Virei gerente, e agora? 🤔

Kete Martins Rufino
Mulheres de Produto
7 min readJun 30, 2020

Oie gente, quero contar para vocês um pouco da minha transição para o cargo de Tech Manager. Para isso, acredito que seja importante contar um pouquinho da minha trajetória. Prometo que será rapidinho!

Nuvens ao fundo. Uma mão que segura um tablet que tem no visor um foguete e um botão "Start" que está sendo tocado.
Vector de Negocios creado por freepik

Primeiro contato

Entrei para o mundo da tecnologia em 2006 quando comecei o curso de Sistemas de Informação em Fortaleza-CE. Minha primeira experiência profissional relevante, veio em 2009, um estágio na empresa onde eu trabalharia pelo próximos anos. Nesse período, tive oportunidade de passar pelas áreas de desenvolvimento em backend, mobile, Business Intelligence, relatórios e frontend. Nessa última área, eu acabei me tornando líder técnica de um time de 6 pessoas que, na época, mantinha 2 produtos, uma mega aplicação web e um app híbrido.

Esse foi meu primeiro contato com a tal da Liderança. Com ele eu aprendi sobre alguns pontos e vou listar os que considero mais relevantes:

  • Distribuição de tarefas: Eu precisava garantir que tudo o que o time prometeu entregar, fosse entregue e com qualidade.
  • Compartilhamento de conhecimento: pessoas entraram e saíram do time e eu precisava garantir que quem saísse, não levasse todo o conhecimento consigo e quem chegasse, conseguisse ser produtivo.
  • Suporte a operação: o sistema era complexo e já tinha 5 anos, então era comum precisarmos dar suporte para o time de operação.

No entanto, apesar de todo o aprendizado, eu não considero essa experiência super boa. Eu era muito explosiva (beeeem mais que hoje), controladora, tinha um nível baixo de auto conhecimento e confiança. Isso fazia com que fosse bem difícil, para mim, lidar com conflitos e situações difíceis que envolvessem pessoas. Eu lidava super bem com problemas técnicos no sistema , mas quando envolvia comunicação…😅.

Apesar de tudo bom e ruim que vivenciei nesse período, hoje vejo que um detalhe importante me impediu de evoluir como líder: Eu não tinha uma rede de apoio e não enxergava a área como uma carreira.

Segunda chance: o que mudou?

Em 2018, iniciei uma nova etapa na minha vida profissional em uma outra empresa. Fui contratada como engenheira (contribuidora inidividual) e lembro de me perguntarem durante o processo seletivo se eu tinha interesse em cargos de liderança e eu ter respondido com um enfático "não! prefiro ficar na track técnica".

No entanto, um ano e dois meses depois que entrei na empresa, quando me perguntaram novamente, eu aceitei o cargo de Tech Manager (TM). E é aqui que eu gostaria de ressaltar alguns pontos.

Rede de apoio e mentoria

Aceitei a função por um motivo bem simples: eu teria ajuda. Nessa empresa, todo mundo tem uma relação bem próxima com seus gestores. A função/role/o cargo de TM é responsável por fazer as pessoas evoluirem como profissionais. Ou seja, meu gestor iria me mentorar, me dar material para crescer e me ajudar a ser uma líder melhor.

Duas pessoas se cumprimentando com as mãos fechadas em punho representando parceria
imagem desta pagina

O meu líder era muito bom! Além de mim ele iniciou a formação de mais duas pessoas no time e uma vez por semana tínhamos uma reunião com ele onde discutíamos uma situação difícil que aconteceu. Ele perguntava primeiro qual a nossa visão sobre o assunto e depois dava a visão dele. Era incrível como ele tinha uma visão mais ampla. Ele também sempre me incentivou a pensar na minha carreira além da empresa. Isso foi muito importante para mim, pois passei a pensar na minha carreira não somente dentro do time ou da empresa atual. Carreira é uma coisa pra vida, gente. =)

Errar é humano/só erra quem tenta e outros clichês

Meu líder também ficava no meu pé sempre que eu procrastinava uma conversa difícil com alguém (lembram que eu comentei que isso era um ponto a ser exercitado?). Devo mencionar também que várias vezes não conduzi super bem a conversa difícil e ele precisou fazer uma ponte entre eu e a pessoa para “consertar” as coisas. Ouvi várias vezes “Você é a líder do time. Se é essa sua decisão, eu vou te apoiar. Nós dois juntos vamos ter que lidar com as consequências, boas ou ruins”.

Eu tive chances reais de errar. Isso foi importante para mim e é importante para meu time. Quando se trata de liderança, falamos de pessoas. Não dá pra fazer teste unitário aqui. O que funciona para uma pessoa, não funciona para outra. O que funciona com uma pessoa uma vez, pode não funcionar em outro dia quando ela está com um humor diferente. A comunicação com a equipe de desenvolvimento, a de produto e a galera do alto escalão da empresa precisam ser diferentes.

