voluntário e a pessoa com deficiência solicitando a ajuda desse voluntário.

Erica Castro: Nossa, que incrível, gente. O mundo se abriu agora mim. E até aproveitando esse tópico, o que você acha que uma startup focada em resolver problemas de acessibilidade, onde ela poderia investir?

Camila Marinho Garcia: Eu, muito pessoalmente? Conta-gotas (para medicamentos). Não existe em conta gotas acessível. Isso é muito ruim. Porque tem remédios que não dá. A gente geralmente ou utiliza seringa marcada, quando o remédio em ml, só que tem umas gotas que a gota é muito oleosa. E aí quando a gota é líquida dá para você colocar um copinho fininho escutar as gotas caindo, no caso da pessoa com deficiência visual. Agora quando a gota é oleosa, não dá pra você escutar e não dá para você administrar essa medicação. Então, um conta-gotas que fosse acessível seria muito interessante.

Erica Castro: Que máximo. Fica a dica para quem estiver ouvindo a gente (e quiser empreender). E pra finalizar, a pauta principal,queria saber: E o podcast Mulheres de Produto. Como que a gente pode ser mais acessível?

Camila Marinho Garcia: Podcast, via de regra, é uma uma mídia acessível. Eu amo podcast, eu sou a louca da podosfera. Esse é o primeiro podcast que estou gravando, gente! Eu acho que acessibilidade seria, no caso para pessoas surdas poderem também ter acesso a isso de alguma forma, não não seria ouvindo, então a transcrição do áudio seria muito importante.

Iana Alves: Eu acho que uma coisa que talvez tenha até falhado aqui nesse episódio mas é diminuir um pouco os termos em inglês. Na questão do produto é muito comum a gente falar feature, update, releaser, enfim. Não necessariamente as pessoas que estão ouvindo, elas têm uma vivência nessa de produto para entender o que a gente está falando, ou ela simplesmente não sabe inglês. Então diminuir os termos em inglês seria essencial, eu acho, para torná-la mais acessível.

Camila Marinho Garcia: Eu sou uma pessoa muito preocupada com isso. Porque agora é um depoimento muito pessoal mesmo. Eu consegui aprender inglês depois dos 26 anos, eu ainda estou aprendendo. Eu ainda tenho muito a aprender. Eu sou uma pessoa de origem bem pobre. Então tive acesso a muita coisa depois que comecei a trabalhar. E eu trabalhei numa multinacional e eu ficava extremamente perdida e eu senti na pele o que era ser excluída por conta do inglês. Então assim eu tento ao máximo não fazer isso. Existe uma linha muito complicada na área está TI. A gente não consegue mesmo algumas coisas, feature parece que já virou uma coisa do dia a dia da gente.

Mas eu tento ao máximo tomar cuidado para não falar algumas coisas em inglês porque eu admito que até hoje algumas coisas ainda me deixam perdidas. Então você imagina uma pessoa de classe muito baixa que nunca teve acesso ao inglês mas é um profissional de um potencial que está dentro de uma empresa, só que sem acesso ao inglês por conta de toda essa questão anterior, de vida. Então eu sempre toco muito nesse ponto. Tomar cuidado com o inglês em excesso. Até porque também o nosso idioma é muito rico. Eu vejo gente que substitui palavras aqui que daria perfeitamente para a gente utilizar inglês (português). Eu vejo gente no dia a dia utilizando palavras na área de TI que é perfeitamente colocado em português.

Iana Alves: O próprio budge é uma palavra que não tem necessidade alguma. E a gente fala o tempo todo.

(risos)

Erica Castro: Se fosse elencar, teria um bingo da gente! A gente já deveria ter zerado o bingo! (rindo)

Camila Marinho Garcia: Eu vou confessar uma coisa aqui. No MDP Day, eu fiz um arquivinho contando quantas palavras em inglês eram faladas numa única palestra, porque aquilo me incomoda. (rindo).

Erica Castro: É um bom ponto para a gente ficar com o radar ligado.

Eu já deixo aqui o convite para se alguém da comunidade tiver interesses em ajudar a gente com a transcrição ou indicar para a gente algum há algum software ou aplicativo que possa fazer a transcrição automática. Queremos muito deixar o podcast mais acessível. Deixo aqui o convite!

Erica Castro: Eu acho que a gente podia estar falando sobre muito mais coisas. No final, sempre fico com a sensação de que eu gostaria de aprofundar em algumas questões. Porque o um assunto é bem ampl, é muito rico e muito interessante. Mas eu queria deixar a palavra como vocês, para vocês fecharem.

Eu queria pedir pra vocês encarecidamente, que vocês comecem a descrever as fotos de vocês pelo Instagram, para que eu Camila e outras pessoas com deficiência visual possamos usar o Instagram que essa rede tão rica em informação. Precisando de ajuda para como áudio descrever alguma coisa, só me chamar no LinkedIn: Camila M Garcia ou então vocês podem me chamar no Twitter (@05o50). Estou super disponível para ensinar como descrever uma boa foto, porque eu adoro uma descrição e eu até me emociono com descrição. (rindo)

Erica Castro: Maravilha. É na linha da ação do #pracegover?

Camila Marinho Garcia: Nessa linha!

Erica Castro: Inclusive vou pedir sua ajuda para fazer a descrição da capa deste episódio.

Camila Marinho Garcia: Legal, legal!

Iana Alves: Eu acho que é um assunto muito legal. Queria agradecer por você tá divulgando esse tópico, que é tão importante. Queria falar também se tiver alguém que tenha vontade de começar a implementar acessiblidade de alguma forma da empresa, não só no produto, mas na empresa também. Porque é algo que é importante, eu estou disponível pelo LinkedIn também, para dar um pouco do meu depoimento como foi no Quinto Andar. Foi super orgânico e como qualquer pessoa pode começar a fazer isso dentro da sua empresa, dentro no seu produto também. Porque eu acho que compartilhando mais informação a gente só tem a ganhar, né. Então estou sempre disponível pra falar sobre, conversar, discutir e tirar dúvidas. Podem contar comigo neste assunto.

Camila Marinho Garcia: Super topo testar projetos open source, acessibilidade e projetos open source. Eu sou a louca do open source. Tem um projeto open source e quer testar acessibilidade? Chama Camila! Estou super disponível.

Iana Alves: E acho que um ponto que a gente não falou mas a super importante é contratem pessoas com deficiência ou empresa.

(sobe o som)

Camila Marinho Garcia: Contratem! O ganho é incontável, gente. É experiência… Então, contratem pessoas com deficiência!

(Vinheta de encerramento. Final do Episódio)

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