Quatro poemas de Natasha Felix

Mulheres que Escrevem
Mulheres que Escrevem
2 min readJul 13, 2017

O amante sai de férias

red light em amsterdã
quatro corpos na vitrine
inofensivos

não ilustram a avenida
mas o reflexo mínimo
nas pupilas de quem passa
desviando

pego em flagrante
na solidão
o volume na calça jeans
não é um convite.

você pode pensar em
quanto dinheiro ainda tem no banco,
em jogos de azar
na eterna punheta dos 13 anos.

já em mim
você não consegue
é inviável
pensar em mim agora.

meus peitos nos teus peitos
laura assumidamente
esparramada em mim
essa visão
da tribo inteira queimando
panos e as espinhas dos peixes
as crianças e cumbucas –
&
o fogo é o fogo.

Trinta e três

se colocasse a pedra de ágata
na goela do porco
antes ele gritaria
como não pude gritar.

com a cabeça pousada
nas pernas da avó
a saia de brocado
pinica a orelha
esquerda.

cantarola salmos e vai à caça
distraída.

o pente-fino é azul.
as varizes na panturrilha dela também.
os dias e a toalha de mesa.

o pente-fino
atravessa meus cabelos de diaba
as crianças dizem diaba
eu nunca digo.

um pouco amansados
(não o suficiente)
com álcool e cravos
nada
enquanto a avó ajeita os óculos,
procura bichos em mim.

a mesma que estoura as lêndeas
as unhas imensas.

como se vingasse
suspeito
o que não caberia na casa.

Natasha Felix é escritora, nascida em 1996, na cidade de Santos. Hoje mora em São Paulo. Tem poemas publicados em revistas físicas e digitais. Também lançou um zine tímido, em 2016, chamado “anemonímia”.

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