A casa alquímica e as fadas-plantas
Há muitas histórias tecendo a memória da Casa Alquímica. Ela começou como um processo de autocura e foi se tornando a minha própria vida. Ela sou eu e eu sou ela. Nós entramos em osmose. Ela sempre viveu em mim. Minha infância foi brincar com as plantas da minha mãe, conversar com as samambaias, misturar suquinho de planta com água de pedras, sucos, cola, tinta guache e purpurina. Eu brincava no quintal dizendo que tinha uma loja de perfumes e o porão do papai era o meu esconderijo de alquimista. Lá tinha um pouco de tudo e passava horas naquele local húmido e escuro criando poções, timbrando papéis com minhas ceras imagináveis. Os potes de azeitona e de geléia viraram vasos alquímicos e quanto mais colorido, melhor! Era divertido cheirar aquele monte de cor. Eu gostava de brincar sozinha, solitária, as plantas já falavam o suficiente e o meu processo sensorial (que só aos 27 anos descobri se tratar de sinestesia neural) já criavam um mundo enorme para uma criança de ⅞ anos. Aos 12 anos, um tio torneiro mecânico fez meu primeiro sinete, bem rudimentar, e eu não tinha a cera para timbrar. Tentei várias vezes com cera de vela, mas não deu certo. Isso não foi empecilho, passava horas fantasiando que timbrava meus frascos de azeitona com suas poções mágicas no interior. O falcão mágico pousava no quintal e com seu elegante bico levava as alquimias para as fadas que estavam precisando. A fada da rosa precisava do frasco da camélia, a camomila precisava da jasmim e eu era a alquimista que servia a elas, que ajudava as fadas das plantas a manterem-se vivas e a não se perderem umas das outras. Havia também o ‘’Conselho das Samambaias”, era um dia muito importante e não tinha tempo certo. Só acontecia! Lembro que especialmente nesses dias eu arrancava vários galhos das samambaias da mamãe e ela ficava uma fera! Até que um dia eu disse para ela ‘’mãe, mas elas deixaram, não é para brincar, é coisa séria’’. Acho que mamãe entendeu porque ela nunca mais brigou. O conselho das samambaias perdurou por muito tempo. Lembro que no dia que fui tentar meu primeiro vestibular rolou o conselho, eu já não usava mais esse nome e nem arrancava mais as folhinhas, mas as conversas aconteciam. Eu passava por elas e ouvia os cochichos. Já contei para vocês que as samambaias cochicham? Hoje me dei conta que faço ‘’conselho das plantas’’ todos os dias! Acordo falando com elas, falo ‘’bom dia, Seu Tomilho, dormiu bem? Eu tb’’. Peço ajuda para a camomila, esfrego cenoura na cara quando vou comer uma, quando estou triste me lambuzo de manga para ficar toda amarelo-manga e um pouco mais feliz. As mangas são felizes, sabem!
Daí que hoje também percebo que, na verdade, as fadas das plantas são todas as mulheres com quem troco emails diariamente. As vezes, uma mulher mais canela me escreve e mando para ela uma poção de camomila. Uma rosa me escreve e envio uma gerânio. Bom, os correios são o meu falcão fantasioso, isso não é tão mágico, mas foi a forma que a matéria encontrou. O que percebo é que o mundo que criei na infância virou realidade, Casa Alquímica é um mundo fantástico, é fantasia, algo bonito para conseguirmos ver beleza no meio do caos a fim de não permitir que as fadas se percam de si mesmas e morram. Cada mulher que me escreve é uma fada e minha missão é lembrar para elas como são bonitas e importantes.
Manter o porão da Casa Alquímica funcionando não tem sido fácil, quantas vezes já tirei de mim para colocar nela? Eu preciso que ela continue porque quero acreditar que as fadas existem. Nesses 9 anos de Casa Alquímica e 34 anos de alquimista de fada recebi muita ajuda, encontrei muitas fadas. Tem tanta mulher nessa lista que vocês nem imaginam! É uma milícia de fada! Não vou citar ninguém, pois não quero correr o risco de esquecer alguma.
9 anos de amor de verdade, a galera fala muito de jovem empreendedor, economia sustentável, startup. A Casa Alquímica não é nada disso! Não é mesmo, ela é verdade, ela tem memória, cada trança dela e laçada na história de dezenas de mulheres. É algo muito especial que vai além de teorias classe média para ‘’xovens’’ que desejam empreender. Creio que o novo empreendimento do mundo precisa ser o coração, a autenticidade e a criatividade. Nesses 9 anos foram muitos plágios, muitas puxadas de tapete, muita imitação, muita gente desdenhando. Não importa o que falam ou que façam ou o que roubem, enquanto houver fadas das plantas, a Casa Alquímica vai existir ❤
Quer conhecer a Casa Alquímica? www.perfumebotanico.com.br / facebook.com/casalquimica/
Palmira Margarida é historiadora especialista em cheiros e emoções e ama pesquisar sobre aromas do corpo feminino. É sinesteta e come coisas só porque são amarelas, inclusive não-comestíveis. Ama viajar e captar os aromas das trilhas e das histórias dos lugares por onde passa. Cria aromas-artísticos e provocadores e você pode encontrar em www.perfumebotanico.com.br