Sobre viver na arena

Amanda Ulitska
Mulheres de Produto
5 min readMay 26, 2019

Um pouco das lições que aprendi com Shonda Rimes e Brené Brown sobre dizer sim e viver na arena.

Imagem do Pixabay

Terminei de ler o livro “O ano em que disse sim” da Shonda Rimes. Um breve resumo sobre Shonda (breve mesmo!) é que ela é a mulher por trás das séries Grey’s Anatomy, Scandal e How to Get Away with Murder. Vale a pena pesquisar no Google e fazer a leitura completa do livro para saber mais sobre ela.

Nesse livro, ela conta sobre sua experiência pessoal após decidir que iria dizer sim a tudo que a desafiasse ou amedrontasse. Foi uma leitura fácil e envolvente, onde me senti acolhida como numa conversa com uma amiga.

O livro me trouxe algumas reflexões e gostaria de compartilhar algumas com vocês.

Ninguém dá conta de tudo

Shonda tem três filhas e fala muito sobre maternidade real no livro. Fala sobre ser mãe e ser uma profissional bem sucedida, e como isso faz com que as pessoas frequentemente a indaguem sobre como ela consegue conciliar as duas coisas e dar conta de tudo. O que realmente a libertou foi assumir que ela não dá conta de tudo. Ela conta com uma ótima rede de apoio que envolve família, babá, assessores, entre outras pessoas, para segurar as pontas quando preciso.

Desde que me conheço por gente, tenho tentado dar conta de tudo e me frustrado por isso. Em tempos de redes sociais, onde o bombardeio de conquistas e feitos alheios é constante, a auto cobrança se torna ainda maior. Talvez, por isso, essa parte do livro me trouxe um aconchego tão grande na alma e me fez, de uma vez por todas, tatuar na minha mente que:

Ninguém consegue se dedicar 100% a todas as áreas da sua vida.

É humanamente impossível. Se você está em um momento da vida que está dando o máximo no trabalho, provavelmente não está dando o máximo na sua vida pessoal (com família, amigos, o que for) ou vice-versa. E está tudo bem com isso!

Buscamos o equilíbrio e dar o melhor possível de nós em cada uma das áreas o tempo todo, mas é normal que áreas específicas exijam um pouco mais de nós de acordo com nossas prioridades naquele momento da vida.

A reflexão a se fazer aqui é: o que está exigindo mais da sua energia é realmente sua prioridade agora?

Vale ressaltar que a cobrança para mulheres nesse sentido é ainda maior, visto que, no contexto social, a mulher (ainda) é a figura mais cobrada para exercer e se dedicar integralmente ou em maior parte a maternidade e aos assuntos domésticos. Se essa mulher está inserida em um contexto profissional, a chance de ficar sobrecarregada com o acúmulo de funções é certo.

Você não é sua casca

Shonda falou sobre como esse processo de se abrir a experiências desafiadoras e ameaçadoras contribuiu para o fortalecimento de sua auto estima e personalidade.

Passou a perceber o quanto as mulheres resistem a receber elogios e a se reconhecerem como as mulheres incríveis que são. Mulheres com amor próprio bem consolidado, firmes e donas de si são vistas como arrogantes. Por isso, muitas mulheres acabam por se esconder por medo de que os outros pensem que elas se acham incríveis demais.

“Se você não se mostrar, as pessoas podem achar que você é sua casca.” Shonda Rhimes

Me considero uma pessoa extrovertida quando estou na presença de pessoas que conheço ou que me sinto a vontade ao redor. Fora desse contexto, me considero uma pessoa introvertida e sinto dificuldade em puxar assunto ou ter qualquer conversa mínima. Não há problema nisso, desde que eu esteja ciente de que essas pessoas talvez só verão minha casca e que não é isso que sou.

Eu frequentemente me questiono sobre essa questão do que sou e do que as pessoas acham que sou. Acredito que as duas coisas estão alinhadas apenas para as pessoas das quais sou muito próxima. Um teste que costumo fazer para averiguar o quanto autêntica tenho sido, é pedir para que as pessoas me descrevam. Se a descrição não bate com o que sinto que sou, indica que talvez eu não esteja sendo tão autêntica, me mostrando e agindo de acordo com o que sinto.

Novas experiências são assustadoras (e extraordinárias)

“O maior inimigo do sucesso é a imaginação."

Quantas vezes você já imaginou as piores coisas acontecendo em uma experiência desafiadora que iria viver?

Dizendo por mim: quase sempre.

E quantas dessas coisas que você imaginou realmente aconteceram?

Dizendo por mim novamente: nenhuma.

A realidade é que sempre tendemos a imaginar o pior, é o nosso mecanismo de defesa cumprindo seu papel ao nos fazer sentir medo e está tudo bem com isso. O problema ocorre quando o medo te impede de viver as experiências, por conta das coisas que você imaginou. Nesse momento que entra o poder do sim!

Dizer sim a uma experiência desafiadora, independente do medo das coisas que você criou na sua cabeça, é o que te permitirá viver experiências incríveis.

Isso me lembra de várias situações da minha vida: meu primeiro emprego, minha primeira viagem sozinha, minha primeira palestra em uma conferência, minha primeira experiência como líder, entre tantas outras.

Todas essas situações envolviam incertezas e inseguranças, ou seja, ambiente propício à criação de paranoias. Felizmente estou aqui para dizer que todas essas situações resultaram em experiências incríveis que eu jamais havia imaginado.

Dizer não é dizer sim

Shonda conta que, quando suas séries na TV estrearam, brotaram pessoas do chão pedindo favores de todos os tipos. Ela diz que sentia muita dificuldade em dizer não, tanto para as pessoas que não conhecia ou não tinha tanta afinidade, quanto para as pessoas que eram próximas e considerava amigas. No ano em que disse sim, ela entendeu que:

Dizer não quando se quer dizer não, é dizer sim para si mesmo.

E isso mudou tudo.

Eu já perdi as contas de quantas vezes deixei de ser autêntica e abdiquei do que eu realmente queria para dizer sim a outras pessoas (que por vezes eu nem considerava tanto assim).

Vale lembrar que, do outro lado das conversas difíceis, está a liberdade. A liberdade de dizer o que se quer dizer e de agir conforme se quer agir.

Por fim…

Recentemente, descobri Brené Brown. Se você não a conhece, recomendo que assista a esse vídeo, a esse vídeo e a apresentação dela disponível na Netflix chamada “The Call to Courage”.

Entre tantas coisas, Brené me fez refletir sobre o quanto deixamos de ser autênticos por medo das críticas e do que os outros vão falar e pensar. Ela descobriu (através dos seus anos de pesquisa e de um discurso de Theodore Roosevelt) e me fez descobrir que se expor, mostrar suas vulnerabilidades, viver com ousadia e coragem, é aceitar que é imperfeito e viver na arena.

Se você está na arena, as únicas críticas que importam são daqueles que te amam pelas suas imperfeições ou que também estão na arena. As críticas de quem não te conhece ou de quem está na plateia apenas assistindo, não importam.

Para mim, o livro “O ano em que disse sim” conta como Shonda saiu da plateia e passou a viver na arena.

Dizer sim é viver na arena.

E você, onde quer estar? Na arena ou na plateia?

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Amanda Ulitska
Mulheres de Produto

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