Fonte: Facebook Roberta Iannamico

Ritos por Roberta Iannamico

Estela Rosa
Mulheres que Escrevem

--

Publicado no blog La infancia del procedimiento e traduzido por Estela Rosa

Ritos (atuais, porque foram e irão mudando de acordo com as circunstâncias) conseguir um pouco de solidão. Hora da sesta, crianças dormindo ou na escola. Preferencialmente ao ar livre, a não ser que o clima esteja muuuito adverso. Nunca computador, caderninho de 24 para acabar logo, baratinho, para não ter nenhum respeito, e alguns livros como companheiros. Caneta porque é sempre difícil encontrar uma, e esse sair por aí procurando já é entrar na escrita. Mate ou chá. Geralmente mate, às vezes chá de camomila. Cigarrinho. Encontrar um lugar, entre plantas ou na calçada, só isso. Me sentar preferencialmente no chão. Silêncio. Olhar um pouco ao redor (natureza na minha atual circunstância, rua, humanos, se vivesse na cidade) e um pouco o meu estado como pessoa e anotar algumas coisas, se isso me deixar satisfeita, já foi, outro ninho, passarinho.

Escrevo melhor o que vai surgindo. Ainda que tenha um plano, a vontade transcende. E é o tema que está em tratamento e pelo qual se escreve, para “clarear” ou “estudar” ou “investigar” um tema do momento, ou de sempre, digamos “tratar” um tema. Escrevo qualquer besteira do momento para que se abrande a mão-cabeça e, se dou sorte, como na pesca, acaba saindo o tema que eu precisava. As leituras… sou preguiçosa, molenga para leitura, me custa o difícil, o extenso ou o que não me dá prazer, prazer. Ainda que às vezes fique um pouco estudiosa, dos temas universais. Sou preguiçosa com o extenso, por isso li poucos romances. Abandono livros, até os que eu adoro. Gosto de ler de dois em dois às vezes. Quando gosto de alguma coisa fico fanática, mas depois esqueço.

Nunca retomo os textos. Já não corrijo. Alguma vez fiz isso e acho que me arrependo. Escrevo um pouco de tudo e depois escolho os “apresentáveis” que parecem poemas, mas sempre duvido se não era melhor o que ficou no caderninho.

A poesia me vem em forma de palavras diretamente. Acho que de palavras sonoras que guardam um sentido. Como diziam os hindus, som visível ou imagem audível, não sei. A poesia me ajuda a pensar, a aprender, também me acompanha e me diverte, é a parte de mim que se expressa comigo mesma, às vezes é boba e vaidosa, ou trágica e obscura, às vezes estudiosa do mundo e essa é a que encorajo, quero que me ajude a ser uma boa pessoa, que me aproxime do amor. Às vezes acho que estou pedindo demais, que deveria ser mais humilde em relação à poesia, como sou com outras atividades como cozinhar ou qualquer outra atividade que pratico. O que de fato eu gosto e me faz sentir bem ao escrever.

Roberta Iannamico (Bahía Blanca, 1972) é poeta, narradora, música e pedagoga residente em Villa Ventana, Provincia de Buenos Aires. É coordenadora de cursos literários para crianças. Seu trabalho como escritora, ativista, bibliotecária e docente em escolas públicas vem sendo intenso e reconhecido. É considerada uma referência quando se fala do movimento poético argentino surgido nos anos 90. Atualmente codirige a editorial Maravilla, a qual pertence a coleção de literatura infantil Los Libros del Lagarto Obrero.

Essas traduções foram publicados na iniciativa Mulheres que Escrevem. Somos um projeto voltado para a escrita das mulheres, que visa debater não só questões da escrita, como dar visibilidade, abrir novos diálogos entre nós e criar um espaço seguro de conversa sobre os dilemas de sermos escritoras. Quer saber mais sobre a Mulheres que escrevem? Acesse esse link, conheça nossa iniciativa e descubra!

Siga também nossas outras redes sociais: Facebook | Instagram |Twitter

--

--

Estela Rosa
Mulheres que Escrevem

Poeta e caipira, curadora da Mulheres que escrevem. Mestranda em Literatura-UFRJ e autora de Um rojão atado à memória (7 Letras) e Cine Studio 33 (Macondo).