Transição pra produto: aprendizados dos primeiros 6 meses

Victoria Drapala
Mulheres de Produto
5 min readApr 7, 2022
Macaulay Culkin em Esqueceram de Mim (Foto: Divulgação)

Sabe aquele frio na barriga que temos quando vamos ingressar num objetivo novo?

Essa divisão tem por objetivo fazer uma retrospectiva sobre os principais pontos de aprendizagem e de evolução desse meu momento de carreira, para também apoiar em possíveis dicas valiosas para pessoas que estão transitando ou desejam migrar pra produto. Ao longo dessa maturação de experiência estou me dando conta de que nos preocupamos tanto com o que não vivemos, que esquecemos que toda a nossa trajetória anterior nos prepara e muito bem para encarar os desafios dessa transição, e o que vale mesmo é cada passo da jornada e estar aberto para o aprendizado que nunca se cessa.

1) Entenda o contexto da sua squad (ou simplesmente do seu time):

Saber qual é o problema a ser resolvido é muito mais importante do que já saber como resolver o problema. Não é natural pensar isso, eu entendo, nossa ansiedade e nossa validação por estar no caminho certo nos fazem correr para dar as respostas, e estar num período de aprendizagem sobre o contexto nos faz nos sentir o gargalo do time, mas ei é normal! Vai valer a pena se dedicar a esse entendimento.

O que significa na prática entender o contexto do time em perguntas:

  • Qual parte do produto nós cuidamos?
  • Qual é a garantia de valor que nossa squad entrega?
  • Como está a qualidade percebida do produto que cuidamos?
  • Nossos usuários interagem diretamente conosco nos fornecendo sugestões?
  • Temos dados de uso das funcionalidades que nós cuidamos?

Uma pessoa Product Manager precisa tomar decisões o tempo todo, e principalmente informar também o porquê determinadas decisões não foram tomadas. Se você não tirar tempo para entender e desenvolver domínio das oportunidades, aspectos positivos gerados e também os aspectos de fricção que podem ocorrer no uso de seu produto, você terá muito mais trabalho em comunicar com segurança essas decisões e possivelmente gastará mais tempo do que o necessário em evidenciar os benefícios das decisões tomadas.

2) Documente absolutamente TUDO

Documentação não costuma ser carro chefe em nenhuma operação, e é super normal cair em contexto de transição de tecnologia, portanto, o que você já for aprendendo documente. O início será de muita muita informação, muita busca por informação desatualizada e um desafio de assimilação misturado com ansiedade de resolver (kkkcrying). Então documente, essa etapa também ajudará e muito na análise das oportunidades que futuramente você conseguirá traçar por já ter estruturado essa linha de raciocínio.

3) Confie na sua squad

Ouvimos muito sobre o papel da pessoa PM ser generalista que entende sobre tecnologia, experiência do usuário e de negócio. Bem, você pode até estar familiarizado, mas entender profundamente não é o seu papel. Seu papel é entender as oportunidades associadas ao negócio que estão no contexto do seu time e confiar na expertise da multidisciplinaridade da equipe em como atingir essas oportunidades, e a partir daí, equilibrando esforço, viabilidade e valor (que já vai te dar um trabalhão) definir as priorizações.

4) Conheça as pessoas do seu time

Você precisa conhecer quem está no seu time:

  • Qual a história dessa pessoa?
  • Por que ela veio para esse desafio?
  • Qual tecnologia trabalha?
  • O que ela conhece do produto?
  • Quais tipos de desafio motivam mais essa pessoa? O que definitivamente não é com ela?

Tirar um tempo para entender as histórias por trás das pessoas que fazem parte do seu time além de ser muito gratificante para gerar conexão e familiarização com sua nova equipe, irá te apoiar muito na condução do dia a dia quando você precisar de maior detalhamento seja em viabilidade técnica ou mesmo de na visão de experiência, você saberá a quem recorrer. Você compreenderá melhor como dividir as investigações por base em afinidade ou domínio de conhecimento mesmo. E também pode usar esse espaço para se mostrar disponível e para desmistificar o papel de ‘sabe tudo’, é importante para que as pessoas passem a ouvir o que você sugere que elas confiem em você, e não sintam que você está ali apenas para delegar sem estar junto ao time.

