Podcast Mdp: Planejamento Financeiro

Cecília é planejadora financeira, está há 20 anos na área de finanças e desde 2010 trabalha com finanças pessoais. Ana e Victória são fundadoras do projeto Invista como uma Garota.

Luana K. Perin
Mulheres de Produto
36 min readNov 6, 2019

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Episódio do podcast na plataforma Anchor.fm

Você já sabe que precisa economizar para alcançar seus sonhos.

Para muita gente, as promessas de ano-novo envolvem organizar as finanças pessoais e começar algum tipo de controle financeiro.

No entanto, se controlar os gastos, economizar dinheiro e começar a investir fossem tarefas muito fáceis, ninguém estaria buscando por aí formas de melhorar o planejamento financeiro…

A verdade é que menos da metade dos brasileiros que estabelecem uma meta ligada a finanças pessoais conseguem seguir à risca o seu plano, segundo dados do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito).

Por isso, nesse episódio nós trazemos a Cecília, a Vic e a Ana e conversamos desde o que é o tal do planejamento financeiro até como introduzir esses ensinamentos as crianças.

Imagem da Cecília

“Tudo o que é urgente hoje um dia foi importante, mas você não deu a verdadeira prioridade. Então no momento ele acaba virando uma urgência, né.”

Imagem da Victória e da Ana

“Quando a gente começa a fazer um planejamento financeiro é quase como uma sessão de terapia pessoal, autocuidado, autoconhecimento por que se você não sabe o que é importante para você, o que você quer conquistar o que é prioridade não importa o planejamento que você vai fazer, a planilha que você vai fazer.”

Com essas falas já dá pra imaginar o que vem por aí.. Vamos conferir com a gente? :)

Você pode conferir o áudio ou ler a entrevista abaixo. Ao final, como sempre, temos as notas e referências do episódio. ❤

Transcrição do Podcast

Música de Abertura

Daniela: Olá eu sou Daniela e hoje a gente vai falar um pouquinho de planejamento financeiro. Esse é um tema que eu acredito que deve ser falado em escolas, discutido com as crianças. Hoje para conversar sobre esse tema com a gente a gente vai falar com a Cecília Pereira que é planejadora financeira, porém começou a carreira na área de TI e o trabalho dela não é só organizar suas finanças, mas te ajudar a realizar sonhos. Bem vinda, Cecília!

Cecília: Obrigada, Daniela! Sou Cecília Pereira, sou planejadora financeira. Eu já atuo na área de finanças há vinte anos, porém em finanças pessoais desde 2010. Minha graduação foi em Ciência da computação. Minha paixão sempre foram os números né, mas desde minha formação eu já tinha buscando algo que eu pudesse conciliar a computação e a gestão para ajudar pessoas e quando eu vi sobre a carreira do planejador financeiro fui conhecer e desde então não me vejo fazendo outra coisa.

Daniela: Muito obrigada! e essa conversa para mim falar com a Ana Baraldi e com Vitória Girotto Ambas são criadoras do projeto Invista Como Uma Garota e é uma roda de conversa sem tabu, sem julgamentos, só entre mulheres sobre dinheiro, consumo, investimentos, mas também pessoal e de todos os nossos hábitos relacionados aí. O projeto começou em Julho de 2018. Bem vindas, meninas!

Ana: Eu sou a Aninha, eu e a Vic começamos o Invista como uma Garota faz um pouco mais de um ano e a ideia principal é que a gente sabe que o conhecimento técnico tem muita gente falando na internet, mas as vezes falta o olho no olho, o pega na mão e é isso que a gente faz, a gente faz as rodas e deixa a conversa fluir para que as meninas ponham as dúvidas e as inseguranças e a gente vai conversando com elas sobre grana.

Vic: É, acho que a coisa mais, que tem mais a cara do Invista é justamente essa identificação que a gente sabe que não é não é comum ver pessoas, mulheres novas da nossa faixa etária falando sobre finanças de uma forma descomplicada, a gente vê super como um diferencial e a gente acredita demais no poder disso, a cada roda a gente acredita mais. A gente tem histórias muito diferentes com dinheiro então falando de mim, no meu caso eu sou exatamente isso que você falou, Dani, de a gente aprender na marra do pior jeito, então a gente é muito apaixonada por esse assunto por saber que cuidar do nosso dinheiro mudou muito a nossa vida, cada uma de um jeito, mas a gente acredita demais que a gente só pode, é aquele hashtag Eu faço o que eu quero, na hora que eu quero, eu vou para onde eu quiser e isso depende de dinheiro. então é nossa forma de contribuir um pouco com o feminismo.

Dani: então vamos entrar na pauta principal? O queria começar com a frase matadora, o que é planejamento financeiro para vocês?

Cecília: O planejamento financeiro consiste em basicamente no processo de organização das finanças. então é, como vocês colocaram, nessa questão do tabu de falar sobre grana, mas eu tento colocar o planejamento financeiro como um estilo de vida, e não uma obrigação.

Ana: Mas a gente diz muito que nunca o dinheiro só pelo dinheiro. Quando a gente tá usando o dinheiro para comparar alguma coisa, para fazer alguma coisa, a gente tá falando das nossas prioridades, do que é importante para gente. Quando a gente começa a fazer um planejamento financeiro é quase como uma sessão de terapia pessoal, autocuidado, autoconhecimento por que se você não sabe o que é importante para você, o que você quer conquistar o que é prioridade não importa o planejamento que você vai fazer, a planilha que você vai fazer. Você tem que estar disposta a mudar os hábitos e, enfim, fazer isso na sua vida e não só “ah, vou usar aquele aplicativo”, “vou deixar de fazer tal coisa”, é quase aquelas dietas loucas do tipo vou parar de comer tudo de uma vez. Vai durar para sempre? não. Para mim é muito nessa linha do que eu considero o que é planejamento financeiro.

Vic: Ah, a gente é super alinhada, quase que eu não vou dizer que você tá errada, vou complementar com o que eu penso. A gente fala muito nisso, é muito de pensar nas suas rotinas. porque não tem relação a dinheiro, mas em relação a mil e outras coisas a gente é um conjunto do que a gente faz repetidamente, todos os dias. então, planejamento financeiro é um exercício de autoconhecimento, de quanto você pode gastar, quanto que você definiu né que faz sentido para você gastar, porque a outra parte idealmente você definiu que queria investir aí é entender que rotina cabem nessa quantia que você definiu como seu padrão de vida. Essa é a questão de escolhas, que escolhas a gente pode fazer no dia a dia para o nosso padrão de vida caiba dentro de uma quantia saudável que permita que a gente invista todos os meses.

