Três poemas de Ana Carolina Assis

Mulheres que Escrevem
Mulheres que Escrevem
2 min readMar 21, 2017

permanecem estáticas as pontes do boassú
as pontes da boa vista
tivéssemos dinheiro vontade
compraríamos pão

mas essa casa de velhos
tão próxima ao campinho
onde torcidas formigas
vibravam milhões

essa casa aos olhos
congela mangue
manga e tijolos

houvesse gana cimento
pegaríamos a br 101

olho de boi

meu cheiro ocre aponta
a espessura da carne
maior que a tua

se não tomasse o nome do meu olho a planta
teu feitiço não funcionaria

tua corda prende a primeira hora
e retira da carne minha
o trato das tuas crianças

se não tomasse o nome do meu olho a planta
teu feitiço não funcionaria

trato tua terra com patas largas
que me dão caroços
e fruto à tua burocracia

se não tomasse o nome do meu olho a planta
teu feitiço não funcionaria

a garça

estrangeira parque d’água

equilibra-se

na madeira arcada

de mangas

tece

de curva e pescoço

o ninho estranho

atrás da casa toda

água é lama

e a deusa

branca

torna-se galho

pelos calcanhares

o pássaro olha

a criança que rasga coxas

caule acima

atrás de rasgar a pele da fruta

depois de seis meses de espera

os bichos se encaram

o pássaro firma, cúmplice

sabem

que é papel dos velhos

cochilar durante os furtos

Ana Carolina Assis é poeta e educadora. Mora em São Gonçalo desde que nasceu, em 1991, e ainda investiga esse trânsito mato-asfalto ao ir pro Rio. Cursa o mestrado na UFF, pesquisando poesia, corpo e esquizofrenia em Adília Lopes e Stela do Patrocínio. Tem poemas publicados na Revista Garupa. Constrói a muitas mãos a Oficina Experimental de Poesia desde 2015 e esse ano publicou com el_s o Almanaque Rebolado (2017, Açougue, Cozinha Experimental e Garupa).

--

--