MQE na Terceira | Feira de publicações de poesia

Mulheres que Escrevem
Mulheres que Escrevem
4 min readFeb 6, 2018

No último fim de semana de janeiro (dias 26, 27 e 28), a Mulheres que Escrevem teve a oportunidade de participar da primeira edição da Terceira | feira de publicações de poesia que reuniu poetas, escritores, editoras e ilustradores em uma série de importantes debates e saraus. Ao lado de outras iniciativas e coletivos cariocas, pudemos participar da programação desse evento na produção de duas mesas e ficamos muito felizes com a experiência. Para refletir sobre a importância do evento, pedimos algumas palavras sobre o que aconteceu nesse fim de semana para Priscilla Menezes e Bruna Mitrano, que participaram na nossa mesa “Mulheres que escrevem e ilustram”, e para Natasha Félix, que participou do “Sarau das Mulheres”.

Priscilla Menezes

Gosto de pensar comunidade como o estar junto que ultrapassa o acúmulo das semelhanças e negocia com as manifestações do diverso. É a partir dessa noção que entendo a potência de eventos como a feira Terceira e de iniciativas como o projeto Mulheres que escrevem. São raros –e urgentes– locais onde é possível se fortalecer não só pela via da identificação, mas também pelo reconhecimento das diferenças. Por isso, fiquei muito alegre por ter tido a chance de participar da conversa “Mulheres que escrevem e ilustram”, pois pude me sentir pertencente, mas também convocada a me posicionar a partir da minha singularidade. Foi muito especial ter tido como interlocutoras Estela Rosa e Bruna Mitrano, mulheres inspiradoras que criam, inventam estratégias de circulação para suas produções e falam a partir de suas práticas e suas vivências. Acredito muito na importância de se produzir saberes conectados à prática, assim como acredito na relevância de se criar linhas de intercâmbio entre o espaço privado e a dimensão pública. Acho que esse trânsito é radicalmente político, especialmente dentro de uma conversa entre mulheres. Afinal, para nós, nem o espaço doméstico como local de cultivo de uma subjetividade criadora (ainda o teto todo seu de Woolf), nem o espaço público estão garantidos. Especificamente, o lugar público da mulher artista ainda está sendo criado e isso, como toda criação, é luta e experimentação. Só por isso já teria sido incrível participar dessa conversa, mas me senti especialmente alegre e grata por ter tido a chance me posicionar, em comunidade, justamente nessa margem que tanto me interessa: entre o desenho e a palavra, entre o íntimo e o público, entre o indizivelmente pessoal e aquilo só existe quando partilhado.

Bruna Mitrano

A Terceira | feira de publicações de poesia promoveu um encontro de múltiplas vozes. A meu ver, o ponto forte da feira foi o diálogo entre a poesia escrita e a poesia performance — uma verdadeira troca, num espaço acolhedor, com pessoas abertas ao ‘diferente’. Dividir a mesa “Mulheres que escrevem e ilustram” com a Priscilla Menezes foi, pra mim, uma experiência de grande aprendizado. A Priscilla falou sobre a relação escrita-desenho a partir de ideias que vem desenvolvendo em sua tese de doutorado. Eu falei da leitura imagética, de como comecei a ler sem ter contato com a escrita (texto textura), do isolamento e da violência. A Estela Rosa conduziu a conversa da melhor maneira impossível, com perguntas que não cederam ao lugar-comum. Depois da mesa, tivemos um sarau de mulheres com o Slam das Minas, a Natasha Felix e microfone aberto. Foi bonito demais ver a Natasha Felix de perto, ver a Julya Tavares lendo em público pela primeira vez, reencontrar a Letícia Brito, parceira de poesia&luta, e ver as mulheres do Slam que, confesso, sou fã. Voltei pra minha zona oeste (periferia da cidade) satisfeita e enormemente grata ao Mulheres que escrevem, esse movimento de pura potência, e a todos os organizadores e colaboradores do evento.

Natasha Félix

A impressão que tenho é que ouve-se muito pouco em espaços onde reunimos artistas, o que é uma questão espinhosa e delicada. Penso que eventos voltados à literatura devem filiar-se aos conflitos justamente por esse motivo. É pra isso que estamos aqui, afinal. A feira Terceira em especial se propôs a encarar essa bucha. Duas coisas me vêm à cabeça agora, pensando sobre. 1. existem zonas de conforto dentro dos ciclos de poesia; 2. essas zonas têm que estar sempre se movimentando e rompendo os próprios vícios. Tenho pra mim que é fundamental sempre questionarmos a estabilidade desses lugares. Porque a estabilidade não nos serve, ela não é inventiva. Participar do Sarau das Mulheres junto com o Slam das Minas RJ, nesse sentido, foi um exercício de escuta e fala. Tem muito de ver acontecerem vozes, gritos, falas, leituras diferentes e de exercer uma tarefa crucial pra quem se diz levar poesia a sério: não só contornar, mas viver os incômodos.

Agradecemos a presença de todas e todos que viveram com a gente esse fim de semana! Em breve vamos divulgar novos eventos, então não deixem de nos seguir por todas as redes sociais para não perder nenhuma novidade. Até logo!

A Mulheres que Escrevem é uma iniciativa voltada para a escrita das mulheres, que visa debater não só questões da escrita, como visibilidade, abrir novos diálogos entre nós e criar um espaço seguro de conversa sobre os dilemas de sermos escritoras. Quer saber mais sobre a Mulheres que escrevem? Acesse esse link, conheça nossa iniciativa e descubra!

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