Cecília: Pegando o gancho da Aninha sobre prioridades eu costumo dizer que tudo o que é urgente, tudo o que é urgente hoje um dia foi importante, mas você não deu a verdadeira prioridade. Então no momento ele acaba virando uma urgência, né. O não cuidado do dinheiro que você ganha é exatamente isso. E por onde começamos arrumar a nossa vida financeira? Por onde começamos arrumar nossa casa? O principal é você se conhecer, né, reconhecer sua condição atual. Entender aonde você tá e aonde você quer chegar, então onde eu estou, onde eu quero chegar? Deixar isso claro, quanto você ganha decifra para onde vai o seu dinheiro, preferencialmente dividir os seus gastos em categorias para que você possa determinar metas para essas categorias.

Ana: Acho que é muito disso que a Cecília falou quase uma foto da situação hoje, as pessoas paralisam nesse momento por que não querem enfrentar a realidade, mas é pegar onde estão todas as minhas contas? quais são as dívidas que eu tenho? quanto que eu to pagando por isso? Ver o raio x mesmo “tá eu tô aqui, essa situação eu tô confortável ou não tô?” Aí a gente vai para um próximo passo de desenhar um plano para chegar lá. E acho que uma coisa que é muito legal de trazer e que as vezes as pessoas nunca pararam para pensar é que nem sempre a gente sabe quanto a gente ganha e quanto a gente gasta. Começar pelo básico: quanto que eu ganho? E vê lá como tá imposto, por que as vezes tem “Ah, tô pagando a contadora da minha PJ, tipo não considero isso como um gasto”, mas entra menos dinheiro para você por conta disso. É pensar realmente o quanto entra, o quanto sai, onde você tá e pensar nos próximos passos para ir onde você quer chegar.

Vic: Concordo totalmente com vocês, eu só adicionaria que entender depois desse momento de identificar como você tá quanto você ganha e tá gastando e tal, isso é essencial, por que se você não sabe o quanto você tá gastando hoje vai ser muito difícil conseguir definir que hábitos você terá que mudar e quão distante você tá ou não desse padrão de vida que você definiu. É bem parecido com dieta, se você falar “eu vou comer fora só 3 vezes por mês e vou gastar, sei lá, 50 reais cada vez que for sair”. Se você não tem noção de que você está saindo 15 vezes por mês e gastando 80 reais cada vez que você sai, você não tem noção dessa diferença, do quanto você vai ter que mudar a sua rotina para realmente conseguir ficar nesse valor que você definiu. É mais fácil você ter metas realistas quando você sabe o quanto você tá gastando hoje, por que é um esforço grande sair do que você tá hoje para o que você definiu.

Cecília: A questão do planejamento é justamente conseguir alinhar a sua expectativa com a sua realidade. Eu não gosto de partir do ponto de cortar gastos, a não ser que você esteja num momento extremo, mas eu prefiro sempre partir das trocas, eliminar os desperdícios. Como a Vic acabou de explicar sobre as saídas e etc, para você olhar pros seus hábitos e de repente reduzir alguma coisa, não deixar de fazer, mas reduzir até por que o nosso cérebro é programado para nos livrar da dor e nos aproximar do prazer e isso tem que ter um pouco de cuidado quando se fala em cortes.

Dani: quando eu sentei para fazer junto com a Cecília minha primeira foto de como tava as minhas finanças eu saí chorando! Mas não é aquele momento que vai fazer eu desistir, por que é que nem você ir para academia, você tem que criar o hábito. Dói na primeira vez? Dói, você não quero mais olhar, mas se você não olhar nada vai mudar, então é um esforço que você precisa. Por exemplo, eu sou viciada em livro; eu achava que eu tinha que parar de comparar livro, eu tava gastando muito comparando livro. O que a Cecília me sugeriu? “não, vamos colocar uma meta. Você vai ter esse dinheiro para comprar livro todo mês se você quiser, mas dentro da sua meta. Daí eu falei “Ah, peraí, eu não preciso parar de comparar livro!” porque eu tava tão desesperada que eu achei que eu tinha que cortar tudo na minha vida para poder chegar na solução de resolver os meus problemas e no final eu tive o prazer de saber “não, eu posso ir aos poucos e resolvendo”.

Ana: Acho que é por isso que elas frisaram bastante no começo que a gente a gente tem que entender o que é prioridade para gente né. Por que se eu tô gastando muito com uma coisa que não é prioridade, isso pode ser um problema. Agora se é uma coisa que é prioridade, talvez não seja um problema. Obviamente tem que estar dentro do que eu posso gastar, não é por que é prioridade que eu vou gastar todo meu dinheiro com uma coisa que só por que eu gosto e é prioridade. É muito por isso que sempre a gente (eu e a Vic) costumamos falar nas rodas. para ela uma coisa é prioridade, para mim não é, não tem certo e errado. Cada um tem as suas.

Dani: A gente já entrou um pouco nessa história dos pequenos agrados, pequenos gastos, eu lembro uma brincadeira do café. Você tá indo todo dia tomar café na cafeteria e o café sai por 10 reais. Todo dia, 10 reais todo dia. são pequenos gastos que você nem percebe, e aí quando você põe na planilha e faz esse raio x você toma um susto, né? É a mesma coisa com os pequenos agrados, por exemplo eu tô viciada em chocolate, e eu tô precisando comer chocolate! Eu vou lá e compro um chocolatinho, é r$ 1 por dia. É 1 real por dia, mas você levanta no montante eu tô gastando uma grana com chocolate. Como é que você faz para mudar esses hábitos dos pequenos agrados e pequenos gastos?

Cecília: É muito mais emocional do que racional. A gente acaba caindo na compensação, o tal do “eu mereço”. então eu fico “Ah, mas eu trabalho muito, estou em muitos projetos, eu mereço um agradinho, uma coisinha.” Só que o que a gente tem que entender é que no geral os pequenos gastos compõem 70% do seu orçamento. então quando você coloca num gráfico de 100%, 60% se torna bastante significativo. então a gente acaba tendo que tomar um certo cuidado, se conhecer é muito importante e tentar conciliar necessidade com possibilidade. então eu preciso muito, é uma uma necessidade isso? ou é um desejo? Conseguir controlar um pouco seus desejos para que o que é importante para você caiba no seu orçamento. Dá para colocar tudo, mas você precisa ver o que é mais importante.