Quanto mais situações você vivenciar, melhor. Você vai errar e é importante ficar confortável com isso. O negócio é aprender e crescer com cada erro antes de partir para o próximo. Há muita literatura que pode ajudar muito, mas é difícil você saber exatamente como vai reagir diante de uma frase, uma queixa ou um questionamento específico.

Aceitar não saber tudo

Outro ponto importante é que ao mesmo tempo que eu tentava aprender a me comunicar bem com diferentes perfis, como criar oportunidades para desenvolver pessoas, como contratar pessoas, como recebê-las no time e mais um monte de coisas, eu ficava angustiada sobre estar ficando cada vez mais distante e desatualizada da parte técnica. Dando um pouco de contexto: o mundo do frontend é emocionante, dormiu tá desatualizada. Como líder, eu precisava resolver várias coisas para que a equipe consiga fazer o que precisa fazer. Assim, eu ficava bem longe do dia a dia e ficava muito ansiosa por não estar acompanhando o time, que avançava a passos largos.

Estou aprendendo (é um processo que não acontece de um dia para outro) a não ficar me culpando por não saber que estamos usado o hooks do React em determinado componente ou que para fazer o deploy do projeto é preciso fazer configuração X na AWS. Quando eu precisar fazer uma tarefa, eu vou navegar pelo código e tenho um time maravilhoso que pode me ajudar a entender o que eu tiver dificuldade. Ler código, eu consigo muito bem.

Eu precisei aprender a ficar confortável com pessoas do meu time sabendo mais da parte técnica do que eu. Imagina se uma CTO de uma empresa conhece tudo do sistema? Não conhece, fica confortável com isso e é natural. Com o tempo, a arquitetura e o design do código evoluem e é natural que a medida que você vai crescendo na liderança, fique mais longe da execução. Eu estou bem longe desse nível ainda, mas foi olhando para que estava mais adiante da carreira que eu me senti um pouco melhor com essa questão.

Daí veio mais uma lição importante: como líder minha prioridade é o time. Ter contexto técnico me ajuda a responder perguntas para as outras lideranças, dar uma idéia de esforço quando é necessário e proteger o time quando chegam coisas de última hora. No entanto, a minha prioridade é fazer o time chegar o mais próximo de uma performance ótima possível. Isso envolve remover bloqueios, desenvolver pessoas, planejar sprints, quebrar tarefas e o que mais precisar.

Para muitas pessoas da engenharia, uma forma de se manter saudável mentalmente, é codar de vez em quando. E já ouvi muitas pessoas dizerem que não viram líderes porque não querem deixar de trabalhar diretamente com tecnologia. Aqui eu queria indicar a leitura desse artigo "THE ENGINEER/MANAGER PENDULUM". Há momentos na carreira em que é importante focar nas pessoas e há momentos em que é preciso focar na tecnologia. O que eu faço as vezes é "me atribuir" a alguma tarefa menor, com um escopo definido e que não seja time-sensitive para conseguir afiar meu machado técnico sem atrapalhar o time. Na empresa onde trabalho agora, existe um período do ano (performance cycle) em que todo mundo trabalha para medir a performance e definir o nível das pessoas. Nesse período, eu já aviso para mim mesma e para o time que esse vai ser o meu foco.

Tem outros tópicos que gostaria de comentar sobre o dia a dia da liderança em si, mas acredito que o artigo pode ficar muito longo. Assim, eu gostaria de ressaltar alguns pontos para quem está migrando para a área de liderança:

  • Tenha uma rede de apoio e, de preferência, alguma pessoa que possa te acolher e tirar suas dúvidas de perto (líder, mentora/mentor, coach).
  • Trabalhe para melhorar sempre sua comunicação. É a principal ferramenta de uma líder, e para mim, a mais difícil de refinar.
  • Auto conhecimento, empatia e intuição serão suas melhores amigas. Por mais difícil que seja confiar em coisas não tão concretas, elas apontam um caminho.
  • Se submeta a situações difíceis. É chato, desconfortável, dói, mas não fuja dos conflitos. Com o tempo vai ficando mais fácil.
  • Errar faz parte de qualquer aprendizado. O importante é aprender e lidar com os erros e se perdoar.
  • Fazer o pendulum na carreira ajuda. Não se afaste totalmente da parte técnica da sua formação, seja ela engenharia, produto, designer, etc, mesmo que a amplitude do movimento seja pequena.
  • Foque no que tem que focar em cada momento. Não se culpe por não conseguir segurar todos os pratos da vida. Ninguém consegue.

É isso. Liderança é como qualquer outra carreira. Exige estudos, treino e rede de apoio e eu estou me esforçando para melhorar cada dia mais.

Dúvidas e comentários, podem chamar. o/

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Kete Martins Rufino
Mulheres de Produto

Software Engineer, FrontEnd Developer, Student and a different person every day.