5) Apoie se em dados

Marylin diria que ‘Diamonds Are a Girl’s Best Friend’ e nesse contexto eu diria que dados são os melhores amigos da pessoa Product Manager.

Quando tudo é prioridade, nada é prioridade… e pensando em mitigar um pouquinho daquela ansiedade genuína de início e ânsia por respostas os dados podem ser grandes aliados nesse processo.

Analisar dados não significa ter as melhores métricas já prontinhas (mas, se tiver melhor dos mundos… quem usou um Mixpanel sabe da paixão que se agarra), mas significa ter métricas que embasam suas prioridades de ação. Por exemplo:

  • Qual é o contexto do meu produto que atinge o maior número de usuários?
  • Onde estão alocados os meus principais problemas de qualidade? (Bugs reincidentes)
  • O que é crítico para o funcionamento da entrega de valor?
  • Tenho estratégia baseada em prioridade por mercado ou por cluster de cliente? Se isso for importante para o seu negócio, também será para a definição de priorização de produto.

Tive a experiência de já ter um Mixpanel a minha disposição e de apenas ter que subir os eventos dos quais ainda não foram mapeados, e eu que sou uma fissurada por análise me senti nas nuvens! Porém, já passei por experiências que eu tive que construir as principais métricas junto a um time especialista, foi mais moroso, mas valeu muito a pena!

E pasme o lugar que melhor me fez pensar e ensinou sobre a importância da análise de dados até hoje não foi em nenhuma tech e sim no varejo comparando venda ano a ano, e correndo atrás de relacionar fatores que explicavam os comportamentos de venda do ano corrente. (E isso era feito no excel… quem aí é a galera do procv? Ainda bem que evoluímos rs).

Quando temos bem definidas as métricas mais relevantes pro negócio que se tangibilizam por intermédio do produto é mais fácil ter clareza de prioridade. É um caminho sem volta.

6) Respire e cobre-se menos compreenda que existe uma complexidade na atuação e o tempo de aprendizagem é necessário.

Olhando para minha experiência, e pegando os sentimentos e expressões de quem conheço que passou pelo mesmo momento de transição vejo que é muito mais a ansiedade de sair respondendo ‘como resolver todos os problemas do mundo’ que faz com que nós aumentemos as cobranças no início da atuação. Esse comportamento é super perigoso porque pode desencadear aquela vozinha recorrente de síndrome do impostor, aumentar o nível de ansiedade e não te fazer ocupar o lugar que você merece nesse desafio.

Alinhar as expectativas do início da atuação com o gestor direto também apoia para ter mais tranquilidade em se dar espaço para aprender, mas vejo que é um fator mais interno do que muitas vezes algo desalinhado com a gestão. Trabalhar essa ansiedade é super importante!

Lembre se que você pode estar sentando pela primeira vez na cadeira de product manager, mas você tem uma história e vivências que também exigiram de você uma série de comportamentos que são valiosos justamente nessa posição. Você não é 100% cru, valorize seu repertório e trabalhe nos aspectos que você tem de BOM, a experiência vem com tempo.

De resto é respirar, e aproveitar a jornada de aprendizado!

Aqui para finalizar um agradecimento especial a squad que me recebeu com todo coração e apoio para que minha atuação fosse de fato uma jornada muito bem aproveitada: Allex, Bruna, Talita. Jeam, Wallace, Tharissa, Guilherme, Iago e Jussara muito obrigada por serem um baita time de Je-DAIs. ❤

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Victoria Drapala
Mulheres de Produto

curiosa nata, apaixonada pelo universo do varejo de moda e trabalhando em Gestão de Produtos, divido um pouco sobre meus aprendizados profissionais e pessoais