Ana: É isso mesmo que a Cecília comentou, a gente volta sempre para parte emocional, entender porque que você tá tomando tal atitude, e tomando tal decisão. O do “eu mereço” é muito levar pro lado quando tá tudo bem eu mereço uma coisa boa e quando tá tudo ruim eu também mereço por que minha vida tá ruim. A gente vai compensando de diversas formas. De novo, não é pelo dinheiro, não é pelo gasto, a gente tá precisando de alguma outra coisa na parte emocional. Eu vou falar na minha questão pessoal: eu reservo uma parte da minha grana onde o nome da meta chama “Eu”. E todo mês é um dinheiro para eu gastar comigo, da forma que eu quiser. então, tem mês que eu vou fazer a unha, eu faço a unha em casa, mas esse mês eu vou me dar uma unha. Tem mês que eu compro alguma coisa, e tem mês que eu compro um curso. Então não fica uma coisa muito tão rígido de, tipo, “esses são os 15 reais do cafezinho que eu posso ir uma vez por semana durante o mês” — para mim funciona muito bem.

Vic: quando eu falo “eu quero, eu preciso” quando eu tô bem emocionalmente, funciona. Mas quando eu não tô bem eu falo “não preciso, mas eu quero mesmo assim!”. Para eu me proteger de mim mesma eu acho que é muito autoconhecimento. Eu também deixo um valor separado que eu posso gastar com qualquer coisa então se eu quiser ir num restaurante, se eu quiser comparar alguma coisa para mim, é um valor que é aquela “jacada”, com um dinheiro que não atrapalha meu orçamento. Eu separo esse colchãozinho de segurança todo mês, eu já sei que se acontecer qualquer coisa que me faça sair do orçamento até isso está de certa forma no orçamento.

Dani: Eu queria entrar num assunto que ninguém entende, ninguém fala, ninguém, conversa, a gente só vai descobrir quando a gente começa a trabalhar e a gente fala assim, “mas o que é essa taxa que estão me cobrando? O que são esses impostos?”. Como é que a gente faz para tentar reduzir, para tentar alinhar ou entender? por exemplo, o imposto de renda eu dei graças a eus quando eu entrei na empresa e a dona fez uma reunião com a gente explicando o que era imposto de renda e como mandava ele pro governo. Meu pai também, sentou comigo para me ensinar, só que enquanto eu era adolescente eu não tinha ideia do que era isso, então assim, como entrar nesse assunto, como falar desses juros de banco, impostos, como lidar com essa parte?

Cecília: O primeiro ponto é entender o conceito de cada um. Juros e impostos, um é eletivo, o outro é efetivo, ou seja, um eu escolho, nos caso dos juros; o outro eu não tenho escolha, imposto é uma obrigação. No Brasil, infelizmente, temos os juros mais altos no mundo em questão de cartão de crédito, cheque especial.

E essa taxa de juros, então se a gente traduzir das outras línguas para o português ela deveria se chamar “taxa de interesse” que é exatamente o papel que ela faz, então é a compensação. Sabe quando a gente chama alguém de interesseiro? É aquela pessoa que faz algo querendo alguma coisa em troca. então os juros são exatamente isso. Ao mesmo tempo que o Brasil é um país que tem a maior cobrança de juros de carga tributária de impostos, ele também é o melhor país do mundo para se ganhar dinheiro investindo em baixo risco. Ele é o primeiro no ranking mundial de retorno de investimento. Então se as pessoas conseguirem entender esse conceito de juros e dos impostos é melhor usar isso ao seu favor do que contra. A Dani colocou essa questão do imposto de renda quando chega lá para março e abril as pessoas estão preocupadas com essa questão do imposto de renda e fica essa coisa de vou pagar, vou receber. então sempre falo “se você está pagando, você está ganhando bem!” O imposto não é muito bem empregado, mas o Brasil ainda tá lá em vigésimo segundo lugar em questão de cobrança do imposto, então ele não é o mais alto do mundo, mas o conceito principal é você entender que os juros você escolhe, então você tem opção. quando você tá adquirindo, por exemplo, um financiamento, adquirindo um crédito, você pode comparar entre bancos diferentes, entre instituições diferentes qual tem a menor taxa. E é a mesma coisa quando você vai fazer um investimento. então você também consegue escolher o que vai te dar um retorno melhor é o que pode te dar um retorno melhor.

Ana: O que a Cecília falou tá ótimo, perfeito. Só queria fazer o comentário de uma frase que a gente já ouviu algumas vezes, na questão dos juros “quando você entende, você recebe e quando você não entende, você paga”. A gente quer estar do lado de quem recebe! É entender e começar a criar um conhecimento do que que é alto e do que que é baixo. quando a gente fala de pagar, então eu tô pegando um crédito, cheque especial ou rotativo do cartão chega a 300%, 400%. quando eu viro para outra moeda para fazer investimento, hoje a nossa taxa de juros está em 5,5% ao ano. Da mesma forma que alguém fala assim “eu tenho um investimento que vai pagar 300% ao ano” é uma coisa estranha que minha taxa, sem risco, tá me pagando 5,5% e da mesma forma se alguém te oferecer empréstimo super barato, se a taxa é 300% ao ano e te oferecem 15% você olha e fala “essa é uma taxa boa”. É começar a criar esses conhecimentos para falar se é alto ou baixo. Isso é o mais importante quando penso em juros.

