Três poemas de Ana Carolina Assis
permanecem estáticas as pontes do boassú
as pontes da boa vista
tivéssemos dinheiro vontade
compraríamos pão
mas essa casa de velhos
tão próxima ao campinho
onde torcidas formigas
vibravam milhões
essa casa aos olhos
congela mangue
manga e tijolos
houvesse gana cimento
pegaríamos a br 101
olho de boi
meu cheiro ocre aponta
a espessura da carne
maior que a tua
se não tomasse o nome do meu olho a planta
teu feitiço não funcionaria
tua corda prende a primeira hora
e retira da carne minha
o trato das tuas crianças
se não tomasse o nome do meu olho a planta
teu feitiço não funcionaria
trato tua terra com patas largas
que me dão caroços
e fruto à tua burocracia
se não tomasse o nome do meu olho a planta
teu feitiço não funcionaria
a garça
estrangeira parque d’água
equilibra-se
na madeira arcada
de mangas
tece
de curva e pescoço
o ninho estranho
atrás da casa toda
água é lama
e a deusa
branca
torna-se galho
pelos calcanhares
o pássaro olha
a criança que rasga coxas
caule acima
atrás de rasgar a pele da fruta
depois de seis meses de espera
os bichos se encaram
o pássaro firma, cúmplice
sabem
que é papel dos velhos
cochilar durante os furtos
Ana Carolina Assis é poeta e educadora. Mora em São Gonçalo desde que nasceu, em 1991, e ainda investiga esse trânsito mato-asfalto ao ir pro Rio. Cursa o mestrado na UFF, pesquisando poesia, corpo e esquizofrenia em Adília Lopes e Stela do Patrocínio. Tem poemas publicados na Revista Garupa. Constrói a muitas mãos a Oficina Experimental de Poesia desde 2015 e esse ano publicou com el_s o Almanaque Rebolado (2017, Açougue, Cozinha Experimental e Garupa).