Por fora das redes sociais

Liliana Giraldo Vega
Mulheres de Produto
5 min readMar 29, 2020

Um experimento social que talvez virou um experimento profissional.

Estive perto de voltar às redes sociais várias vezes. A primeira foi semanas atrás, quando descobri que tinham hackeado o meu perfil do Facebook, aparentemente uma gangue na Colômbia estava fazendo isso para obter dados de familiares e amigos e planejar um golpe. Tive de entrar, reportar e falar com algumas pessoas para que não respondessem às mensagens que estavam enviando do meu perfil, nas quais estavam pedindo para eles receberem uma encomenda que eu mandaria do Brasil. O resto da história, só é bom imaginar.

A segunda vez foi justamente hoje enquanto tentava terminar este artigo, que por tanto tempo pensei na minha cabeça, mas que só até agora pude colocar em palavras. E tentei voltar ao instagram, pois é muito simples procrastinar, aceitar solicitações de amizade que acumularam ao longo de quase 5 meses e me perder o resto da tarde espiando fotos e post de pessoas novas (e antigas que faz um tempo não tenho notícias).

É muito simples voltar, ainda mais nessa época de isolamento, quando se faz necessário manter-se por dentro do que está acontecendo e mitigar esse FOMO (fear of missing out) que tanto me incomoda, até nos mais profundos sonhos. Mas será que é necessário voltar mesmo? Ou será que consigo reinventar toda esta agonia?

O que era inicialmente um experimento social e meramente pessoal, acabou virando um experimento profissional.

Quis investigar, entender mais a fundo sobre o tema, criar uma série de hipóteses e finalmente refletir sobre o que uma PM (Product Manager) pode aprender se afastando por um tempo das redes sociais?”.

Então sem longas, mantendo a minha fala (no possível longe de clichês midiáticos), mas querendo agregar de fato algum conhecimento com isto que estou experimentando, segue uma lista de coisas que posso dizer que aprendi ou estou tentando aprender fora deste universo de likes e stories:

  1. Procrastinação: acho que é o tópico mais óbvio e por isso quis trazê-lo no topo da lista. E aqui não vou falar que fora das redes consegui diminuir x% minha procrastinação e a minha tendência a começar e desistir muito fácil de muitas coisas, na verdade, agora não posso mais culpar o tempo ocioso que passava no Instagram e que tanto me impedia retomar o foco. O que posso dizer é que ao não ter esse trigger perto de mim, consigo terminar uma tarefa difícil sem tantas interrupções, ou seja, encarar a realidade é algo mais chocante e óbvio no meu caso, contudo confesso que às vezes fico olhando algumas mensagens antigas do whatsappp ou dando uma passada pelas fotos de perfil das pessoas com as que falo no meu dia dia (I know, um pouco creepy);
  2. Sistema de recompensa e produtos viciantes: e aqui não vou entrar em muitos detalhes sobre como isto funciona, porque daria material para fazer um outro artigo (por hora, recomendo o livro Hooked: How to Build Habit-Forming Products). O ponto de atenção é a nossa necessidade intrínseca por novos desafios, o desejo incontrolável e natural do cérebro por estímulos e (em muitos casos), por novidade. Satisfazer o mecanismo de recompensa é algo que buscamos sempre e uma simples funcionalidade como um like, tem um efeito parecido aos gerados por atividades como jogos de azar e drogas recreativas, ou seja, além de tudo, gostamos de coisas proibidas, gostamos de adrenalina:

Entender isto parece muito obvio, no entanto, um adicto tem bastante dificuldade em aceitar que tem um problema e foi só quando comecei a ler um pouco mais sobre o zombie scrolling, que quis dar um tempo.

3. Tempo livre, projetos paralelos e curadoria: Antes de sair do facebook, eu tinha a mania de salvar conteúdos para depois ler com calma, mas era algo que nunca fazia e ficavam arquivados até algum dia lembrar (ou não). Fora das redes e com algo de tempo livre (isto antes da quarentena, Ok?) baixei o app feedly que me ajuda a criar boards com diferentes tipos de conteúdos e organizar de uma forma menos caótica e mais eficiente o que leio ou quero estudar. Além disso, tenho ficado mais próxima de alguns projetos que já tocava no passado ou, até mais engajada em alguns outros. Comecei a ler mais newsletters, a escolher de fato (ou pelo menos tentar escolher) o que quero ler, quais matérias dar atenção sem cair nas Echo chambers, -efeito bem perigoso que as redes potencializam-, voltando assim a escrever e tentando criar uma opinião formada sobre alguns assuntos que sempre me interessaram, mas que por causa das redes, tinha uma visão limitada, polarizada ou até exagerada. Voltei a ouvir a rádio e alguns programas (especialmente bem cedo e no final do dia), e também alguns podcasts que tinha enfileirado;

4. Conexões e o poder da escolha: queria poder falar que fora das redes sociais consegui me aproximar mais das amigas e amigos que estão longe. Esta era uma meta que tinha me proposto quando decidi sair. É uma meta que me coloquei novamente no começo do isolamento, mas isto é outra conversa, rs. Pensei que fora do ambiente digital podia voltar ao básico e ligar um domingo no final da tarde para falar da vida, mas isso não tem acontecido e me culpo de alguma forma. Fiquei um tempo procurando uma desculpa e a única que acho é simplesmente falta de compromisso e interesse genuíno (me perdoem, amigues :( ), talvez preciso respeitar meu espaço e meu momento atual.

Além das amigas que estão longe, quis me aproximar de pessoas que estão aqui, porém como estou fora das redes, estou desconectada de postagens, eventos, ativações e todas as comunidades no geral (sim, meu carnaval foi bem difícil, rs). Gosto me manter ligada no chickenorpasta (porém os links dos eventos vão diretamente para o insta ou face), mas no final no meu círculo de amigos sou a chata que não tem redes sociais, a chata que não faz boomerangs, rs. Contudo, hoje sou eu quem escolhe onde, quando e em que momento viver. Acha egoísta? eu também acho um pouco, mas tem sido bom para minha sanidade mental.

Este artigo devia ter sido postado antes dessa situação (da qual não vou comentar) aparecer, pois o meu cenário mudou, a rotina de todos mudou.

Nunca ser digital foi tão importante, nunca estar online foi tão necessário, porém, deixo aqui um pedido para dosificarmos esta exposição à plataformas que tiram tanto tempo e energia de nós.

Não vou falar que está sendo mais fácil para mim, de certa forma agradeço não estar por dentro de seus stories da rotina em casa, das receitas que estão preparando, de quão lindo e eficiente seu home office tá sendo. O pico de ansiedade por aqui está batendo, a vontade de sair correndo é bastante forte, o desejo por recompensa e liberação de dopamina está mais descontrolado do que nunca, mas quero acreditar que é um momento de conexão com nós mesmas, é momento de explorar, de entender, de se reinventar, de desapegar se necessário, de utilizar todo o conhecimento para criar realidades distintas e usar todo o poder da tecnologia e dos produtos digitais, ao nosso favor.

Está passando por uma digital detox e não tem com quem falar? Me conte, deixa seus comentários ou me manda pvt que juntas saímos dessa!

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