Vic: Só complementando falando do lado de quem paga, do lado de empréstimo a gente sempre usava a analogia de dois carros. Então, por exemplo, quando as pessoas falam “Ah, mas por onde eu começo se eu já tô com uma dívida cara? Ou se eu já tô com uma dívida e não sei se isso é caro ou barato”. E o que que significa isso que as pessoas falam de trocar uma dívida cara por uma barata, como assim vou pagar uma dívida para arrumar outra dívida. A analogia dos carros funciona assim: se você tá pagando uma dívida que, por exemplo, você entrou no cheque especial ou você tá no cartão de crédito no carro e você tá pagando 15% ao mês é como se você estivesse andando com o carro há 100Km por hora e essa dívida tá crescendo nessa velocidade. então quando você troca uma dívida cara por uma barata, ou seja, você pode trocar uma dívida dessa de quase 15% ao mês por uma de 4% ao mês isso já é bom por si só porque você começa a entender o quanto você tá pagando, o que que é muito e o que é pouco. Você acabou de falar que um investimento sem risco no Brasil hoje rende 5,5% ao mês olha isso, uma dívida barata ela custa 5,5% no mês. Já começar a ter essa noção é importante, mas aí quando você troca por uma dívida barata você tá tirando uma dívida de um carro que tá descontrolado e tá pondo num carro que ainda tá acelerado, mas tá a 30km por hora. então você consegue muito mais fôlego para conseguir pagar e não deixar essa dívida crescer de uma forma tão absurda como ela tava crescendo antes. Uma dívida barata não é que ela não vai crescer e não tem juros. Esse carro ainda tá andando, mas numa velocidade muito mais baixa, ou seja, para ela virar uma bola de neve ela demora mais. você consegue esse fôlego para ir pagando mais rápido do que uma dívida que tá virando uma bola de neve e você não tá conseguindo nem pagar as parcelas dela.

Dani: E os maiores problemas que as pessoas enfrentam quando começam a planejar? A Cecília já viu o tanto que eu chorei nas reuniões com ela.

Cecília: Acho que a maior dificuldade é a disciplina. porque é dolorido você mudar de hábito, você encarar, você olhar pro seu orçamento e dar continuidade no processo. Então tem muitas pessoas que começam, super empolgadas, e acabam desistindo no caminho, mas por que? Muito disso tá relacionado ao imediatismo, então eu quero para ontem. E nem sempre o melhor caminho é o mais curto. Os atalhos que você geralmente pega, usar o cheque especial, ou pagar só o mínimo do cartão de crédito, esses atalhos acabam custando muito caro. Acho que o maior problema para você conseguir se manter no planejado é justamente o autoconhecimento. Você conseguir ter a disciplina de entender aonde você tá, “aonde eu quero chegar?”. Tem muitas ferramentas, muitos meios de se saber onde investir, como investir, mas acho que o principal é você saber porque você tá fazendo isso? O quanto isso é importante para você? Qual a prioridade disso na sua vida?

Ana: Eu acho que tem um ponto também de quando a gente faz um planejamento pela primeira vez, ou algumas vez, às vezes a gente comete o erro de querer mudar tudo ao mesmo tempo. Então eu vou diminuir minhas saídas, não vou mais usar ubers, tipo, todas as coisas que eu faço na vida eu vou mudar. A gente é humano, a gente é mais emocional do que racional a maior parte do tempo, a maior parte das nossas decisões a gente faz sem pensar, sem racionalizar. então se eu quero mudar todos os hábitos ao mesmo tempo, na prática eu não vou mudar nenhum. Entender onde cada uma (dívida) tá e escolher um hábito de cada vez. “Essa semana eu vou tentar mudar esse”, na próxima, virou rotina, virou padrão? Aí vamos pro próximo. É uma melhora contínua. Eu estudo economia comportamental e tem uma questão da economia comportamental que quando a gente olha para nossa cultura a gente acha que essa pessoa sempre foi perfeita. Ela vai sempre conseguir. Tipo “na segunda feira, eu vou acordar cedo, vou comer direito, vou correr…”, mas em todas as outras segundas feira eu não fui essa pessoa, então porque nessa eu vou ser? Conseguir entender que nós vamos ser falhos no futuro e indo aos poucos.

Vic: É o “Eu ideal”, né? Eu no futuro sempre serei melhor do que eu no presente. quando a gente percebe que sempre vai viver no presente não existe isso de planejar no futuro. a gente sempre vai fazer escolhas no presente, só existe autocontrole no presente. Complementando vocês outra que eu não sei se é a maior dificuldade, mas com certeza é uma das maiores na hora de se organizar, é lidar com a expectativa das pessoas com quem a gente convive. Seu defini, se eu percebi que para mim não é prioridade, vou dar um exemplo aleatório, que é comer fora e eu namoro uma pessoa que adora comer fora. Ponho na minha planilha “ai só vou gastar um pouquinho por mês com isso porque não é prioridade para mim” e eu não consigo falar sobre isso no meu relacionamento, com o meu namorado ou com a minha namorada, eu não consigo falar não, eu não consigo falar “putz, vamos comer em casa, ou vamos cozinhar”, ou “vamos num restaurante mais barato”. O que é prioridade para você, porque de certa forma a gente consome muito também quando a gente tá em conjunto; ou não sabe definir que para mim não é prioridade ir no barzinho com as amigas. Minhas amigas sim, são prioridade, mas ir no bar talvez não, não é uma coisa que eu curto, não faz sentido para mim e ai não sei falar não para elas, ou não consigo falar com elas sobre isso porque vou me sentir julgada. é muito importante conseguir falar sobre isso e alinhar a expectativa com as pessoas que a gente convive, porque elas também tão envolvidas nas nossas decisões que envolvem dinheiro no dia a dia, então tem que falar sobre isso, porque se não fica mais difícil.

Ana: Eu concordo com a Vic, conversar sobre isso e entender as expectativas do outro com relação a isso é difícil. o duro é quando um quer fazer o planejamento e o outro não quer.

Cecília: Eu acho que principalmente a gente tem que entender essa questão de lidar com a expectativa do outro é bem complicada e de novo entra a questão do emocional, né. Mas o que você tem que ter para você é quando eu digo não para alguma coisa eu gostaria de fazer… na verdade é o contrário, quando eu digo sim para uma coisa que eu não poderia fazer eu estou dizendo não para as coisas que são prioridade para mim. então fala o que às vezes o não é libertador, o difícil é o primeiro é a primeira recusa mas a entender que quando você vai por um caminho para você aceita uma coisa que você gostaria de dizer não, você tá dizendo não para outras coisas que são importantes para você.

Dani: E como é que a gente faz para… a gente já falou sobre dívida, já falou sobre acertar o orçamento, mas e agora vamos falar do lado bom! A gente quer realizar sonhos, planejar sonhos. Como eu faço isso? Tipo, eu tenho infinitos sonhos, para onde eu vou?

