Ser mulher num mundo feito por homens.

Marina Sala
Mulheres de Produto
3 min readApr 26, 2019

Mês passado li o artigo The deadly truth about a world built for men no The Guardian, e coisas que nos parecem tão triviais depois de ter tido acesso a esse conteúdo mudaram um pouco.

É um artigo muito completo e longo, cheios de exemplos de casos de produtos desenvolvidos majoritariamente por homens, e consequentemente para eles mesmos, sem levar em consideração que a outra metade da população também vai usar esses produtos e serviços.

E uma das coisas que tudo isso me fez pensar é que é um texto difícil de ser lido em outra língua, porque eu mesma não entendi todos os detalhes. Então eu resolvi escrever sobre ele para que outras pessoas possam ter acesso a esse conteúdo.

Eu não vou entrar na parte básica de todo esse conteúdo sobre como o espaço das mulheres na sociedade é silencioso, porque parto do princípio de que se você chegou até aqui é porque você já tem uma noção disso.

Abaixo alguns dos temas destacados no artigo pra gente refletir:

Você não deixa sempre aquela sua brusinha de frio na firma?

É porque a nossa taxa metabólica realizando a mesma atividade que homens pode ser até 35% menor, o que significa que os escritórios são em média três graus mais frios para nós.

Quantas coisas são grandes demais para a sua mão?

Quem carregaria uma pasta de arquitetura tamanho A1 com mais conforto, você ou um homem? Será que é por acaso, ou porque foi projetada por um homem? Mas nem vou entrar no universo de ferramentas de construção pra não ser tão infelizmente óbvio. Vamos pensar talvez no tamanho do seu celular… Encaixa melhor na sua mão, ou na mão do seu colega ao lado?

Ah, mas isso não atrapalha nossas vidas né?

Numa pesquisa americana só 5% das mulheres que trabalham diariamente com coletes à prova de balas se declararam confortáveis com o traje. E deixando o conforto de lado, porque isso é um luxo para nós mulheres… Nós temos seios, e dependendo do tamanho deles um colete a prova de balas pode ficar curto demais deixando parte da barriga desprotegida.

Quem não anda de carro no dia a dia?

Bonecos crash-test representam o corpo masculino, e a estatística de segurança dos passageiros em acidentes é baseada nisso. Depois de muito brigar, mulheres conseguiram implementar obrigatoriedade com bonecos femininos também, mas adivinha onde eles vão normalmente? Pois é… No banco do passageiro.

Fila de banheiro feminino é longa porque mulher demora (?)

Demora sim, nós levamos até 2,3 vezes mais tempo do que homens para usar o banheiro, porque temos que entrar numa cabine, fechar a porta, forrar o vaso, sentar, enxugar, e talvez ainda trocar um absorvente. E banheiros femininos e masculinos costumam ser do mesmo tamanho, sendo que os masculinos comportam mais homens urinando ao mesmo tempo por que tem mictórios. E nem vou entrar no mérito do trocador de bebês.

Mas somos todos iguais, não?

Muitas das pesquisas da área de saúde são feitas com base no padrão homens-caucasianos-25/30–70 kg, e então estamos sujeitas a confiar em dados de estudos feitos sobre homens como se eles se aplicassem a mulheres, mas nossos corpos são muito diferentes. Temos sistemas imunológicos e hormônios diferentes, tendemos a ser menores e a ter pele mais fina, e temos uma porcentagem de gordura corporal maior.

Vivemos num mundo de smartwatches grandes demais para os nossos pulsos, sistemas de reconhecimento de voz que reconhecem melhor vozes masculinas, espaços e veículos projetados sem levar a dinâmica do corpo feminino em consideração…

É citado um caso em que um professor numa universidade mostrou uma foto de um osso de chifre com 28 marcas e disse que aquela era tida como a primeira tentativa do homem de ter um calendário. Mas o que o homem precisa saber quando passaram 28 dias, que é exatamente o número de dias do ciclo menstrual feminino?

Tudo isso pra dizer o VALOR que uma perspectiva feminina tem num produto.

Opinem. Questionem. Não se calem ❤

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