Os figos
Poema vencedor do Prêmio Off-Flip de Poesia 2017
Sylvia Plath diz que é preciso
escolher um figo
Mas eu estranho
fico cabreira
Nunca soube escolher figos
Na minha época de pequena
havia a figueira centenária
da minha mãe
Bastava florescer e começava a guerra
A disputa, de início
era eu e minha mãe
verde e maduro
[Antes de madurarem figos viram compotas]
Por meus olhos úmidos
e pela glicose alta
minha mãe desistia dos figos
[Figos nunca foram uma questão de escolha]
E aí mais uma batalha
Os sanhaços
tão azuis, tão bonitos
me carregavam de culpa
Feito pequenas máquinas de devorar
eles escolhiam todos os figos
e eu qualquer figo maduro
Sem poder de escolha
eu defendia os sobreviventes
As armas eram
restos de tecido
retalhos costurados
bicos potentes
lanças na cara
No fim das contas,
as máquinas sempre vencem
e me restava só um figo
O que sobrava.
Então, Sylvia
nunca escolhi meu figo
minha escolha, silenciosa,
sempre foi desistir dos figos.
É que pra alguns, querida,
o que importa mesmo
é a batalha.
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