Cecília: A gente tem que ter um foco! Pro sonho não basta apenas traçar uma meta, colocar uma meta, é preciso elaborar um plano, né. Um exemplo, para minha meta é em julho de 2021 passar 15 dias na Disney. Isso é um plano, né, uma meta smart que a gente fala que tem tempo, prazo, eu consigo definir valores e não simplesmente dizer “ah, um dia eu quero ir para Disney”. Metas sem planos são apenas desejos. então você tem que definir se isso é um sonho, se você vai continuar desejando ou se vai de fato realizar. até coloco que planos transformam sonhos em realidade. então é colocar no papel mesmo, traçar um passo a passo, como você vai realizar aquele sonho. Acredite, é possível!

Ana: não tenho nada para acrescentar, era exatamente isso que eu tinha na cabeça para falar. Pegar o sonho que tá ali no mundo imaginário e trazer para realidade! Se não a gente nunca vai chegar nele.

Vic: A gente costuma falar que a diferença entre o sonho e a meta é um prazo. então tem gente que costuma falar “um dia eu quero comprar uma casa”, “um dia eu quero viajar”, “um dia eu quero não sei o que”. Tá bom, quando você vai? Daqui há um ano? quanto você tem que juntar por mês, quanto isso custa?, como você vai juntar? É isso, quando você coloca esse senso de, ok, o relógio tic tac, tá passando e eu tenho um prazo, quero fazer isso numa data, faz o negócio ficar mais concreto. Uma coisa que eu costumo falar é que depois que você atinge o primeiro, depois que você vê que é possível, dá uma motivação tão absurda tipo “caraca, eu consigo, eu paguei, eu que fiz!” que depois fica mais fácil, depois você não quer parar mais!

Dani: Futuro! Por que as pessoas pensam que só os sonhos são suficientes, mas elas não pensam que no futuro, por exemplo, a renda vai ser outra, ou eu posso perder meu emprego. A gente tem que pensar também no outro lado, né, não só nas coisas boas que podem acontecer, mas também no que pode acontecer de ruim. E como se preparar para isso, como estar pronto para o que der e vier?

Cecília: Então essa questão de futuro, né… Principalmente as pessoas mais jovens têm dificuldade de pensar no longo prazo. O futuro é fruto daquilo que você tá plantando hoje. A gente falou um pouco no começo sobre a questão dos juros, que lado você quer estar, né, o lado de que você tá pagando ou o lado que você tá ganhando? E aí quando você tem tempo o juros se tornam um grande aliado no seu orçamento. Se eu tenho um projeto para a realizar daqui 30 anos o que eu vou precisar de recurso é menor do que, por exemplo, se eu tiver 10 anos, 5 anos para planejar essa meta, entendeu? então é aquela coisa de matemática dos juros compostos. Você pega 10, 20, 30 anos a gente tá 10 eu to dobrando sempre colocando um pouquinho mais. quando a gente coloca isso em questão dos juros compostos, 10 anos para 30 anos essa conta se torna 100 vezes maior, entendeu, é usar o tempo a seu favor. As pessoas ainda tem um pouco da crença limitante de achar que falar em aposentadoria é fim de carreira, então já acabou, parei, não trabalho mais. Mas eu costumo sempre colocar que a aposentadoria no sentido de não mais depender do dinheiro que vem do trabalho, que é a tal da independência financeira. quanto eu preciso para ter minha independência financeira? É você olhar pro seu padrão hoje, tá bom para você? não, talvez um pouco mais, qual o padrão que eu quero ter? E conseguir desenhar isso, esse padrão e criar um recurso para que você não dependa de uma macroeconomia, do que tá acontecendo no mercado para que aquilo seja o que você precisa para ter uma qualidade de vida. então planejamento pro futuro é pensar que é uma conta que se você não começar a fazer hoje, quando você tiver muito perto ela se torna impagável.

Ana: Eu gosto muito desse lance de chamar de independência financeira a aposentadoria, porque parece que a gente já tá no fim da vida, que não tem o que fazer e é transformar ele num sonho também. Talvez isso ajude as pessoas a conseguir olhar para esse futuro que parece tão distante, tão longe do tipo “quando eu tiver mais velha eu penso nisso”. Esse poder dos juros compostos e principalmente de criar o hábito de desde cedo guardar um pouco da sua grana que essa reserva lá na frente é muito poderoso. Não só o poder dos juros compostos, mas o poder de ter criado isso (essa reserva). você começa ganhando menos, começo de carreira, você guarda um pouquinho desse valor; você aumenta o salário, você mantém o percentual ou aumenta um pouco e vai fazendo isso ao longo da vida toda. É você usar as rotinas e as coisas automáticas da vida a seu favor. Primeiro transformar esse futuro em um sonho também. Dá para ter uma mensagem muito bonita de eu poder tomar as decisões que eu quero. As vezes eu to nesse trabalho hoje porque simplesmente é minha fonte de renda, se eu quiser fazer alguma outra coisa que, se eu fizesse essa escolha mais cedo eu não teria a grana que eu tenho hoje, mas agora eu já posso tomar essa escolha. então é libertador.

Vic: A única coisa que tenho para acrescentar, por que eu concordo totalmente com vocês é que muita gente fala “ah, eu não sei por onde começar, porque não sei como calcular esse valor, não sei quanto tem que ser, então mais para frente organizo isso” aquela coisa de ah, no futuro eu vou ver. O que eu queria deixar é não deixe de começar só porque você não sabe exatamente qual tem que ser o valor, quanto tem que ser o rendimento e quanto calcula. Só começa, com o pouco que você pode agora, uma hora você vai querer sentar e definir esse valor, alguém vai te ajudar ou você vai achar essa informação, não deixe de começar só porque você não tem o número mágico talvez ainda na cabeça

Cecília: Só para dar uma dica disso que a Vic colocou, de como chegar nessa conta e tal. Eu falo que é uma conta de padaria né, que as pessoas costumam brincar, que faz na anotação. então é você pegar quanto você tem hoje, quanto você precisa hoje para viver, qual o seu gasto mensal e multiplicar esse valor por 250. então é 250 vezes o valor que você precisa hoje . De início quando você faz essa conta de antemão você assusta um pouco. É questão de alinhar a expectativa, porque você vai alinhando isso com o tempo que você tem, com a possibilidade que você tem de fazer essa reserva. Fazendo uma conta por alto seria você pegar, se hoje você precisa de 2500 por mês, você vai pegar esse valor, multiplicar por 250, eu teria que ter lá no futuro 500 mil. E as pessoas assustam e falam “poxa, 500 mil, então não, não vou me esforçar, porque eu não vou chegar lá.”. Mas se você começar cedo, com uma quantia em torno de 300 reais por mês, você chega em 500 mil, e aí você vai alinhando essa expectativa. Talvez eu não precise chegar em 500 mil e aí é criar uma renda perpétua, né, é uma renda que você vai tirando dessa reserva só o que rendeu, você não vai mexer nesse patrimônio. então você vai alinhando sua expectativa mais ou menos por esse caminho.

