Carolina de Jesus é o nosso cânone

Encontro Viva, Carolina! reúne pesquisadoras e escritoras em comemoração aos 104 anos do nascimento da autora de Quarto de despejo.

Mulheres que Escrevem
Mulheres que Escrevem

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“Eu deixei o leito as 3 da manhã porque quando a gente perde o sono começa pensar nas miserias que nos rodeia. (…) Deixei o leito para escrever. Enquanto escrevo vou pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes de brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores de todas as qualidades. (…) É preciso criar este ambiente de fantasia, para esquecer que estou na favela.

Fiz o café e fui carregar agua. Olhei o céu, a estrela Dalva já estava no céu. Como é horrível pisar na lama.

As horas que sou feliz é quando estou residindo nos castelos imaginarios.”

Quarto de Despejo, 1960.

Para dar continuidade à série de encontros que iniciamos em 2017 — e que focavam, principalmente, na produção de mulheres relacionadas ao universo da escrita — iniciamos um novo ciclo com o intuito de, à nossa maneira, refazer o cânone e trazer à tona escritoras que marcaram nosso país, nossa literatura e até hoje marcam nossas vidas.

Assim, na noite de 14/03, na companhia de Ayana Dias, Raffaella Fernandez, Marcelle Leal e Lola Ferreira, na livraria Blooks, nosso primeiro encontro será dedicado à comemoração dos 104 anos do nascimento de Carolina Maria de Jesus, a “escritora favelada”, como ficou conhecida por ocasião da publicação de seu primeiro livro Quarto de despejo, em 1960. Quarto de despejo, relançado pela Editora Ática nos anos 2000, estava esgotado até recentemente, quando recebeu uma nova reimpressão e pode ser comprado aqui. Além deste livro, Carolina Maria de Jesus também ficou conhecida internacionalmente por seus diários, publicados primeiramente na França, e posteriormente no Brasil, com o nome de Diário de Bitita, com edição atual da SESI-SP e você pode comprar aqui.

Carolina, lembrada por escrever em cadernos e papéis recolhidos no lixão próximo à favela em que morava na zona norte de São Paulo, reuniu uma produção diversificada, incluindo romances, contos, crônicas, poesias e até canções, e vendeu mais de 1 milhão de exemplares só no Brasil. No entanto, é sintomático que um dos aspectos mais mencionados nos textos que tratam do trabalho da mineira seja tradução da sua obra para 14 línguas ou o sucesso que faz em solo norte-americano.

Viva, Carolina! reflete a nossa crença de que as palavras da escritora — que se recusava a ser “despejo” e a estar confinada a um quartinho — não devem também estar circunscritas a sebos e terras estrangeiras.

Nosso foco ao convidar as mulheres participantes da mesa era não apenas debater a obra de Carolina, mas também sua visibilidade e colocar em foco os reais motivos de seu constante apagamento e falta de notoriedade. Vamos conhecer as participantes da mesa?

Ayana Dias

Tem 30 anos, é mãe, carioca e mestranda em Literatura Brasileira (UFF). Formada em Artes Cênicas pela Martins Pena, é também professora de francês. Ama cozinhar, ler, escrever e ouvir música clássica.

Marcelle Leal

Mulher negra e feminista, é doutora em Ciência da Literatura pela UFRJ com a tese Poéticas da sombra: de projeções a sujeitos da literatura na qual examina não só a presença estética deste duplo no espaço literário, mas também a produção de sombras a partir do corpo canônico das letras brasileiras que, tradicionalmente, silencia e estereotipa o que escapa aos seus domínios, como a escrita das mulheres negras. É uma das coordenadoras do ciclo de atividades “Simone de Beauvoir e as possibilidades da escrita” e realiza investigações e palestras nas áreas de Literatura negro-brasileira e Estudos feministas.

Raffaella Fernandez

Doutora em Teoria e História da Literatura pela Unicamp. Pesquisa a obra de Carolina Maria de Jesus desde 1999, quando inicia sua entrada na academia no curso de Ciências Sociais na Unesp de Marília. Atualmente é pós-doutoranda no Programa Avançado de Cultura Contemporânea e professora na Universidade das Quebradas da UFRJ. Organizou os dois últimos livros de Carolina Maria de Jesus com textos inéditos da escritora “Onde estaes felicidade?”, lançado em 2014, e “Meu sonho é escrever”, que será lançado dia 18 de março na Galeria Olido em São Paulo, mais informações aqui.

Lola Ferreira

Nascida na Baixada Fluminense, é formada em Jornalismo pela PUC-Rio. Discute racismo e direitos humanos. Atualmente, é repórter da Gênero e Número, editora do site Cenas Lamentáveis e colabora com a Capitolina, revista adolescente online.

Para saber mais sobre o evento, horário, endereço, acesse o link do Facebook e confirme sua presença!

Viva, Carolina!

A Mulheres que Escrevem é uma iniciativa voltado para a escrita das mulheres, que visa debater não só questões da escrita, como visibilidade, abrir novos diálogos entre nós e criar um espaço seguro de conversa sobre os dilemas de sermos escritoras. Quer saber mais sobre a Mulheres que escrevem? Acesse esse link, conheça nossa iniciativa e descubra!

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