Porque a co-criação como fonte de inovação é tão complexa na prática?

Graciela Banegas
Mulheres de Produto
4 min readDec 7, 2018

Co-criar e trabalhar com times multidisciplinares são práticas que estão em alta nas empresas de tecnologia e todos sabemos a importância disso. Falamos muito em co-criação e trabalho em equipe, mas quando colocamos a mão na massa conseguimos ver o quanto essa prática pode ser complexa e não tão simples de ser administrada.

Quando comecei a atuar como Product Manager acredito que foi um dos meus maiores desafios, porque ao falarmos em inovação costumamos pensar em grandes invenções que revolucionam o mercado, mas ao olhar para a rotina de uma empresa a pedida é o que chamamos de inovação incremental, que na maioria das vezes são melhorias que tem como objetivo otimizar a eficiência, velocidade, custos e manter a comunicação constante entre clientes e empresa.

A questão é que otimizar a eficiência, velocidade e custos, num contexto onde Agile, Lean, Design Sprint e uma série de outros frameworks já compõe o dia a dia da empresa acaba sendo básico. Acredito que exista a necessidade de ir além e “pensar fora da caixa”, mas as melhores soluções e ideias “fora da caixa”, não têm origem de uma única pessoa, pelo contrário, normalmente elas surgem através de muito trabalho em equipe e a co-criação é peça chave.

E o que é Co-Criação?

Co-criação é uma iniciativa de gestão ou uma estratégia econômica que reúne diferentes partes para produzir um resultado que gere valor visível para todos os envolvidos. Como o valor gerado é percebido por todos acaba incentivando o engajamento, para que a contribuição continue acontecendo de forma iterativa. Este processo também é considerado uma forma de inovação.

Independente da situação específica, um processo de co-criação precisa de inputs e estes inputs precisam ser escolhidos de alguma forma. Portanto isto subdivide o conceito/experiência da co-criação em duas variáveis: as atividades de contribuição e as atividades de seleção onde cada ação pode ser guiada tanto pela empresa quanto pelos usuários. — Aric Rindfleisch e Matt O’Hearn

Quais são os desafios ao colocá-la em prática?

1- Entender o contexto e alinhar expectativas

Quando uma iniciativa está sendo desenvolvida por um time multidisciplinar é muito comum que cada integrante tenha a expectativa de que o projeto atenda a seus interesses.

Muitas vezes, cada um deles terá seus interesses muito voltados à sua área de atuação e não a uma visão mais ampla ou relacionada a entrega de valor do projeto. Isso pode gerar conflitos entre a equipe e como consequência, o processo de co-criação se torna mais lento.

Por isso independente da metodologia que a gente utilize, uma iniciativa precisa começar com a compreensão do contexto, pois essa etapa é tão importante quanto descobrir o que será feito. Quanto mais claro o contexto, o processo de co-criação terá melhores resultados.

Para evitar diferentes expectativas, logo após entender o contexto, o alinhamento também é mais que essencial. Nessa etapa é interessante abrir espaço para ouvir a expectativa de cada um dos envolvidos e em conjunto definir e garantir que todos estejam cientes do que se espera como resultado e entrega final.

2- Como lidar com as suposições?

É comum que cada integrante de uma equipe tenha ideias de como resolver um problema ou sugestões de como otimizar algo. Porque normalmente cada pessoa têm suas próprias vivências e por isso podemos nos sentir capacitados para definir o que deve ser feito.

Por ser muito comum isso acontecer também é super importante que os integrantes de um time compartilhem suas suposições e elas sejam discutidas em conjunto. Assim ao final as suposições mais relevantes podem ser transformadas em hipóteses prontas para validação e ao mesmo tempo, a equipe mais uma vez fica alinhada evitando assim conflitos futuros.

3- E quando há discussões conceituais ?

Muitas vezes mais polêmicas que as suposições, são as discussões conceituais, além de embasadas em conceitos técnicos também em vivências passadas e até mesmo construções culturais. E nem sempre elas são produtivas ou direcionam um projeto de forma saudável.

Quando estas discussões aparecem é interessante que as pessoas que tomam as decisões, esclareçam aos demais qual o caminho que se espera seguir e porquê, mantendo sempre a transparência para garantir que a comunicação seja mais fluída entre todos.

4- E o legado que existe?

É bem comum trabalhar em projetos que carreguem algum legado e quando isso acontece, por mais que a gente não consiga alterar muitas coisas, pode ser importante saber o histórico dando maior embasamento para a tomada de decisões. Ajuda bastante saber como e onde surgiu determinada solução, quais erros foram cometidos para evitá-los e o que funcionou bem, para manter as boas práticas.

5- Tomada de decisão e comunicação

A comunicação deve ser de duas vias, onde todas as partes trocam informações, pois a principal premissa da co-criação é que a criação deixa de ser um processo unilateral e se torna bilateral.

Portanto, a tomada de decisão e criação em conjunto dependem da qualidade dos relacionamentos e experiências cultivadas ao longo do processo da co-criação.

Para finalizar, é importante estar aberto a discussões, promover reuniões e eventos onde todos tenham liberdade para expor suas experiências e procurar ferramentas que abram os canais e promovam a interação de forma segura, porque apesar da complexidade toda mencionada acima é através da co-criação que conseguimos soluções inovadoras, minimizamos viéses e no fim das contas duas ou mais cabeças, na maior parte das vezes, pensam melhor que uma.

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Graciela Banegas
Mulheres de Produto

Group Product Manager | Facilitator| Love People &Technology