Dani: E por onde começar a investir esse dinheiro?

Cecília: Primeiro você tem que começar o ponto de partida, né, então é determinar um percentual da sua renda. Eu colocaria para quem tá começando a fazer uma reserva, começando a guardar dinheiro, pelo menos 5% do que você recebe; de tudo o que você ganha você tira 5%. O ideal é você reservar em torno de 30%, então tem pessoas que conseguem fazer uma reserva até maior, mas o ideal é em torno de 30% do que você recebe, você reservar pros seus projetos de curto, médio e longo prazo. para quem ta começando, uma reserva menor, criar um projetinho de curto prazo, porque a realização dos projetos vai te motivar a continuar. então não comece, por exemplo, pela sua aposentadoria, mas talvez comece por uma viagem, que você queira fazer com os amigos, ou visitar alguém que mora em outra cidade, e assim então você vai fazer aquela reserva todo mes… o que que acontece, a gente ainda tem o hábito de investir com o que sobra quando sobra. Se você for investir o que sobra quando sobra, acaba não sobrando, né? então tem que ser feito de forma intencional, você tem que reservar uma parte da sua renda e de preferência começar determinando um destino para aquele dinheiro. porque se você guardar só por guardar, qualquer coisa que aparecer ali, uma viagem, um passeio, uma roupa, um sapato, você vai acabar utilizando esse recurso.

Ana: Eu iria até mais simples, tá. Acho que para quem nunca investiu e tá paralisado com medo 5% pode ser muito. Eu começaria com o mínimo que tem para investir, tem lugares que você consegue começar a investir a partir de 1 real. Pega uma graninha, seja 1 real, seja 30, seja 100, seja 1000, o que te deixa confortável para dar o primeiro passo, e dá o primeiro passo! E aí vai aos poucos, vai aumentando esse passo, no próximo mês eu ponho um pouquinho a mais do que eu tinha colocado, então começar simples, muito simples. Uma coisa que o mercado financeiro tenta vender é que você precisa entender todo o mercado para começar a investir, e isso não é verdade. Dá para você começar com instrumentos e investimentos mais simples para iniciar. quando você se sentir preparada e pronta para dar um próximo passo aí você estuda o próximo passo. Eu não preciso, para começar a montar minha reserva de oportunidade ou de emergência, entender tudo de ações e renda variável por que esse dinheiro não vai ficar nesse lugar, então eu não preciso saber tudo para começar. Eu acho que a gente tem que começar a tirar essas travas que o mercado coloca que assustam as pessoas. começar com o que você tem e essa dica de “caiu o dinheiro já investe” é mágica! É muito poderoso conseguir fazer isso, porque a gente consegue se adaptar a quanto de dinheiro tem na nossa conta. quem nunca olhou para dois anos atrás “nossa tinha um salário menor e vivia super bem, porque que agora que eu tenho um salário maior eu gasto mais e não consigo voltar ao padrão de vida de antes?”. então a gente consegue se adaptar ao quanto temos de dinheiro. Se a gente tirar um pouquinho quando o nosso dinheiro cai, a gente vai sobreviver com o que ficar na nossa conta.

Vic: Só complementando, acho que também tem muitos cenários em que as pessoas não tão investindo mas não porque elas não têm, às vezes elas tem e tá parado na conta corrente. Uma analogia que a gente usa também é a de uma piscina: se você não conhece essa piscina se não sabe se ta fria, que no caso seria investir, se você nunca investiu, se você tem medo, se você não sabe, você não precisa pular de uma vez. Às vezes essa necessidade que as pessoas sentem de “ai tenho aqui o dinheiro que juntei no último ano, 5mil reais, não sei oque fazer, medo de perder tudo, então prefiro deixar aqui quieto, que eu sei que ele não vai sumir.” Esse medo de ter que mover esse dinheiro todo de uma vez faz com que as pessoas não tomem uma decisão. então “é isso, eu to com medo de pular nessa piscina que tá gelada, não vou entrar.” Mas você pode botar o pé primeiro, é o que a Aninha falou, uma quantia que não vai te deixar preocupado, que você não vai perder o sono. Põe 100, menos, põe o que te deixa tranquilo, e aí você viu, ah rendeu um pouquinho, meu dinheiro não sumiu, consigo entrar mil vezes durante o dia ele vai ta la, ele não sumiu. e aí sim vai levando o restante que você tem. vemos vários cenários disso, pessoas que tem dinheiro mas não estão investindo porque tem medo de começar, as vezes nem é uma dificuldade de guardar. Tem vários cenários e para esse, especificamente, a gente gosta de recomendar que comece pequeno, comece com um pouquinho para perder o medo e aí depois vai mais fácil.

Dani: Só complementando você tava falando a gente vai expandindo nossos gastos conforme a gente vai ganhando mais, tem uma lei para isso. Chama lei de Parkinson, é muito louca. Na verdade ela foi feita para projetos, mas a gente consegue fazer a analogia para dinheiro. que é, se você tem 3 semanas para fazer um trabalho, você vai usar 3 semanas para fazer esse trabalho. Se você tem 3 dias para fazer esse mesmo trabalho, você vai fazer o trabalho em 3 dias. Então eu é o que eu penso para dinheiro, você tem x reais você vai gastar, x reais. Aí você começa a ganhar x + y, você vai gastar x + y, você aumenta seu gasto. Se você não percebe esse padrão você faz isso sempre, é muito louco, essa teoria serve para qualquer coisa.

Ana: Funciona, até aquela dica de comer num prato menor vem disso também, porque se eu usar um pratinho menor do que o normal vou comer menos. você se adapta muito fácil ao tempo, ao dinheiro que você tem.

