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Mulheres “mais velhas”: qual o perfume ideal?

Palmira Margarida
Mulheres
Published in
3 min readJan 14, 2019

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Quando eu tinha 15 anos achava que as mulheres “mais velhas” tinham 90 anos. A minha avó era a minha mulher “mais velha”. Aos 35 anos, os olhares da sociedade me fizeram descobrir que eu já era uma mulher “mais velha”. Na verdade, aos 30 eu já tinha percebido que o coletivo que nos cerca já começava a me olhar meio enviesado. A sociedade pensa que mulheres “mais velhas” não têm mais serventia, não servem para casar, pois não procriam mais, a carne não tá mais “durinha”, também já estão cansadas e se nem sexualmente elas servem mais, dizem, imagina no trabalho ou nos estudos? Afinal, ELA já deu o que tinha que dar. Será? Vamos combinar que não podemos esperar muito dessa sociedade, então, amadas mulheres “mais velhas” só nos basta viver esse mulherão todo que somos.

A mulher começa a ser velha (e veja, SER velha e não a ficar velha) já cedo, desde criança. Tem criança menina com dez anos cuidando dos irmãos, tem criança menina aos treze engravidando e ouvindo que “já sabe o que está fazendo”. A bebê menina tem a orelhinha furada para usar um apetrecho de beleza. A criança menina estuprada “estava pedindo, ela tinha malícia”. O homem, porém, aos trinta anos faz coisa errada, mas ainda é “muito jovem” e se for branco, então, “nossa, ele só um menino, dá um desconto”. Hoje, meu pai disse para mim que um cara da minha idade “é só um garoto”. Mas e eu? O que eu sou? Eu sou uma mulher “mais velha”. Eu sou a bruxa sem a pele jovial, a velha, a feiticeira, a mulher madura. Depois dos 30, e essa condição vai se fortificando conforme o avançar da idade, a gente se torna a bruxa da Disney.

Mas espera aí! Há muita exuberância em uma mulher inteligente e experiente e, talvez, seja isso que apavore esses marmanjos que aceitam e se permitem serem crianças para sempre. Outro dia fiz um perfume para uma mulher de seus sessenta anos. Ela me disse “quero ter o direito de ter prazer, de me achar bonita, de me sentir mulher”. Ela deseja viver a graça que é ser mulher, mas mesmo sendo inteligente e racionalmente capaz, a sociedade a faz lembrar, todos os dias, que ela é uma mulher “mais velha”. É um desafio enorme ser mulher após os trinta ( e por aí vai) na sociedade e precisa de um trabalho de carinho e autocuidado diários. Inteligência, maturidade, vivência, conteúdo, um corpo cheio de expressões, desculpa sociedade doente, mas isso é pura exuberância!

Eu e a moça batizamos seu perfume de ELA. Então, minha amiga bruxa, apenas seja ELA! Seja essa bruxa maravilhosa e comprometida consigo mesma, viva essa mulher-bruxa que tanto já sabe da vida e que tem o direito de se sentir bela, dançante, mulher. Picasso uma vez disse que a mulher atinge seu ápice aos 17 anos. É para rir não é mesmo? Vamos combinar que com 17 anos a gente não sabia de nada e, particularmente, não troco minha exuberância de “mulher velha” por nenhuma pele com colágeno nessa Terra.

Minha sugestão é para você se comportar como uma “mulher velha” deve se comportar: vá à praia, dance e rebole, resgate as amigas, viaje, faça mochilão, fale um palavrão, se masturbe, beije na boca e seja feliz. Faça sessão netflix com as amigas e vejam Nanete tomando cerva gelada, enfie mais garrafa de vinho no carrinho da compra de mês e use óleo essencial de baunilha com ylang ylang para você querer se comer, se amar, se cuidar. Na verdade, borrife o melhor e mais exuberante perfume que você encontrar para ELA. Essa ELA maravilhosa é você e esse é o perfume ideal para a sua idade!

Palmira Margarida é escritora e historiadora especialista em cheiros e emoções. É sinesteta e come coisas só porque são amarelas, inclusive não-comestíveis. Ama viajar e captar os aromas das trilhas e das histórias dos lugares por onde passa. Cria aromas-artísticos e provocadores e você pode encontrar em www.perfumebotanico.com.br e narra suas pesquisas e experiências aqui nesse canal e no youtube Palmira Margarida.

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Palmira Margarida
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Historiadora, escreve sobre erotismo, cheiros e prazer feminino - @palmiramargaridabr / instagram