Dani: Como é que eu faço para ensinar como valorizar o dinheiro para uma criança?

Cecília: para criança ela já começa alí na fase dos 3, 4 anos a pedir coisas, né, pedir brinquedo, pedir um chocolate no supermercado. então esse é o momento de iniciar a organização com as crianças e não é falar para ela o que rende mais ou menos, mas é de forma lúdica, na linguagem que a criança entende, começar a mostrar para ela que coisas que são parecidas, mas que tem valores diferentes. Colocar para criança as prioridades, então se você já deixar pegar tudo o que ela quiser então você vai ser naquele padrão ela vai entendendo ela tá com o hdzinho dela zerado ela tá começando a armazenar informações então eu já desde cedo você colocando essa questão de fazer escolhas. então “hoje pode um e chega”. Entra lá e vai pedir dois, três, “não, lembra que era um só? Vamos escolher qual a gente vai levar hoje?” então ela vai começando a entender e ter a percepção de que você ta fazendo uma troca, dando o dinheiro e pegando algo em troca. É muito cedo para criança entender o que é o dinheiro, mas ela já começa a perceber as escolhas, o poder da escolha. Já quando tá numa fase dos 5, 6 anos, que já começa a entender um pouco de números, de quantia aí já dá para começar a dar um pouquinho de dinheiro para comprar um sorvete, para comparar uma balinha, um chocolatinho, coisas pequenas. A criança que teve o contato cedo com o dinheiro vai ter mais facilidade para lidar com o dinheiro na vida adulta do que as crianças que não tiveram, as famílias que não conversam, não falam sobre o dinheiro. aí cai nessa responsa de você ter que acabar aprendendo na prática, as vezes da pior forma possível.

Começar desde cedo é super importante, né, a primeira fase dos 5, 6 até os 10 anos, introduzir “semanadas”, porque a criança ainda não consegue lidar com a questão do tempo. um mês é muito tempo para lidarem com o dinheiro e a partir dos 10 anos eles conseguem usar mesada. então tem crianças que já ganham cofrinho, quando pequenos, eles vão começando a perceber que ele vai juntando, vai acumulando e que ele consegue com um pouquinho, com a moeda, num prazo de tempo, comparar aquele brinquedo que ele queria de natal, ou do dia das crianças, ou de aniversário.

Ana: Acho que a gente não costuma dar muitas dicas para crianças,né Vic, mas uma coisa que me veio a cabeça e que veio de um experimento que aconteceu é de dar valor ao tempo, de esperar. e não necessariamente tempo como uma semana, um mês, mas do tipo “se você esperar um pouquinho talvez você ganhe um pouquinho mais”. O experimento que veio a minha cabeça foi o teste do Marshmallow. Depois quem quiser coloca no YouTube e procura que é muito bonitinho ver o vídeo. O experimento é assim: tem uma criança na sala sozinha e chega uma pessoa e fala “ó, esse marshmallow é para você, mas se você esperar eu voltar eu te dou dois.”. Então, a criança fica lá sozinha olhando o marshmallow e ela tem que tomar a decisão se ela vai comer um agora ou esperar a pessoa voltar para ganhar dois. Começar a colocar na criança esse senso de que tudo bem esperar para ter as coisas que você quer é bem importante quando a gente transfere isso para dinheiro. Se eu quero tudo imediatamente, quero tudo hoje, vai ser muito difícil eu juntar dinheiro para um objetivo daqui a 3 anos, porque eu quero tudo agora. A gente consegue também pensar em valores que não são necessariamente monetários, mas que ajudam nessa dinâmica que ela terá ao longo da vida com o dinheiro no futuro. Acho que essa questão de esperar é bem legal.

Vic: Nossa, é exatamente o que eu ia falar, não vou nem acrescentar, muito acho que para uma criança que sempre teve tudo na hora que quiser, seja caro ou barato, ou não tá merecendo, enfim, e aí depois para ela virar a chave, depois na adolescência, do nada entender que não, não é tudo na hora que quer, que isso pode te levar a endividamento. não, não dá para comparar tudo que a gente quer só porque a gente quer ou, enfim, na hora que a gente quer ainda mais nessa época em que mídias sociais e marketing é tão fácil ser bombardeado, a criança que não tá preparada para esperar vai virar um adulto com mais dificuldade de lidar com essas frustrações.

Dani: Muito obrigado meninas! Eu queria saber de você que ferramentas vocês indicam para as pessoas começarem a se organizar, por onde começar, o que elas fazem para isso?

Cecília: Bom, acho que pode começar a criar o hábito anotando, né. hoje existem várias ferramentas, vários apps que você consegue baixar no celular, e todo mundo tem um celular, então não é mais desculpa, e consegue te auxiliar nessa tarefa, de fazer as anotações. Como foi dito no começo, se você não conseguir enxergar, se você não conseguir perceber quanto você ganha, como você está gastando, você não vai conseguir ter grandes resultados. Pequenas mudanças podem trazer resultados extraordinários. Tem alguns apps que eu eu destacaria, como o guiabolso, minhas economias (não consegui entender) e o organize. são apps fáceis de trabalhar, você consegue baixar no celular, então de onde você estiver você consegue colocar os dados.

Ana: O que eu ia falar é que para mim antes de ir pro app é uma sessão de autoconhecimento mesmo, de sentar e desenhar prioridades. Pegar esse momento que aparentemente é chato — olhar pro meu dinheiro — e transformar em algo gostoso. então se a pessoa gosta de café, faz um café, põe uma música gostosa, se você gosta de vinho, cerveja. Faz um momento como se fosse de autocuidado, como se você fosse colocar uma máscara no rosto, e olhar pro seu dinheiro, pro que é sua prioridade. E aí na questão de ferramenta, tem gente que funciona com app, tem gente que funciona com planilha, tem gente que funciona com anotação no papel. Então é entender o que para você é mais tranquilo de seguir e não fazer só o “ah, eu acho que o app é o melhor porque tá no meu celular”, mas se você não gosta de usar o celular, não vai funcionar ir pro app. É entender o que funciona com você e ir para estratégia. Tem muito conteúdo na internet, procura se informar também, vê o que outras pessoas fazem, pergunta para as amigas “como você cuida, o que você faz?” e vai criando seu próprio método para olhar pro seu dinheiro da forma que você se sinta mais confortável.

Vic: uma coisa que a gente já viu em várias rodas é que muitas vezes as meninas desabafam dizendo “ah, mas me falam para anotar gastos, aí eu anoto e não sei o que fazer com aquilo.” ou “aí já esqueci de anotar dois dias seguidos, aí já lascou, não consigo mais.”. É isso que eu concordo muito com você, Aninha, é cada uma tem seu jeito e falando por mim eu já tentei várias coisas, mas eu amo planilha. para mim é o que funciona e para muita gente funciona, para muita gente não funciona. O que eu acho legal é ter uma visão do seu ano. Anoto lá quanto ganho, primeira coisa é quanto vou investir, depois quais são meus gastos fixos, o essencial todo mês, enfim, vou fazendo tipo uma cascatinha que é uma coluna à eu arrasto tudo para direita vou ter varios meses e eu consigo ver. quanto vou investir no ano, em algum mês terei um gasto além do normal eu já consigo e deixar aquilo planejado você vai ver então foto do meu ano. para mim funciona bastante, acho que nem todo mundo é uma planilha e eu super entendo isso acho que fica a recomendação porque é muito mais simples do que parece, é conta de mais e de menos.

Cecília: Planejamento você tem que encarar como um estilo de vida, não como uma obrigação de ter que fazer. Eu quero lidar bem com meu dinheiro, quero ficar numa boa porque é muito ruim você olhar para conta e tá lá a conta no vermelho, aquela coisa tira o sono das pessoas. então claro, encontrar o que funciona, nem tudo funciona para todo mundo, e tentar né; você não vai achar logo de primeira se você não fizer algum teste, e lidar com isso como algo que seja prazeroso para você, então no primeiro momento é doloroso, mas o objetivo maior, a grande compensação disso é a qualidade que você vai trazer para você.

Vic: Concordo totalmente com você, Cecília, eu pensei quando você falou que vira prazeroso, eu há uns anos atrás ia falar “Pelo amor de deus! Como assim prazeroso?” e deve ter gente ouvindo que pense assim. Mas é muito real! Cada uma tem sua frequência para organizar suas finanças e todo fim de semana eu faço isso que a Aninha falou. A gente sempre gosta de falar que esse é um momento de autocuidado, eu faço uma máscara no rosto, faço um chá e eu percebo o quanto isso me ajuda a não ficar ansiosa, o quanto isso me deixa tranquila. porque todo fim de semana eu coloco lá (na planilha) o quanto eu vou gastar, o que eu gastei, eu vejo minha fatura e me sinto tranquila, porque eu falo “ok, agora tá tudo bem, eu meio que tô no controle de novo.” Um momento que realmente me deixa mais tranquila. E, outra coisa que eu ia comentar, é que não só cada uma tem uma forma de planejar as suas finanças, mas também no dia a dia cada uma tem uma forma de gastar que faz mais sentido, por exemplo, cartão de crédito não necessariamente é o vilão. Se você sabe lidar, sabe usar ele é ótimo. A Aninha adora, ela usa super bem o cartão de crédito, e pra ela tá tudo bem. Agora eu, por exemplo, não me dou bem com cartão de crédito, então o que funciona mais para mim é: eu gasto o máximo possível no débito, algumas coisas que saco, tudo o que eu posso eu já organizo quando cai meu salário, eu transfiro o que precisa transferir, saco o que precisa sacar e é isso o que funciona para mim. Mas tem gente que gosta do cartão de crédito, então também entender isso, qual forma de gastar no dia a dia é a que faz você conseguir se controlar mais.

Cecília: até para as pessoas que tem dificuldade de lidar com isso, então, como a gente sabe que hoje tem muita informação, mas muita informação sem orientação só gera confusão. Você vê lá um monte de informação, um monte de dados, mas e aí, o que que eu faço com isso? Aí entra o trabalho do planejador financeiro. A missão do planejador é ajudar as pessoas a realizarem seus sonhos, a terem qualidade de vida. então o planejador é um orientador. As pessoas as vezes falam “ah, mas eu não quero colocar, to com dívida, vou esperar melhorar para procurar ajuda.”, mas ninguém vai para a academia quando tá bem o corpo em forma, então você tem que procurar ajuda quando você vê que você tem dificuldade mesmo. e você vai ver que não custa caro, acho que o que custa caro é a gente não ter informação, então o que você paga de juros, isso é um dinheiro que você não tem de volta, as vezes vale a pena investir um pouquinho para ter uma melhor orientação de como lidar com suas finanças.

Dani: E onde as pessoas podem achar vocês, pessoal, em quais redes sociais vocês estão?

Ana: A gente tem um grupo no facebook, se chama Invista como uma garota, e é meio que uma extensão das nossas rodas, as conversas continuam lá depois das rodas presenciais. E tem nosso instagram também, a gente tenta trazer a conversa nas rodas para lá para atingir mais pessoas porque as rodas tem um limite de pessoas, então esses são os dois principais lugares.

Vic: Nosso instagram é @invistacomoumagarota, não tem segredo!

Dani: E você, Cecília?

Cecilia: Eu tô no facebook também, Cecília Pereira. também pode tá divulgando meu email, acho que fica até mais fácil quem quiser tirar alguma dúvida é ceciliapereira.ma@gmail.com, vai ser um prazer imenso poder estar tirando dúvidas e dando dicas para vocês!

Dani: Legal, a gente vai deixar todos os contatos, todos os links até mesmo as ferramentas citadas aqui estarão na descrição do podcast e no artigo do podcast. Gente eu queria agradecer muito essa conversa, foi muito legal, bastante coisa que vai passar para todo mundo, tirou muitas dúvidas aí galera. Muito obrigada mesmo por esse tempo!

Ana: A gente é que agradece o convite!

Vic: Obrigada você!

Dani: Fiquem de olho nos próximos episódios do podcast, a gente tem muita coisa interessante para trazer. Muito obrigada por estarem ouvindo a gente.

Obs.: Gratidão Talita Morais pela transcrição

Imagem de um cofrinho com notas

Onde encontra-las:

Agora, as referências deste episódio:

Apps para ajudar nas finanças pessoais:

E você? Tem alguma sugestão ou opinião sobre o podcast? Nós adoramos receber sugestões e feedbacks!

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Até o próximo episódio!

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